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‘Papai, te odeio’: a história de uma jovem argentina abusada sexualmente

De cada dez crianças abusadas sexualmente, quatro foram vítimas do próprio pai e três de seu padrasto. É o que revela uma pesquisa realizada no ano de 2011 pelo Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) e divulgada pela Agência Brasil

Por Débora Stevaux (colaboradora)
Atualizado em 12 abr 2024, 10h02 - Publicado em 8 abr 2016, 17h02

De cada dez crianças abusadas sexualmente, quatro foram vítimas do próprio pai e três de seu padrasto. É o que revela uma pesquisa realizada no ano de 2011 pelo Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) e divulgada pela Agência Brasil. Esta história angustiante marcada por traumas irreparáveis se assemelha com a de Micaela, uma argentina de 17 anos que reside em Buenos Aires: “Começou quando eu tinha mais ou menos quatro anos, como algo tão inocente como é um urso de pelúcia.”

Mas por mais doloroso e chocante que tenha sido o abuso sexual praticado pelo seu pai, a adolescente criou um blog e uma página no Facebook para bradar por justiça e alertar às crianças – principalmente seus familiares – sobre o assédio sexual de crianças e jovens. Por una infancia sin dolor, que em livre tradução para o português significa Por uma infância sem dor, há vários relatos fortes que podem despertar lembranças de algumas pessoas que infelizmente já passaram por isso alguma vez em suas vidas. “Ele tinha um gorila e uma ursinha de pelúcia, e me dizia que os dois eram noivos, e que me ensinaria a brincar. Joguei Chicho, o gorila, longe mil vezes, na esperança aquilo algum dia fosse acabar“, desabafa ela.

Reprodução/Arquivo Pessoal
Reprodução/Arquivo Pessoal ()

“Quanto mais você resistir, mais vai doer” – Meu pai abusava de mim. (Declraração escrita por Micaela em seu caderno e postada na página ‘Por una infancia sin dolor’.)

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Uma das postagens mais tristes e revoltantes certamente é o seu texto intitulado “Papai, te odeio“, em que ela confessa: “Pai, como você lê tudo o que publico, espero que também leia isso. Você e seu advogado merecem cair no mesmo inferno. Espero que nem hoje, nem nunca, você possa dormir em paz. Lembre-se da minha voz infantil pedindo que você me deixasse em paz. Espero que isso lhe tire o sono“.

Segundo o portal de notícias La Nación, tudo começou quando os funcionários da escola em que Micaela estudava passaram a notar traços de anormalidade em seu comportamento e a submeteram a uma avaliação psicopedagógica. Foi então que descobriram o assédio e ela e sua mãe deixaram a casa da família após denunciarem o pai. “Eu tenho um irmãozinho de sete anos, e minha mãe não trabalha, ela não quer que ele vá preso, suponho que para não perder o dinheiro que ele nos dá para a alimentação. Minha mãe soube dos abusos quando era tarde demais”, declarou a adolescente ao jornal argentino Crónica. Ao mesmo veículo, ela ainda completou dizendo que além dos estupros, seu pai a coagia a participar de alguns bate-papos pornográficos, há dez anos

Reprodução/Arquivo Pessoal
Reprodução/Arquivo Pessoal ()

Micaela se esquivando de seu pai em uma foto em família. Ángel, seu pai que está à direita no registro, ainda permanece livre.

Praticamente todas as suas publicações enfatizam a necessidade dos pequenos de jamais se calarem ou se culpabilizarem pelo abuso que sofreram: “Custou-me muito entender, mas nós não tivemos culpa, e a vergonha tem que ser do abusador, não nossa. Por isso mostro minha cara e digo a todos vocês, que caso saibam de algo, não olhem para o outro lado.” E finaliza deixando claro a função dos mais velhos que estão à volta das crianças de auxiliarem neste processo: “Para todos os adultos que me leem neste momento: todos conhecemos um menino ou uma menina, e é responsabilidade de todos fazer com que sua infância seja feliz e sem abusos“.

Em outubro de 2015, as mulheres brasileiras se uniram em torno do tema #PrimeiroAssédio, capitaneado pelo grotesco ataque sofrido por uma participante do MasterChef infantil – ela tem apenas 12 anos. A mobilização levou muitas delas a compartilhar em suas redes sociais casos semelhantes ou ainda mais graves, que deixam seqüelas profundas em suas vítimas. Algumas delas, porém, preferiram guardar suas histórias para si, por medo de ser identificadas por seus agressores.

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Naquele mesmo mês, CLAUDIA publicou a história de uma leitora que, 15 anos após um ataque sexual, ainda tem medo de ser encontrada. Não demorou para que outras mulheres nos procurassem. Em comum, o desejo de dividir seus traumas, medos e culpas. Especialistas apontam que falar sobre eles é uma das maneiras eficientes de superá-los. Por isso, criamos o movimento #TemQueFalar. Um espaço de cura, que incentiva a troca de experiências e, sobretudo, traz o assunto à tona, para evitar novas vítimas entre crianças e mulheres. 

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