Na capa de CLAUDIA, Luiza Brunet é a voz de todas as vítimas silenciosas da violência doméstica
No ano em que a Lei Maria da Penha completa 10 anos, as mulheres reconhecem na denúncia uma arma poderosa contra os seus agressores
“Meus olhos pareciam saltar das órbitas. Me faltou o ar. Pensei que ia morrer”, contou, emocionada, Tatiane Moreira Lima, juíza da Vara da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher do Fórum do Butantã, durante o debate Direito da Mulher, no mês passado, em São Paulo, do qual era painelista. Ela lembrava o dia 30 de março, quando um homem invadiu seu gabinete, aplicou-lhe uma gravata e ameaçou colocar fogo em seu corpo se não gravasse uma mensagem para a ex-mulher dele, garantindo sua inocência. Ele respondia, em liberdade, às acusações de agredir a própria esposa. Contido por policiais, foi autuado em flagrante por tentativa de homicídio. Uma semana depois, a juíza voltou ao trabalho. “O ataque me mostrou como as mulheres agredidas se sentem.”
Entre outros temas, o encontro, organizado pela Associação de Advogados de São Paulo (na foto abaixo), e que tive o prazer de mediar, celebrava os dez anos da promulgação da Lei Maria da Penha, considerada uma das três mais avançadas do mundo por reconhecer a situação de vulnerabilidade da mulher; por assumir que a violência doméstica é, sim, caso de polícia; e, enfim, por colocar em perspectiva o contexto histórico, que costumava legitimar a ideia de propriedade do homem sobre sua parceira – até 2005, por exemplo, a legislação ainda estabelecia um elo entre a prática de crimes sexuais e a honra e a “honestidade” da mulher. Desde 2006, no entanto, aumentaram as notícias de casos envolvendo a violência contra a mulher. Uma análise ligeira das estatísticas pode dar a falsa impressão de que ela não tem contribuído para diminuí-la. “Tremendo engano. Um de seus muitos méritos é estimular as vítimas a denunciar seus ofensores e trazer à tona uma situação que sempre existiu”, observou a jornalista Adriana Negreiros, que acompanhou o dia a dia de uma delegacia da mulher, em São Paulo.
Ao registrar a agressão por que passou e falar abertamente sobre o assunto em CLAUDIA, Luiza Brunet, capa de nossa edição de setembro, reforça a ideia de que a violência contra a mulher não escolhe idade, raça, religião ou classe social. Não foi essa a primeira vez que ela se viu às voltas com o tema. Em entrevista à editora Patrícia Zaidan, Brunet lembrou as inúmeras vezes em que testemunhou, em casa, numa infância desprovida de recursos, as surras que o pai desferia na mãe dela. Há quatro anos, foi escolhida embaixadora da matéria pelo Instituto Avon. CLAUDIA entende que, quando a modelo empresta sua imagem para a causa, dá visibilidade e aumenta o alcance dessa discussão. Ajuda outras mulheres a perceber que, independentemente de rusgas e dramas enfrentados por um casal, nada justifica uma agressão; que não são elas as responsáveis pela circunstância em que se encontram; e que não há vergonha em assumir-se vítima.
Até chegar à denúncia, uma mulher leva, em média, dez anos, numa série de enfrentamentos e conciliações. Quando joga luz sobre essa questão, como já vem fazendo ao longo de toda a sua história, CLAUDIA espera contribuir para romper esse ciclo. Está no silêncio da vítima a arma do agressor.