CLAUDIA promoveu uma série de discussões sobre Mulheres na Mídia
Evento reuniu grandes nomes da mídia brasileira para falar sobre representação. Assista aos painéis na íntegra.
Na semana em que é comemorado o Dia Internacional da Mulher, CLAUDIA reuniu mulheres que se destacam em diversas áreas da comunicação para debater sobre a representatividade e presença feminina em diversas áreas da comunicação.
O Mulheres na Mídia, patrocinado pela Seara, aconteceu na terça-feira (07), no hotel Tivoli Mofarrej, em São Paulo, e contou com cinco painéis de conversa. O evento foi transmitido ao vivo pela página de CLAUDIA no Facebook para que as leitoras pudessem acompanhar tudo.
Paula Mageste, diretora editorial das Revistas Femininas da Abril, abriu a cerimônia ressaltando a importância de promovermos transformações na forma como as mulheres são tratadas e discutidas. “65% não se sentem representadas na publicidade” – destacou, citando pesquisa do Instituto Patrícia Galvão – “não representar, é não respeitar“.
Jornalismo
Patrícia Zaidan, editora de atualidades de CLAUDIA, abriu a programação apresentando o painel “Os homens ainda dominam o hard news e as opiniões”, em que conversou com Malu Gaspar, repórter da revista Piauí, Sheila Magalhães, editora-executiva da Rádio BandNews e Thaís Oyama, redatora-chefe de VEJA.
“[Nós, jornalistas] fomos desacomodados da zona de conforto, porque a população está batendo na porta. Os negros, a comunidade LGBT, as mulheres: todos estão nos pressionando porque querem ter voz. Estamos discutindo de que maneira precisamos olhar para isso, especialmente no que toca as questões femininas”, introduziu Zaidan.
Atualmente, cerca de 64% dos jornalistas no Brasil são mulheres. No entanto, nenhuma está em um cargo de liderança entre os dez maiores jornais do país. No rádio, a predominância da voz masculina se repete. “Inclusive, o tom de voz grave é mais bem aceito pelo público”, comenta Sheila.
“Persistir” foi a palavra escolhida para mudarmos ativamente os espaços predominantemente masculinos – já que, apesar do número de jornalistas mulheres formadas, as redações ainda são lideradas por homens em sua maioria. As convidadas também ressaltaram a importância da educação neste processo, que deve estar em sintonia com as soluções para a desigualdade de gênero.
Assista ao vídeo completo do painel:
Universo digital
A redatora-chefe do portal M de Mulher Lígia Nunes comandou o segundo painel do dia, sobre a representatividade da mulher no mundo digital, com Alexandra Loras, ativista e colunista de CLAUDIA, Fiamma Zarife, diretora geral do Twitter no Brasil, Fernanda Ceravolo, Head do YouTube, e Stephanie Ribeiro, arquiteta e ativista digital.
O mundo digital abriga, atualmente, as melhores plataformas para que minorias tenham espaço e voz — uma vez que não há mediação entre quem fala e quem recebe, todos tem a chance de se destacar. Por isso, as mulheres têm conseguido cada vez mais ser ouvidas em seus mais variados discursos.
Um grande exemplo é a ativista digital Stephanie Ribeiro, que começou sua aventura no mundo digital depois de questionar a falta de representatividade negra na universidade de arquitetura e em todo o setor.
A ativista decidiu, então, a escrever textos em suas redes sociais sobre a questão e seu desejo de ver mais projetos arquitetônicos serem feitos por mulheres negras. No entanto, tentaram calar a sua voz e ela passou a sofrer ataques racistas e misóginos na internet. “Mas não era a hora de eu ficar acuada. Era a hora de eu falar” defendeu.
Na rotina entre desenhar e escrever textos sobre o mundo racista do mercado de trabalho da arquitetura, surgiu o convite da ex-presidente Dilma Rousseff — à época, em exercício — para conhecê-la. Foi então que a jovem sentiu a dimensão de seu trabalho. “A força das mídias alternativas é realmente muito grande” disse.
Assista ao vídeo completo do painel:
Entretenimento
No terceiro quadro foi abordado o papel da mulher no entretenimento. Tatiana Schibuola, diretora de redação de CLAUDIA, conversou com Daniela Mignani, diretora do GNT; Maria Clara Spinelli, atriz; Patricia Kamitsuji, managing director na Fox Warner Brasil; Taís Araújo, atriz; e Vera Egito, roteirista de cinema.
Durante sua fala, Taís reacendeu a discussão sobre o racismo no Brasil e a dificuldade de se combater os preconceitos que continuam perpetuados dia após dia. “Eu sou o Brasil. Eu sou a exceção que só serve comprovar a regra.” disse.
Ao ser perguntada se ela se sentia sozinha, Taís respondeu: “Totalmente. Eu fui pinçada, escolhida para ocupar esse espaço. Quando olho para trás, vejo que não tem o mesmo investimento nas minhas colegas, assim como que tem em mim.”
Leia mais: Taís Araújo sobre racismo: “As pessoas não percebem nossa dor”
A diretora Vera Egito completou a fala da atriz dizendo que, quando estudava na USP, ela não tinha colegas negros no cinema e via poucas pessoas negras estudando teatro. “Quando quero fazer um casting de mulher negra, me falam que é muito difícil encontrar. Claro que é, elas não estavam na escola de teatro, não vão estar no mercado de trabalho” disse.
“Quando eu pude fazer uma equipe, ela foi 100% feminina, em Amores Urbanos.”, relata Vera. “Agora, infelizmente é um filme que eu olho e não tem um negro, esse recorte eu não dei conta. Mas para o próximo eu vou dar” prometeu antes de dizer que, quando temos o poder de decisão, precisamos usá-lo para mudar a realidade desigual.
Assista ao vídeo completo do painel:
Publicidade
Bel Moherdahui, redatora-chefe de CLAUDIA, conversou sobre o tema “A publicidade e o reforço de estereótipos” com quatro das principais publicitárias do Brasil: Carla Alzmora, diretora de planejamento da Heads Planejamento, Gal Barradas, copresidente da Havas Creativa Group Brasil e fundadora e copresidente da BETS SP, Joanna Monteiro, chief creative officer da agência FCB Brasil, e Laura Chiavone, chief strategy officer da Tribal Worldwide NY.
A publicidade é um dos campos que apresenta um dos ambientes mais machistas para se trabalhar. Mais da metade das publicitárias já sofreu assédio, de acordo com a pesquisa de 2016 da American Association of Advertising Agencies, lembra Bel. Não foi diferente com Laura Chiavone.
“Eu tinha um chefe que chegava todo dia é falava ‘eu vou te comer’. Tinha o redator que sempre deixava uma tirinha pornô na minha mesa em um post-it, outro colega que passava a mão na minha bunda”, conta.
Com o ambiente extremamente machista da publicidade, faz sentido que os anúncios e comerciais reflitam isso e a representação da mulher seja continuamente prejudicada. “A cultura machista está enraizada nas agências, porque está enraizada em muitos funcionários. Por isso é preciso haver a mudança da cultura das pessoas e do filtro na hora dá seleção do staff”, defende Joanna Monteiro.
Assista ao vídeo completo do painel:
Aparência
Tatiana Schibuola mediou o último painel do dia e levantou a questão “para as mulheres, a aparência conta tanto quanto a competência?” para Cynthia Almeida, colunista de CLAUDIA, Daniela Cachich, vice-presidente de marketing da PepsiCo Brasil Foods, e Daniela Schmitz, vice-presidente executiva de engajamento para marketing da Edelman Significa.
“Nós somos criticadas quando nos vestimos bem ou quando nos vestimos mal. Não existe a liberdade [para as mulheres]” ressaltou Cynthia no início de sua fala.
Apesar de, depois de muita luta e debate, estar mais fácil ignorar os padrões tidos como “corretos”, a jornalista acredita que a evolução no pensamento das mulheres ainda não aconteceu de fato. “Vivemos com nossos preconceitos internos” definiu.
Assista ao vídeo completo do painel: