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Indígena com Covid-19 sofre aborto e recebe o feto dentro de uma garrafa

O casal gravou um vídeo relatando o ocorrido. Nele, Jaciele aparece segurando o frasco com o feto

Por Da Redação
Atualizado em 7 jul 2020, 18h26 - Publicado em 7 jul 2020, 18h24
 (David Bas/Facebook)
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Jaciele Pego Ramos Bolonese, 31 anos, uma indígena da etnia Tupiniquim estava com Covid-19 e sofreu um aborto espontâneo. O que intensificou a dor sentida por ela e pelo marido é o fato de que o casal recebeu o feto dentro de um recipiente improvisado de plástico.

Moradores da aldeia Caieiras Velhas, em Araracruz, no Espírito Santo, o casal gravou um vídeo que viralizou nas redes sociais, em que eles mostravam tristeza e indignação pelo ocorrido. Nele, Jaciele segura a garrafa com o feto.

O caso aconteceu no hospital São Camilo e, no vídeo, o casal diz que não sabe o que fazer frente à situação. Jaciele conta que sofreu o aborto em casa e foi levada ao hospital em uma ambulância. De acordo com o relato, o feto ficou com ela no quarto enquanto esperava pela curetagem – procedimento feito em mulheres que sofrem abortos espontâneos.

Ela continua, dizendo que, após a curetagem, o feto foi colocado em uma garrafa de soro fisiológico, cortada de maneira improvisada por uma técnica de enfermagem. Depois de adicionado formol, o recipiente foi lacrado com fita adesiva. Somente após a repercussão do caso, uma equipe foi até a casa do casal para recolher o material.

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O desdobramentos do caso

Jaciele descobriu a gravidez no dia 19 de junho e logo depois teve o primeiro sangramento. Ela se dirigiu até o hospital São Camilo e, em entrevista ao G1, disse que não foi atendida porque o exame havia sido feito em uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento). “Ele disse que aquilo não comprovava que eu estava gestante”. 

Mesmo com forte tosse, Jaciele retornou para casa e ficou cerca de 4 dias sentindo dores, quando decidiu retornar à UPA, onde foi encaminhada novamente ao hospital São Camilo – e foi atendida.  “Me passaram direto para o obstetra. Ainda estava sangrando, mas com muita dor de cabeça, dor nas juntas. Fui atendida, e o obstetra me encaminhou para a clínica geral. Ela fez todos os exames, que estavam todos certos, e perguntou se eu aceitava fazer o exame para Covid. Por ser somente uma suspeita, voltei para casa”, conta. 

Ao retornar pro hospital, ela foi informada de que o sangramento aconteceu por um deslocamento de placenta. “Mas não era para eu me preocupar, era para eu me cuidar, porque estava tudo bem com o bebê. Ele tinha batimentos cardíacos, estava com o crescimento de acordo com a idade gestacional”, relata Jaciele. 

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O exame de Covid-19 foi colhido no dia 25 de junho e o resultado positivo saiu no dia 29. Três dias depois, ela teve um novo sangramento, desta vez mais intenso. Quando voltou ao hospital, os médicos a informaram que tudo estava bem com o bebê, apesar do resultado positivo para o coronavírus.

Na sexta-feira (3), Jaciele sentiu fortes dores e contrações e acabou expelindo o feto em casa. Ela ficou isolada, e depois foi encaminhada para o centro cirúrgico, mas precisou retornar ao quarto, pois havia outra pessoa sendo atendida. “Eu já estava muito fraca, cansada. Fui para o centro cirúrgico andando e a técnica de enfermagem não me ajudou a andar, ela foi andando na frente. Se fosse para morrer de uma hemorragia, eu tinha morrido”, conta. 

No sábado (4), ela recebeu alta e, antes de sair, do hospital questionou a técnica de enfermagem sobre o que fazer com o feto. “Ela respondeu ‘a única coisa que a gente pode fazer é te dar uma sacolinha pra senhora levar consigo’. Eu nunca tinha passado por essa situação. Eu estava nervosa, não é fácil o que eu estou vivendo. Depois disso, outra técnica me deu o papel para assinar. Perguntei de novo sobre o feto. Ela disse ‘a gente não tem sacola aqui’. Eu perguntei o que eu faria, ela disse que eu tinha que decidir o que fazer”, lembra Jaciele. 

Em nota, o hospital informou que “a orientação do município que a família ou o paciente entregue as peças para o histopatológico na Casa Rosa (que é o serviço municipal responsável pelo envio de materiais)”. Ainda na nota, o hospital diz não ser responsável pelas análises de biópsias.

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“Assim que tomamos ciência de vídeos e ligações de lideranças comunitárias, imediatamente enviamos uma equipe do hospital para recolher o feto para reduzir o constrangimento a familiares e ligamos para a secretaria de saúde para apoiar no caso. Acerca da entrega do feto em um frasco improvisado, é importante ressaltar que foi um fato isolado e que não é uma prática comum dentro de nosso hospital. Abrimos uma sindicância interna para apurar os fatos, para tratarmos da melhor maneira possível”, diz parte da nota do hospital.

A Secretaria de Saúde (Semsa), informou em nota que, ao ser acionada pelo Hospital Maternidade São Camilo, encaminhou uma equipe do hospital até a residencia de Jaciele para encaminhar o material até a Casa Rosa, órgão responsável por levar para o laboratório em Vitória para a realização do exame histopatológico.

Já a Secretaria do Estado da Saúde (Sesa), informou que até o momento não havia recebido denúncia sobre o ocorrido, e que irá apurar o caso e adotar as medidas necessárias se as irregularidades forem confirmadas.

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