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Cineasta foca sua lente nas brasileiras que são heroínas da vida real

Guerrilheiras, mulheres que desafiam a aids ou criaram os filhos sozinhas são as personagens da carioca Susanna Lira, que teve ela própria uma história de superação. Abandonada pelo pai, agora planeja um documentário que pode promover o reencontro.

Por Patrícia Zaidan Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 28 out 2016, 04h09 - Publicado em 13 Maio 2014, 22h00
Patrícia Zaidan
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A carioca Susanna Lira, 43 anos, conta a história de mulheres brasileiras que são verdadeiras heroínas
Foto: Guillermo Giansanti

O cinema assinado por esta carioca de 43 anos é forte, político, contundente e ao mesmo tempo delicado. Desde que deixou o jornalismo na TV (Globo, Globonews, TV Brasil) para criar a produtora Modo Operante, em 2005, o olhar de Susanna Lira se fixa nas mulheres.

Os documentários que dirige quase nunca mostram brasileiras felizes. “Mas elas não são vítimas”, diz, antes que alguém possa imaginar dramalhões. Pelo contrário. As personagens viveram situações difíceis e têm em comum a capacidade de dar o tombo nos problemas. “Não me interessa mostrar o sofrimento por mostrar, expor as pessoas”, explica. “Elas têm uma solução, servem de janela para o público ver o mundo de outra forma.”

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“Soropositivas”, com sete prêmios no currículo, extrai beleza do depoimento de mulheres que descobriram que o marido havia lhes transmitido o vírus da aids. O estigma não cola nelas. Em março e abril, o GNT exibiu a série “Mulheres em Luta”, sobre dez rebeldes que desafiaram a ditadura militar. No mesmo escopo, Susanna filma este ano “Torre das Donzelas”. Foi esse o apelido dado à ala do Presídio Tiradentes, em São Paulo, onde, na década de 1970, trancaram 100 jovens da guerrilha, entre elas a presidenta Dilma Rousseff.

O filme custará 1,6 milhão de reais e a diretora corre para atingir a cifra. “Ali, essas mulheres solidificaram a amizade, suas crenças, seus ideais. Saíram de lá e mudaram o país.” Uma das presas, a jornalista Rose Nogueira, ligada ao Conselho de Direitos Humanos paulista, declara a Suzanna: “Se os militares soubessem o que ia acontecer prendendo essas mulheres juntas, não teriam feito isso.”

Enquanto roda “Torre”, a cineasta lança o filme “Damas do Samba”, uma prova de que o Carnaval, o samba e a cultura popular não existiriam sem Tia Ciata (a mãe de santo que curou o presidente da República Wenceslau Brás e pediu a ele para descriminalizar a arte dos sambistas, tidos como contraventores), Dona Zica da Mangueira, a cantora Tia Surica da Portela e tantas pastoras, passistas, baianas e carnavalescas imprescindíveis.

Ainda nessa safra, conclui “Nada sobre Meu Pai”. “O Brasil é um país de filhos sem pai. O meu abandonou minha mãe grávida de dois meses.” Ele tinha 19 anos, vinha do Equador e usava um codinome para se manter no Brasil após o golpe de 1964. Susanna criou o projeto quando a filha dela se constrangeu, na escola, por desenhar sua árvore genealógica faltando a parte do avô materno. “Resolvi isso muito cedo vendo a coragem da minha mãe, que deu duro para me criar. O que sou atribuo só a ela, mas devo uma resposta à minha filha.” Para isso, a diretora contará sua história e mostrará fotos num programa de TV do Equador tão popular quanto o do Faustão. “Vou ficar lá por uma semana esperando meu pai. Termino a filmagem com o que acontecer.”
 

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