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Lynsey Addario: “Trabalho em lugares em que o estupro é uma arma de guerra”

Especializada em conflitos, a fotojornalista Lynsey Addario foi sequestrada por radicais islâmicos. Nem isso a fez desistir de trabalhar como correspondente de guerra. Sua história sai agora em livro e, em breve, em um filme dirigido por Steven Spielberg e estrelado por Jennifer Lawrence

Por Luara Calvi Anic
Atualizado em 27 out 2016, 22h23 - Publicado em 18 abr 2016, 15h31

Síria, Iraque, Sudão, Congo, Líbano… Desde 2000, a fotojornalista Lynsey Addario vive entre zonas de conflito – regiões em que a morte parece mais próxima. Mas o grande medo da americana não é esse. “Trabalho com frequência em lugares em que o estupro é uma arma de guerra muito comum. Essa é sempre uma ameaça”, disse a CLAUDIA por telefone. Lynsey colabora com The New York Times, National Geographic e Time. Em 2009, foi premiada, com uma equipe de fotógrafos, com o Pulitzer de reportagem internacional. Ela, que viu in loco a invasão do Afeganistão após os ataques de 11 de setembro, sentiu-se especialmente assustada quando sofreu um sequestro. Com mais três colegas homens, passou seis dias em poder das forças do ditador Muamar Kadafi, no início da guerra civil da Líbia, em 2011. Com mãos e pés amarrados por faixas tão apertadas que seus membros ficaram dormentes, a fotógrafa ouviu que iria morrer, levou socos e cotoveladas no rosto e foi apalpada repetidamente por guerrilheiros. Essa experiência ela descreve em É Isso Que Eu Faço – Uma Vida de Amor e Guerra (Intrínseca, 69,90* reais), que chega agora ao Brasil e logo estará nos cinemas, com direção de Steven Spielberg e Jennifer Lawrence no papel da fotógrafa. Aos 42 anos, Lynsey continua trabalhando, mas, desde o nascimento do filho Lukas, 4 anos, prefere apontar suas lentes para questões humanitárias da guerra, como a condição dos sobreviventes. “Com certeza, fiquei mais sensível depois da maternidade. É muito mais difícil ver crianças sofrendo e morrendo.” Confira os principais temas da entrevista que ela concedeu de Londres, onde vive com o marido, o jornalista inglês Paul de Bendern, e o filho.

Maternidade consciente

“Trabalhei até o sétimo mês de gravidez e fui muito criticada. As pessoas se sentem no direito de dar palpite, como se, quando uma mulher engravidasse, ela se tornasse propriedade pública. Tenho marido e discutimos juntos os riscos de cada projeto em que embarquei. Estive em todo o mundo durante essa fase: Arábia Saudita, Afeganistão, Quênia, Somália, Gaza, Senegal. Não estava cobrindo a linha de frente, mas histórias relacionadas às mulheres. E todas ao meu redor estavam grávidas. Por que elas podiam estar ali e eu não? O curioso é que ninguém critica os homens que trabalham em guerras por colocar em risco a própria vida.”

Sob o véu

“Nunca me incomodei por ter de trabalhar de véu, o que aconteceu várias vezes, aliás. As histórias que retrato são muito sensíveis, muito pessoais. Se estou entre muçulmanos e percebo que eles respondem melhor se eu estiver de véu, visto. Para mim, ter acesso a essas histórias vale muito mais do que a minha vestimenta. Como jornalista, temos que nos adaptar ao meio para chegar às pessoas. O mais importante é ter certeza de que estou sendo flexível e respeitosa com outras culturas.”

Medo da morte

“Por três ou quatro vezes na vida, tive uma arma apontada para minha cabeça e achei que ia morrer. Mas meu maior medo é ser estuprada. Embora nunca tenha me acontecido, sei que a mulher fica consciente enquanto isso ocorre e é algo com que tem de conviver depois. Na Líbia, esse foi meu grande temor nos seis dias de cativeiro. A todo momento pensava: ‘Eles vão me estuprar, esse é o próximo passo’.”

Lynsey Addario
Lynsey Addario ()

Discriminação

“Quando comecei, era bastante jovem, e nesse trabalho você tem que provar que é boa. Então não sei se era uma questão de gênero. Além disso, legalmente, ninguém pode empurrá-la a ir para a guerra. Você precisa se voluntariar, pedir.”

Função social

“Gosto de surpreender com minhas fotos, educar as pessoas, mostrar que estão sendo preconceituosas sem saber. Os retratos que fiz das afegãs, por exemplo, deixavam claro que elas são diferentes do que a maioria pensa. Muitos acham que elas não têm vida, não dirigem. Embora enfrentem uma trajetória incrivelmente difícil, mesmo aquelas que vêm de famílias mais abertas têm de lutar diariamente por direitos básicos. Fico espantada com quanto são fisicamente abusadas. É de cortar o coração saber que 85% delas admitem já ter apanhado. Quando cubro esse tipo de crise humanitária, também quero chamar a atenção dos líderes mundiais.”

Mala de guerra

“Levo meus cremes antirrugas e de corpo, protetor solar, xampu, gel de banho, tudo em pequenos potes. Além de equipamentos, colete à prova de bala, tênis de corrida, roupa de ginástica. Onde estiver, me exercito. Se o lugar tem academia, uso transport e faço musculação. Senão, faço funcional.”

E se…

“Se meu filho quiser trabalhar como fotógrafo de guerra, vou proibi-lo de sair desta casa! (risos) Brincadeira. Eu apoiaria, claro. O grande presente que meus pais me deram foi liberdade de escolher o que eu queria fazer.”

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