Educação sobre quatro rodas
Com o skate, o australiano Oliver Percovich vem transformando o futuro de garotos e garotas no Afeganistão, Camboja e na África do Sul
Quando Oliver Percovich andou de skate pela primeira vez, aos 6 anos, achou a experiência tão divertida quanto desafiadora. Desde então, passou a levá-lo para todo lado. E é com ele que o australiano, hoje com 40 anos, vem impactando a vida de milhares de crianças no mundo. “O skate me deu não apenas uma comunidade como algo de terapêutico. Perdi meu pai aos 14 anos, e andar de skate me ajudou a esvaziar a cabeça e me sentir presente no momento. Ainda me sinto assim toda vez que subo em um”, disse Percovich a CLAUDIA, de Berlim, onde mora.
Em 2007, ele se mudou para Cabul, no Afeganistão, para acompanhar sua então namorada, que era assistente humanitária. Como de costume, levou seu skate. Ao andar pelas praças da cidade, passou a ser abordado por crianças ávidas por entender como funcionava aquela estranha prancha sobre rodinhas. Foi aí que surgiu a ideia de abrir a Skateistan, primeira escola de skate do país. Como o esporte era novo por lá, chegou livre de tabus culturais (não é atrelado à rebeldia, por exemplo) ou de gênero. Por isso, embora as meninas não possam andar de bicicleta ou empinar pipa, não há qualquer ressalva ao skate. “Lá, os esportes considerados masculinos só o são porque os garotos chegaram primeiro. Os afegãos não sabiam que apenas 5% dos skatistas no mundo são mulheres. Portanto, foquei em incluir e incentivar as garotas a praticar”, afirma Percovich.
As crianças chegam ao Skateistan por causa do skate, mas ficam pela educação. Na ONG, que já tem duas unidades no país, ensinam-se também outras disciplinas, como ciências e artes, para encorajar os jovens a voltar para a escola ou a ingressar nela. Meninas e meninos fazem aulas em dias diferentes, com instrutores e professores do respectivo gênero. “Não importa se as garotas frequentam por dois dias ou dois anos. Elas vão se lembrar do quanto se divertiram e aprenderam, e isso as fará lutar um pouco mais. Se não por elas mesmas, por suas filhas”, diz o australiano. “Queremos que o projeto proporcione mudança de uma geração para outra.”
O modelo já foi expandido para o Camboja e a África do Sul e ganhou prêmios como o Esporte para a Educação, do Unicef. “É uma batalha contínua. Quando a aula termina, a realidade ainda é dura. Mas estamos abrindo um espaço seguro para que as crianças pensem e aprendam por si mesmas, se divertindo, desenvolvendo habilidades e ganhando força para lidar com as adversidades”, diz Percovich.