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Filha de João Cabral de Mello Neto lança seu primeiro livro

Obra é baseada nas experiências pessoais de Inez Cabral e reconstrói parte de sua infância, juventude e idade adulta

Por Anna Laura Moura Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 23 mar 2018, 10h50 - Publicado em 22 mar 2018, 10h00
 (Chico Cerchiaro/Divulgação)
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Não é fácil ser filha do poeta João Cabral de Melo Neto (consagrado, entre outros, pelo poema Morte e Vida Severina, imortal da Academia Brasileira de Letras) e decidir, aos 69 anos, lançar-se como romancista. É o que está fazendo Inez Cabral. Sem medo de comparações, O Que Vem ao Caso (Cia das Letras, 39,90 reais) será lançado nesta sexta-feira (23). O romance de estreia de Inez é um relato do tempo em que ela, nascida em Barcelona, vivia mudando de país, levada pelo pai, diplomata.

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Capa do primeiro livro de Inez Cabral, filha de João Cabral de Mello Neto (Companhia das Letras/Reprodução)

Em entrevista a CLAUDIA, a escritora compartilhou como está sendo essa experiência. Confira:

CLAUDIA: Sendo filha de um grande escritor, você sente alguma pressão perante o seu trabalho? As pessoas exigem mais?

Inez: Sempre senti essa pressão, mas com os anos estou chegando à conclusão de que essa pressão quem fazia era eu mesma. Às vezes, sobretudo na minha adolescência, ao saber que era filha dele, as pessoas me olhavam com curiosidade e os mais “intelectuais” costumavam dizer: “Que sorte! Gostaria de ter um pai como ele.”

Eu era agressiva, e a resposta padrão era: “Por quê? Seu pai é criminoso, canalha, algo assim?”.”Claro que não, meu pai era (ou é) legal”, eu respondia. “Então respeite seu pai, ele na certa não gostaria de saber que você o trocaria.”

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Isso costumava calar os fãs. A situação piorou um pouco com o advento das mídias sociais. Teve gente que queria saber de coisas pessoais, ou de suas preferências, essas coisas. Postei uma vez que seria melhor se eles consultassem um centro espírita. Essa mania inconsciente das pessoas de acharem que, como sou a sua filha, seria a sua extensão, é um pouco esquisita.

Precisei de muito apoio de amigos, que me convenceram que eu não tinha que ser melhor do que ele, apenas diferente. Racionalmente eu sabia disso, mas na esfera emocional não é tão fácil assim. Comecei a postar no Facebook, e muita gente curtiu, o que me deu forças para tentar. Confesso que adorei a experiência, se Deus quiser virão outros por aí.

CLAUDIA: Já sofreu algum tipo de machismo e/ou comparação ao seu pai? “Não é tão boa quanto o pai dela, esperava mais”, coisas do tipo?

Inez: Isso era eu quem achava. Inclusive, quando a editora lançou uma antologia dele, pedindo-me para comentar, um amigo me mandou um e mail que me deixou pasma: “Confesso que gostei mais do texto da filha do que dos poemas do pai.” É verdade que nessa antologia havia apenas poemas menos conhecidos dele, mas mesmo assim… Fica por conta da amizade.

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Quando fui fazer Belas Artes, ele me aconselhou a escrever, aliás me aconselhava isso cada vez que me via insatisfeita com a minha situação profissional. Mas é sabido que santo de casa não faz milagres, portanto levei meio século para convencer-me de que podia pelo menos tentar. Antes tarde do que nunca, já diz o ditado. E essa sensação de estar recomeçando me deixa feliz. Quanto ao machismo dessa nossa sociedade, quem não passou por isso?

CLAUDIA: Quais são as expectativas para o livro?

Inez: Minhas expectativas são as melhores possíveis. Sou uma pessoa otimista por natureza e acredito que muitas mulheres da minha geração e até de gerações mais novas deverão identificar-se com meus dilemas. Afinal, apesar da tecnologia dos dias de hoje, a humanidade é a mesma e os problemas enfrentados pelas meninas continuam praticamente iguais.

CLAUDIA: Você tem alguma história bacana do João Cabral para contar? Alguma frase que ele tenha dito?

Inez: Uma única frase. “Quando eu tinha a sua idade, eu desenhava. Por isso hoje eu escrevo. O caminho mais árduo vai te levar mais longe.”

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