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Danuza Leão: “O amor é muito bonito quando é de verdade”

Colunista de CLAUDIA observa os detalhes comuns aos casais apaixonados

Por Danuza Leão (colunista)
Atualizado em 28 out 2016, 07h26 - Publicado em 4 fev 2015, 06h00
Getty Images
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Casados eles não pareciam ser – não um com o outro –, e aquele jantar cedo, num restaurante modesto, comum, era muito bom de se ver. Estavam sentados um em frente ao outro, e ficava claro que não iriam para a mesma casa depois do jantar, não dormiriam nem acordariam juntos. Por isso, talvez, tivessem tanto a dizer – e diziam. Ela às vezes passava a mão na testa dele afastando uma mecha de cabelo. Dali a pouco, ele devolvia o carinho e segurava a mão dela num gesto rápido; isso por cima dos pratos, sem que nada fosse fora de propósito nem inadequado, como nunca são os gestos que saem do coração.

Não havia entre eles aquele clima de urgência que precede a ida a um motel. Muito pelo contrário: parecia, isso sim, que eles tinham passado a tarde se amando e depois ido a um restaurante, daqueles em que não há risco de encontrar nenhum amigo, para ficarem juntos um pouco mais – o tempo que ainda tinham, sem inquietação, pelo prazer da companhia um do outro. E os carinhos trocados não eram os da paixão, mas os do amor; de um amor sólido e profundo.

Quem mora junto não conversa tanto, olho no olho, porque sabe que tem tempo pela frente: a noite inteira, talvez o resto da vida. Já eles conversavam, e o assunto era o de quem se conhece bem e se gosta muito; falavam de tudo, interessados no que o outro dizia. Trocavam ideias como se fossem dois grandes amigos, o que é raro entre homem e mulher. Ele talvez falasse de um negócio que estava fazendo, ela talvez de um filho (só dela) com problemas; aí, de repente, um carinho, sem olhares melosos, nada. Apenas a necessidade de tocar um no outro, só isso. Estavam ali inteiros, muito próximos e muito seguros.

Ela usava um suéter com um pequeno decote. Num determinado momento, ele esticou o braço por cima da mesa, botou a mão no ombro dela, escorregou por dentro do suéter pelas costas e ficou alguns momentos acariciando com aquela mão forte de dono, como recordando da tarde que passaram juntos.

Ela não era nem jovem nem linda – nem ele. Eram pessoas absolutamente normais, banais mesmo, daquelas que não chamam a atenção, para quem não se olha duas vezes – talvez nem uma. Mas na mesa pequena daquele restaurante banal havia tudo que uma mulher e um homem podem querer um do outro: confiança, amizade, amor, paixão – mesmo que discreta –, sexo bem resolvido e segurança. Eles iriam se separar dali a pouco, sentiriam falta um do outro, mas sem angústia ou desespero, sabendo que se encontrariam de novo no dia seguinte ou na semana seguinte, confiando no próprio desejo e no do outro. Porque aquele amor tinha essa coisa tão rara nos amores em geral: era sólido.

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Ele pediu a conta, os dois saíram abraçados normalmente. Na esquina, ele chamou um táxi para ela, se beijaram rapidamente. Ele ficou olhando até o táxi desaparecer, pegou o dele e a noite – eram 9 horas – acabou por aí. Acabou é modo de dizer, porque essas noites tão boas não acabam assim. Ela foi dormir pensando nele, ele pensando nela, e eu pensando neles.

Pensando e imaginando quantas pessoas neste mundo de tantas paixões, vaidades, ansiedades e desvarios terão tido a sorte de viver um amor assim tão bom.

Não, o amor não é lindo, como se diz banalmente: o amor é muito bonito quando é de verdade, e o deles era.

 

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