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Fotógrafo lança projeto para conscientização após catástrofe do Rio Doce

Ele documentou estragos causados pela lama tóxica

Por Isabella D'Ercole Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 28 out 2016, 00h24 - Publicado em 27 nov 2015, 22h34
Leonardo Merçon
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No dia 5 deste mês, moradores do subdistrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), foram surpreendidos por um rio de lama que atravessou a cidade. A onda foi causada pelo rompimento de duas barragens, a Fundão e a Santarém, ambas administradas pela empresa Samarco. O acidente causou o despejo de 62 milhões de metros cúbicos de resíduos da extração de mineração em cursos de água próximos. A lama tóxica contém zinco, arsênio e outros materiais pesados. Até agora, há 8 mortes confirmadas, pessoas desaparecidas e desabrigadas, pois tiveram suas casas destruídas.

Leonardo Merçon
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Quando ouviu a notícia, o fotógrafo e designer Leonardo Merçon, natural de Vitória, no Espírito Santo, resolveu documentar os estragos. “O plano era pegar a lama entrando no Espírito Santo, em Baixo Guandu, mas, quando chegamos lá, não tinha nada de diferente. Resolvemos subir a margem do rio até encontrar a lama”, conta. O percurso foi longo, pois, com a densidade dos dejetos, a lama tomou mais tempo do que se esperava para percorrer o Rio Doce, que tem 853 quilômetros de extensão. “Chegamos a pensar que já tinha se dissipado e que tudo ia ficar bem”, lembra ele. Foi quando chegou a Governador Valadares que Leonardo percebeu a imensidão da questão. “Passamos por uma ponte e vimos embaixo os peixes agonizando ou mortos. Outros bichos tentavam escapar da água. Meus olhos se encheram de lágrimas.”

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As fotos, vistas nessa reportagem, revelam a triste realidade de todos aqueles que moram às margens do Rio Doce. “Muitas pessoas ali não sabem o que está acontecendo e continuam consumindo a água. As crianças e idosos ficam doentes com o consumo. Também há quem relate a morte de animais como cães, bois e patos”, diz, lembrando-se de uma foto feita um pouco antes dos patos saudáveis nadando no rio. “Os adultos não sabem o que falar para as crianças. Elas querem saber quando vão poder tomar banho de rio e pescar de novo.”

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A magnitude da catástrofe levou Leonardo a criar o projeto Lágrimas do Rio Doce. Fundador da instituição sem fins lucrativos Últimos Refúgios, que sensibiliza crianças e adultos para questões do meio-ambiente por meio de imagens, planeja reunir uma equipe e fazer registro das consequências da entrada na lama no Rio Doce desde seu início até Regência, a foz. Para isso, está dependendo de doações. “Queremos transformar a tragédia em um produto cultural para que ele não seja esquecido. E também documentá-lo de forma real e imparcial, sem empresa ou ninguém falando o que temos que colocar”, explica.

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Segundo Leonardo, nem todos estão conscientes da situação da região. “A distribuição de água é pouca e falta o tempo todo. Algumas pessoas estão filtrando água contaminada, o que está levando a muitos doentes. Conheci uma família que todas as crianças estavam com dor de barriga e diarreia, inclusive um bebê de 40 dias”, conta. Além disso, Leonardo diz que está assustado com a postura adotada pela imprensa, mais defensiva do que prática. “Já chegamos a lugares em que funcionários tinham passado recolhendo toneladas de peixes mortos. Não sei se isso está sendo computado nos registros”, diz.

Para ajudar, acesse esse perfil.

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