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“Minha filha é um milagre”, diz mãe de bebê com microcefalia causada por zika

Bastidores do Prêmio CLAUDIA: o primeiro relato da paraibana cujo líquido amniótico ajudou a desvendar a relação entre o vírus e as malformações. Ela conta com detalhes como foi todas as etapas da gravidez ao pós-parto.

Por Giuliana Bergamo (colaboradora)
Atualizado em 22 out 2016, 17h05 - Publicado em 19 ago 2016, 07h39

Eu admiro médicos. Mas, com frequência, tenho pena do quanto precisam recorrer à frieza para dar conta da própria impotência. “É melhor que não nasça”, disse um especialista em medicina fetal israelense depois de avaliar os exames de Maria da Conceição Alcântara Oliveira Matias, então grávida de um bebê com malformações no cérebro. 

Na ocasião, ela e Géssica Eduardo dos Santos, também esperando um filho com problemas graves de desenvolvimento fetal, tinham acabado de entregar amostras de líquido amniótico para checar, em laboratório, a presença do vírus zika em seus ventres. Graças ao teste, foi possível comprovar a relação entre a doença e a microcefalia em bebês (o exame só foi realizado pela insistência da médica Adriana Melo, finalista da categoria Ciência, do Prêmio CLAUDIA, e responsável pelo pré-natal de Géssica e Conceição). Para realizar testes de imagem mais acurados, as duas viajaram do sertão da Paraíba, onde vivem, até São Paulo. 

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Três meses depois da viagem e da comprovação, as crianças nasceram. João Guilherme, filho de Géssica, morreu poucas horas depois. Por alguns minutos, a mãe embalou e acariciou o filho morto em seu colo, ainda na UTI neonatal. Antes de entregá-lo novamente às médicas, fez um pedido: que seu bebê ajudasse a solucionar dúvidas sobre a microcefalia por zika congênita, o nome dado à condição que, há cerca de um ano, vem apavorando as grávidas brasileiras. E, assim, consentiu que o corpo da criança fosse usado para pesquisas. 

Catarina Maria, a filhinha de Conceição, também tem colaborado para a ciência. Mas em vida. A menina nasceu horas depois do óbito de João Guilherme. Contrariando todos os prognósticos, veio ao mundo por vias normais, em um parto longo e doloroso. Chorou ao nascer e, em seguida, foi para o quarto, com a mãe, sem a necessidade de ficar na UTI. Aos 4 meses, quando a conheci em sua casa, em Juazeirinho, na Paraíba, era firme, sorridente e cheirosinha como qualquer outro bebê bem cuidado em sua idade. “Minha filha foi esperada com muito amor”, diz Conceição. 

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Confira a seguir trechos do primeiro depoimento que a paraibana dá a um órgão de imprensa brasileiro:

Planos de gravidez

“Demorei um ano para engravidar. Foi tudo muito planejado. No último dia do mês de maio (de 2015), eu fiz o teste de farmácia. Deu positivo. Em seguida, fiz o teste de sangue e também deu positivo. Mas eu só contei para a família depois do teste de sangue, mesmo. A gente queria dar a notícia de forma muito descontraída. Fizemos cartões… Ela é a primeira neta da minha mãe e da mãe de Mario (marido de Conceição).”

Os cuidados

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“A gente mora aqui no interior, mas vai muito a João Pessoa. Gostamos muito de camarão, de frutos do mar e eu sempre tomei todos os cuidados que se precisa ter para não pegar uma infecção. Eu deixei de viajar, de comer frutos do mar, de ir ao japonês. Então não tinha um porquê. Eu não saía, eu fazia repouso. Quando tive zika, fiquei em repouso porque tinha medo. Eu não comia nem salada fora de casa. Era muita precaução.” 

Zika

“Eu estava com sete semanas. Foi em pleno São João. Os sintomas começaram em um sábado. Comecei sentindo dor no corpo e dor de cabeça, um cansaço muito forte. Na segunda, eu fui trabalhar e as pessoas começaram a dizer que eu estava muito vermelha. Então eu fui ao posto de saúde e o médico fez um teste para descartar a dengue. E descartou. Então ele disse: “Provavelmente ‘’ zika”. Naquela época, quando não era dengue, era zika. Aí vim para casa e fiquei uma semana de repouso.”

A notícia

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“No primeiro e no segundo ultrassons, estava tudo normal. O terceiro, com 22 semanas, é que deu alteração. Ninguém sabia ao certo o que era. Imagine: eu ia para o exame preocupada em saber se ela tinha todos os dedinhos. Foi isso o que eu perguntei! Hoje quando a gente pensa… Ela poderia ter quatro dedinhos que seria uma coisa mais simples do que a microcefalia! Aí, quando a Dra. Adriana falou… eu comecei a chorar. Ela disse que tinha uma alteração e já foi um baque para mim. Porque minha filha tinha tudo para ser normal. Tudo o que eu podia fazer para ela ser normal, eu fiz. Eu tinha medo do que poderia vir. A gente repetiu o exame com vinte a 30 dias. E a situação só foi piorando. Foram surgindo outras alterações. Chorei durante um mês inteiro.”

A suspeita 

“Na sexta-feira, um dia antes da Dra. Adriana levantar a suspeita, eu perguntei a meu obstetra se tinha alguma relação com a zika. Ele falou que a zika era uma doença nova. Na segunda, eu fui fazer o ultrassom com a Dra. Adriana. Em seguida, vim para casa e, quando cheguei, ela me ligou perguntando se eu tinha tido algum sintoma de zika porque muita gente em Pernambuco estava tendo esses casos e a única relação era a zika. E eu disse que sim. E ela respondeu que queria ir mais a fundo. E começou a nossa correria.”

A comprovação

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“Colhemos o líquido amniótico em uma quarta-feira e enviamos para a Fiocruz, no Rio de Janeiro. Em seguida, a Dra. Adriana foi para um congresso em São Paulo. Na sexta à tarde (13/11/2015), eu estava descansando um pouquinho e ela ligou dizendo que, se eu quisesse, poderia ir a São Paulo para fazer exames de tomografia e ressonância magnética que seriam avaliados pelos médicos do congresso. Era para viajar no outro dia de manhã. E eu já estava com 7 meses de gravidez. Fiquei com medo, mas fui. Lá ouvimos coisas bem chocantes. O médico israelense disse que o caso era muito sério e, se minha filha nascesse, seria uma criança vegetativa. Ele não disse “aborte”, mas disse “é melhor que não nasça”. Hoje eu olho para ela e lembro das palavras. Já pensou? Porque, lá em Israel, tem que ser o normal, perfeito. Caso contrário, abortam já com dez semanas. Foi o que explicaram. Para ele era muito normal. Quando voltamos da viagem, a Dra. Adriana mandou para mim o resultado por e-mail dizendo que tinham encontrado zika no exame.”

O parto

“Eu queria um parto normal. No fim de janeiro, já no fim da gravidez, parei de trabalhar. Eu estava com 40 semanas e nada… Eu tinha dilatação e não sentia nada. Mas o líquido amniótico estava diminuindo, então tivemos que induzir o parto. Na quinta eu entrei no hospital e às 5h21 da sexta-feira ela nasceu, por parto normal. Nasceu em clima de carnaval. Dizem que o parto sem indução é melhor. O meu foi induzido, então… Às 18h, o médico introduziu o comprimido (para acelerar as contrações), mas eu não sentia nada. Fiz exercícios na bola e nada… À meia-noite, ele colocou ocitocina na veia. A dor veio imediatamente. Aí foi só festa. Não dava tempo nem de eu sentar, já vinha outra dor. E minha mãe dizia: “As dores piores ainda vão vir.” Minha mãe teve 5 partos normais. Eu estava quase apelando por cesária. Quando Catarina nasceu, não teve nenhum problema. Não nasceu roxa, chorou como todo bebê. Quando a colocaram pertinho de mim, eu só agradeci a Deus.”

Prognóstico

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“Não tem como dar prognóstico até 2 anos porque microcefalia relacionada à zika é algo novo. Como eu sou fisioterapeuta, já tive dois pacientes com microcefalia. Um deles, tinha 7 anos, e nunca andou. Ele compreende, mas tem dificuldade para falar. Aos poucos, entendemos. Mas as articulações são comprometidas, ele é todo durinho, anda de cadeira de rodas, usa órteses, enfim… O outro paciente eu comecei a atender quando ele tinha 15 dias. Quando parei, ele tinha uns 2 ou 3 anos. Era muito feliz, conversava, do jeito dele, entendia o que dizim, mas não andava também. A Dra. Adriana diz que a Catarina tinha tudo para estar bem pior, mas está ótima. Já fomos para otorrino, oftalmo. E vai tudo bem. Ela tem hipermetropia, mas isso é comum em bebês desta idade e, na minha família, muita gente tem o problema. Ela faz acompanhamento com fonoaudióloga e eu faço fisioterapia nela todos os dias. Faço flexão e extensão de perna e pé, coloco ela na bola. A Dra. Adriana fala que ela é desse jeito porque é estimulada. Por tudo o que a gente escutou, tudo o que a gente passou… Ela é normal. Chora quando quer comer e quando quer dormir.” 

“As igrejas da região entraram em verdadeira oração por Catarina Maria. Soledad, Campina, João Pessoa. Padre Antônio Maria mandou mensagem de força para a gente por whatsapp. Quando ela nasceu, foi muito bem visitada. Acho que é por causa da curiosidade também. O quarto dela é cheio de santo, tudo de promessa. Todas as igrejas se levantaram em oração. Ela foi esperada com muito amor e todo mundo sabe que ela é um milagre.”

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