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Enfermeira é discriminada em central de saúde de São Paulo por trançar os cabelos

"Ela começou a me dizer que a minha aparência africanizada diminuía a minha capacidade de trabalho, que eu precisava ser um exemplo para o meu filho", relembra Amanda Paz, de 28 anos, que está grávida de 4 meses e meio.

Por Débora Stevaux (colaboradora)
Atualizado em 28 out 2016, 08h13 - Publicado em 28 set 2016, 18h19
ThinkStock/Creatas
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Imagine trabalhar em um lugar que te discrimina pela sua aparência? Parece improvável, mas é algo extremamente comum e, infelizmente, aconteceu com Amanda Paz, de 28 anos, enfermeira-líder, desde o ano de 2013, da central de emergência localizada no bairro de Bom Retiro, na capital paulista. 

Ao retornar de férias no dia 4 de setembro, a paulistana, que havia trançado os fios devido à impossibilidade de fazer aplicações químicas no cabelo por estar grávida de 4 meses e meio, foi abordada nos corredores da empresa por uma das integrantes da diretoria: “Ela me disse que eu estava fazendo uma loucura e que meu cargo não permitia esse tipo de imagem”, relembra: “E ainda reforçou que não importava quando eu tinha gastado com o meu cabelo, era para eu tirá-las imediatamente.” 

Veja também: “Como não existe racismo no Brasil?”​

Posteriormente, a enfermeira e outras funcionárias responsáveis pelo seu setor foram convocadas oficialmente para uma reunião extra-oficial: “Assim que entrei na sala, ela começou a me dizer que a minha ‘aparência africanizada’ diminuía a minha capacidade de trabalho, que eu precisava ser um exemplo para o meu filho“, completa: “Eu rebati dizendo que isso era preconceito, que estava bem arrumada, com os cabelos presos, com a roupa social impecável, que não estava infringindo nenhuma norma interna.”

 

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Amanda, que já registrou ocorrência sobre o discurso discriminatório da instituição confessou que resolveu não se calar após conversar com algumas amigas ativistas do feminismo negro, que apontaram o caráter preconceituoso das declarações direcionadas a ela: “Chegaram a me dizer que não poderiam me apresentar daquele jeito a um cliente ou que eu não estava apta à frequentar uma reunião importante, porque eu não estava de acordo com a figura de uma líder“, relata: “Antes de mim, uma outra moça também foi chamada no setor de Recursos Humanos por ter o cabelo trançado, eles disseram que ela estava errada e que aquele ambiente não permitia aquilo – dias depois, foi demitida.”

Leia mais: Marcha das Mulheres Negras enfrenta o racismo e a violência​.

Para Juliana Caroline Justi, advogada especializada na área de Direito do Trabalho, o que aconteceu com a companheira de trabalho de Amanda foi uma “demissão discriminatória”. “A legislação brasileira proíbe qualquer tipo de discriminação sobre cor, credo, gênero etc no ambiente de trabalho. Há, inclusive, uma lei trabalhista específica para práticas deste tipo, criada no ano de 1995 e constitui, além de regulamentar, que situações como as que Amanda presenciou jamais deveriam acontecer”, analisa a Dra.: “Porém, é extremamente comum que pessoas sejam hostilizadas pela sua aparência, não só pelo desconhecimento da lei, mas porque, infelizmente, ainda vivemos numa sociedade que ainda possui o preconceito essencialmente enraizado.”

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Por fim, Amanda acredita que o que sofreu tem um nome: “Eu acho que é racismo mesmo, porque várias pessoas sempre deixam bem claro que não gostam da nossa aparência e partem disso para questionarem a nossa capacidade, para nos olharem com olhos tortos. Mas eu não vou tirar as minhas tranças, continuo desenvolvendo minha função, porque não trabalho com elas diretamente.”

Veja também: Por que as mulheres negras representam apenas 1% das protagonistas nos comerciais de TV?

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