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“Meu pai matou minha mãe, em nossa casa, a tiros”

Aluna conta como o projeto Mulheres Inspiradoras, da professora Gina Vieira Ponte, candidata ao Prêmio CLAUDIA, a ajudou a transformar sua realidade*

Por Carolina Scatolino
28 jun 2017, 20h39
 (ThinkStock/ThinkStock)
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“Eu tinha 8 anos e era um domingo de Dia das Crianças. Na igreja evangélica que eu frequentava, faríamos uma apresentação de música e coral. Insisti para que minha mãe me acompanhasse. Queria que ela estivesse na plateia, mas já era noite e ela estava cansada demais.

Despedi-me chorando. Assim segui até a igreja e permaneci durante todo o evento. Acho que crianças são sensitivas, eu pressentia que algo ruim estava para acontecer.

Aquela foi a última vez em que vi minha mãe viva. Quando a apresentação acabou, eu e meu irmão mais novo fomos para a casa da moça que costumava cuidar de nós. Só depois soube detalhes do que acontecera. Meu pai matou minha mãe, em nossa casa, a tiros. Em seguida, fugiu.

Meu tio materno, que estava em outro quarto, só percebeu o que havia acontecido quando encontrou a irmã no chão já nos últimos suspiros. Chamou a ambulância, mas de nada adiantou. Ela morreu ali mesmo. Em desespero, meu pai fez menção de mirar a arma no cunhado.

Desistiu quando os vizinhos começaram a gritar. Ainda assim, atirou contra si, mas a bala pegou de raspão. A polícia chegou e ele foi preso em flagrante.

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A partir de então, fui criada por meus avós e minha tia maternos e, todos os dias, agradeço a Deus por tê-los em minha vida.

Em 2015, fui uma das alunas da professora Gina Vieira Ponte, participantes do Projeto Mulheres Inspiradoras. Nas aulas dela, tivemos a oportunidade de conhecer e estudar a história de vida de mulheres fortes e que serviram de inspiração para nós.

O meu grupo trabalhou com a biografia de Maria da Penha. Eu conhecia um pouco da história dela, mas não tudo. Na escola, soube então sobre seu sofrimento e luta. Descobri como Penha é uma mulher de pulso e que tem uma força quase que sobrenatural.

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Imagine: de sua tragédia surgiu a lei que protege as mulheres contra violência doméstica! [Nota da redação: Em 1983, a farmacêutica ficou paraplégica depois de levar um tiro do marido, enquanto dormia. Sua luta para colocar o agressor na prisão inspirou a lei que leva seu nome e protege as mulheres contra a violência doméstica.]

O projeto e o desejo de ser como a Penha, aliados à minha religião e à minha própria força, deram início a uma grande mudança dentro de mim. Ao conhecer a história de outras mulheres tão fortes, percebi que eu devo ser meu próprio exemplo, eu tenho que ser o mais próximo do que cobro das pessoas.

Penso em minha mãe tão jovem e lembro da mulher forte que ela foi. Essa é minha inspiração! Agora, já mais madura, entrei em um processo de perdão de meu pai. Nunca perguntei por que ele fez o que fez. Isso me entristece, então não quero saber. Ele foi um marido ruim, mas um bom pai.

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No ano que vem, vou me casar. Estou construindo uma nova vida, não quero levar mágoas. O processo de reaproximação tem sido árduo e lento, mas tem me feito muito bem. Penso que a minha história não tem que ser triste. Ela pode, sim, ter um final feliz. Eu mudo minha história e a de outras pessoas também.”

* Náthaly Maria Rodrigues da Silva, 17 anos, em depoimento a Carolina Scatolino

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