O emocionante depoimento de Annabella Sciorra contra Harvey Weinstein
Chorando muito, a atriz relembrou a noite que Harvey Weinstein forçou a entrada em seu apartamento e a violentou
Annabella Sciorra testemunhou hoje (23) em Nova York no julgamento do produtor e predador sexual Harvey Weinstein. Em um depoimento onde não escondeu suas lágrimas, a atriz descreveu a noite em que foi violentada por Weinstein em seu apartamento, no inverno de 1993.
A atriz contou que estava com um grupo de até 9 pessoas em um jantar de negócios e aceitou quando Weinstein ofereceu uma carona até sua casa. Ela estava pronta para dormir (já de camisola) e ouviu alguém batendo na sua porta. Estranhou e ao abrir a porta para ver quem era, Weinstein forçou sua entrada no apartamento e se certificou de que ela estava sozinha.
“Então ele começou a desabotoar a camisa e eu percebi que ele entendeu que nós faríamos sexo”, ela relatou chorando. “Eu mandei que ele fosse embora e que nada iria acontecer, mas ele continuou a vir na minha direção e me imobilizou porque era muito maior que eu”, ela seguiu.
Ainda assim a atriz tentou resistir e conseguiu se desvencilhar, fugindo para o banheiro. Porém antes de conseguir entrar, o produtor a segurou pela camisola e subjugou. Nervosa, ela descreveu o estupro em detalhes para os jurados.
“Eu o soquei, chutei, mas ele segurou minhas mãos em cima da minha cabeça e me violentou”, ela contou soluçando. “Eu tentei lutar, mas não consegui mais porque ele travou meus braços”.
Em dos momentos mais emocionantes do testemunho, e ainda chorando muito, Sciorra lembrou que durante o estupro Weinstein disse que ela tinha “tinha bom timing“. Ele ainda forçou sexo oral nela dizendo “isso é para você”. “A essa altura já não tinha mais força para lutar”, disse ela que apenas repetia “não” para ele. A atriz descreve que tremia tanto após o estupro que achou que estivesse tendo uma convulsão. Weinstein foi embora enquanto ela ainda estava no chão.
“Não sei se desmaiei ou apaguei, mas acordei no chão, com minha camisola levantada sem saber se algo mais aconteceu depois de tudo isso”, ela testemunhou.
Sciorra é uma das três mulheres que acusam Weinstein de estupro e a primeira a testemunhar contra ele no julgamento que pode receber a sentença perpétua. Ela conheceu o produtor no início dos anos 90, quando estava ascendendo em Hollywood e Weinstein estava começando a sua produtora, a Miramax. Ela encaminhou para ele o roteiro que uma amiga escreveu e ele concordou em fazer o filme desde que Sciorra estrelasse. Para convencê-la, ele mandou presentes. O primeiro foi uma caixas de filmes e um pote de calmante (Valium), porque segundo ela “era um gesto para me ajudar a relaxar e não me estressar tanto porque ele queria que ela fizesse dois filmes seguidos um do outro”.
Em seguida, veio um presente que ela não gostou: uma caixa de bombons em formato de pênis. “Eu achei nojento e inapropriado”, ela contou.
Então veio a fatídica noite do estupro. A carreira de Sciorra, coincidentemente esfriou logo em seguida. Algumas atrizes sabiam do ocorrido, mas ela só se pronunciou em 2017, quando outras mulheres também denunciaram Harvey Weinstein.
“A atriz talentosa, segura emagreceu muito, ficou triste, perdeu a jovialidade e alegria e em determinado ponto passou a beber e ainda mais triste, se cortar”, descreveu a promotora Meghan Hast em seu pronunciamento de abertura. “Levou quase 25 anos para que ela pudesse enfrentar seu pesadelo e contar sua história”, disse.
Além de Annabella Sciorra, duas outras mulheres acusam Weinstein por estupro. O crime contra a atriz, no entanto, já prescreveu. A coragem de vir à frente do produtor e relembrar os detalhes do estupro foi para que seu testemunho ajude a convencer o júri da veracidade das acusações das outras mulheres. “Diferentes mulheres de lugares diferentes, décadas separadas umas das outras com o mesmo crime”, descreveu a promotora.
Annabella Sciorra recebeu o apoio de outras atrizes como Ellen Barkin, que fez questão de acompanhar o testemunho.
“Todo meu amor e força para você, minha amiga querida e guerreira”, ela tuitou. “A verdade vai prevalecer”.