Os americanos Andrew e Sarah se conheceram em uma reunião na Casa Branca. Ela estagiava lá e ele estava representando uma ONG de direitos LGBT. Tanto Andrew quanto Sarah eram transgêneros. Mas, para além disso, os dois tinham muito em comum.
Dois meses depois de se conheceram, Andrew criou coragem para mandar uma mensagem para Sarah pelo Facebook. “Os amigos dele me contaram que ele reescreveu aquela mensagem um milhão de vezes”, contou ela ao Huffington Post. Depois do primeiro encontro, os dois não se desgrudaram mais. Em semanas, Andrew se juntou à família de Sarah em uma viagem de férias pelas Bahamas. Ela também foi apresentada rapidamente à família dele. Logo, foram morar juntos.
Após pouco mais de um ano, Andy, como ela o chama, recebeu a notícia de que estava com câncer na língua. Sarah sabia que os próximos meses seriam duros, mas manteve a esperança em alta, pois eles eram jovens e teriam a vida toda pela frente para planejar. Andy passou por uma cirurgia de mais de 12 horas. Recuperado, precisou fazer diversas terapias para reaprender a falar e a comer. Além disso, passou por sessões de quimioterapia e radioterapia. “Eu percebia que até respirar o fazia sentir uma dor fortíssima”, contou Sarah. Mas, em abril de 2014, os médicos disseram que Andrew estava livre do câncer. Animado, o casal retomou a normalidade da rotina.
Foram poucos meses de tranquilidade: “O mundo que ele tinha reconstruído após o primeiro diagnóstico foi destruído em julho de 2014, quando ele começou a ter uma persistente tosse e dor no peito. O câncer de Andy tinha voltado e se espalhado para os pulmões”, lembrou Sarah. Quando Andy recebeu a notícia, perguntou se Sarah se casaria com ele. Não era o pedido ideal, mas ele não queria perder a oportunidade de se casar com a mulher amada. Os médicos disseram que Andy teria um ano de vida e, por isso, eles marcaram o casamento para outubro.
“Nas duas semanas que seguiram, ele chorou muito. Por medo de morrer, porque ele não veria a família e os amigos crescendo na vida e porque ele não estaria por perto para me dizer que me amava e que estava orgulhoso de mim”, relatou Sarah. Mas, com o tempo, Andrew foi se tornando mais forte e a ideia do casamento o deixava determinado a sobreviver àquilo.
Um pouco antes de Andrew começar a quimioterapia, o casal recebeu a notícia de que talvez ele não sobrevivesse até o início do tratamento. Decidiram adiantar o casamento. Os amigos organizaram uma bela cerimônia em apenas cinco dias. A festa seria no rooftop do prédio em que Sarah e Andrew moravam. A essa altura, a dificuldade de Andrew para comer era tanta que uma taça de sorvete misturado com remédio podia tomar mais de 4 horas dele. Ele dormia a maior parte do dia e sentia que precisava cada vez mais de oxigênio. “Já não parecia que ele ia conseguir sobreviver duas semanas, muito menos 1 ano”, lembra Sarah.
No dia do casamento, 24 de agosto do ano passado, Andrew passou mal e desmaiou um pouco antes da cerimônia começar. Tivemos que chamar os paramédicos. Quando ele recobrou a consciência, olhou para Sarah e disse: “Você está brava comigo?”. “Claro que não, meu amor”, respondeu ela. “Mas você quer seguir com os planos do casamento?”. Ele respondeu que sim.
“Caminhei de braços dados com meu pai até o Andy, que estava sentado sob uma tenda branca. Ele estava visivelmente emocionado. Casar sempre foi um sonho dele“, contou Sarah. Ali, segundo ela, os dois só oficializaram para os outros o que era real para eles: eles fariam tudo um pelo outro para sempre.
Depois do casamento, o estado de saúde de Andrew se deteriorou muito rapidamente. No dia seguinte à festa, ele foi internado e não saiu mais do hospital. A família ficou junto do casal o tempo todo oferecendo apoio. Andrew não queria ser mantido vivo por aparelhos, ele já havia feito essa escolha. No dia 27, ele dormiu e não acordou mais. “Eu te amo”, ele disse a Sarah antes de fechar os olhos. No dia seguinte, cada um teve um momento a sós para se despedir. As enfermeiras haviam dito que era bom que todos dissessem ao Andrew que ele podia partir tranquilo. Sarah deu início ao processo e também foi a última a falar com o marido: “Você é muito amado”, disse. Em algumas horas, Andrew morreu.
“O mesmo grupo de amigos que organizou nosso casamento também se ofereceu para aprontar o funeral dele”, contou Sarah. Em seu depoimento, ela se diz agradecida, acima de tudo, por ter conhecido Andrew. “Ele me mostrou o que é viver plenamente”, concluiu.