Conheça a história de uma mulher que venceu o câncer e aprendeu a cuidar do corpo
Alimentação adequada, exercícios físicos na medida e cuidados especiais ajudaram Vânia Castanheira a vencer um câncer. Eles agora são seu instrumento de trabalho
Atualmente, o dia a dia da portuguesa Vânia Castanheira, 33 anos, radicada no Brasil há dez, consiste em inspirar outras pessoas a, como ela, dar uma virada na vida em prol da própria saúde e bem-estar. Foi sobre isso que ela falou no fim do mês passado durante o TEDx São Paulo Women, evento mundial em que nomes de diversas áreas compartilham experiências, trajetórias de vida e muito conhecimento. É disso que trata o blog Minha Vida Comigo, que ela mantém desde 2013 e já reúne mais de 70 mil fãs no Facebook. E foi esse o tema do livro que ela lançou no fim do ano passado: Minha Vida Comigo. O Câncer Foi a Minha Cura (Ofício das Palavras). A doença foi a principal motivação para a mudança de vida da atual consultora da área de bem-estar (membro da International Coach Federation), mas ela quer incentivar mesmo quem nunca deixou de ser saudável.
Dois anos atrás, praticamente recém-casada, Vânia viu o sonho de ser mãe interrompido: ela descobriu que sofria de um tipo agressivo e raro de câncer de mama. “Foi um chacoalhão, um imenso tapa na cara”, desabafa. Dez dias após o diagnóstico, a então empresária já estava na sala de cirurgia para a retirada de uma parte do seio. Duas semanas depois, voltou à mesa para passar por um novo procedimento, pois o tumor havia se espalhado. O tratamento de radioterapia, planejado no início, já não seria suficiente. Dali em diante, ela enfrentaria mais 16 sessões de quimioterapia e outras 30 de radio. “Foi o pior momento. Ali, soube que passaria a depender dos cuidados diários do meu marido e perderia cabelo, cílios e sobrancelhas, molduras que acreditamos que nos definem.”
O choque e a angústia levaram Vânia a repensar a própria vida e as tais “molduras”. “Era diretora executiva de uma empresa e não me reconhecia mais. Comecei a refletir sobre o que teria prazer em fazer se não precisasse de dinheiro. Lembrei que sempre gostei de escrever e por algum motivo não colocava mais isso em prática”, conta. Assim, poucos meses depois do início do tratamento, criou o blog dedicado a compartilhar experiências de quem encarava a mesma luta que ela – já são mais de 40 relatos. O que antes era apenas um espaço para troca de ideias e confissões virou fonte de inspiração e informação, à medida que Vânia se deu conta da importância da alimentação e da qualidade de vida na rotina de todo mundo – e não só de quem, como ela, estava doente.
“Minha missão com o Minha Vida Comigo é ajudar as pessoas a terem uma vida saudável, consciente e feliz”, diz ela no site. “A consulta que tive com a nutricionista, antes de iniciar a quimioterapia, foi quase tão longa quanto a do oncologista. Entendi que os alimentos podem nos dar saúde ou doença e nós somos responsáveis pelo que fazemos com nós mesmos.” Se até então o que ia em seu prato era para ela apenas um monte de calorias, ali, ganhou status de nutriente – e os efeitos que eles têm no organismo passaram a ser extremamente valorizados. As escolhas, então, se tornaram mais conscientes. “Parei de comer farinha branca, açúcar refinado e sal e deixei de usar óleo para cozinhar”, diz.
Segundo o médico nutrólogo Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia, as trocas foram acertadas e valem não só para quem está sob algum tipo de tratamento. “O açúcar e a farinha branca, além de não trazerem nutrientes, podem causar um processo inflamatório no organismo e favorecer os picos de insulina, aumentando a formação de placas de gordura nos vasos sanguíneos”, explica. Já o sal provoca a retenção de líquidos e o aumento da pressão arterial. Outros alimentos, por sua vez, foram acrescentados ao cardápio, como a batata-doce (carboidrato de baixo índice glicêmico, ela tem digestão lenta, o que ajuda a retardar a volta da fome e aumenta a absorção de nutrientes); o arroz negro (segundo Durval, rico em fibras solúveis, que melhoram o trânsito intestinal e a flora bacteriana, fortalecendo o sistema imunológico); e os produtos orgânicos (livres de conservantes e agrotóxicos). Com menos sódio que a versão convencional, o sal rosa ganhou lugar cativo na cozinha de Vânia, assim como o açúcar de coco. “Este ganha pontos por ser feito a partir de um processo artesanal, conseguindo conservar nutrientes importantes para o organismo, como ferro, zinco, magnésio, potássio e vitaminas do complexo B”, afirma o médico.
A atividade física, antes restrita a sessões de ioga duas vezes na semana, também ganhou importância na rotina de Vânia: foi substituída por sessões diárias de meditação e musculação – a quimioterapia leva à perda de massa magra e, com o término do tratamento, a prática era a melhor saída para repor os músculos. Mas os benefícios, segundo ela, vão muito além da estética. “É o exercício que me dá vitalidade e satisfação, aumenta a minha energia e a minha imunidade”, defende Vânia. “O aumento de massa magra dá mais disposição ao longo do dia, e a atividade física frequente melhora o sono, diminui o stress e libera endorfina, responsável pela sensação de bem-estar”, garante o educador físico Carlos Klein, proprietário da academia Crossfit79, em São Paulo.
Com o câncer já debelado, Vânia não tem planos de parar com seu trabalho.
Aprendi muito nesse período. Olho para trás e não enxergo a doença como algo negativo. Para mim, foi como uma alavanca na vida, uma cura física e emocional.
Ela quer levar adiante a ideia de que devemos ouvir e respeitar nosso corpo, porque ele nos dá sinais quando algo não vai bem. É preciso entender que não é egoísmo nenhum cuidar de si mesmo. Muito pelo contrário: é, sim, um sinal de grande generosidade consigo mesma. Pronta para se cuidar você também?