Campanha incentiva mães e filhas a conversarem sobre aborto
O que você diria para a sua mãe se ela tivesse feito um aborto?
Uma campanha norte-americana encoraja mães e filhas a falarem sobre aborto – especialmente quando feito antes de ser legalizado nos Estados Unidos – o país legalizou a prática em 1973. #AskYourMother é o nome do movimento criado pela produtora Jenni Konner e pela cineasta e atriz Lena Dunham. A dupla acredita que trocar experiências com pessoas que enfrentaram a situação na época em que o ato de abortar ainda era clandestino faz com que as jovens não sintam vergonham de falar sobre o tema e tirem suas dúvidas. “Isso também nos faz refletir sobre o quanto a humanidade evoluiu legalizando o aborto”, afirma Lena. “Resolvemos publicar essa prévia antes do lançamento oficial da campanha, pois o partido Republicano está ameaçando cortar serviços de planejamento familiar”, conta Jenni.
Jenni resolveu testar qual seria o resultado desta conversa com sua mãe, Ronnie Konner, 72 anos. O resultado foi publicado pela newsletter feminina Lenny, comandada por ela e Lena. Veja alguns trechos abaixo:
“Resolvi começar com um e-mail: ‘Oi mãe, você se lembra do projeto feminista que eu e a Lena começamos? Então, eu queria te perguntar sobre aborto. Você já fez algum?’. Não se assustem: essa é a forma como eu e a minha mãe nos comunicamos – simples e direta. E ela respondeu em seguida: ‘Sim, uma vez. Tive que ir até o México, pois aqui ainda era proibido. Era meu aniversário e eu tive certeza de que eu morreria. Mas no final deu tudo certo’. Minha mãe é do tipo que foge do senso comum. Ela cresceu nos anos 1950 e 1960, foi escritora, roteirista e mãe de dois filhos. Ela sempre foi muito aberta para conversar sobre sexo ou pílulas anticoncepcionais.
Só que desta vez a sua resposta foi incrível, calmante, informativa e, ao mesmo tempo, devastadora! Ela também compartilhou os detalhes – surreais – do aborto comigo e com a Lena. Ela ria e contava com serenidade uma história que mal parecia verdade sendo contada 50 anos depois. ‘O lugar era suspeito e nem o nome do médico eu sabia. Atravessei a fronteira com uma amiga e ela chorou o caminho inteiro. Foi péssimo. Ainda tive que ouvir do meu namorado que o que eu fiz tinha sido um absurdo’.
Ronnie Konner, mãe de Jen, em 1972
Eu fui criada em mundo em que até pouco tempo me mostrou que eu tenho o direito de escolha. No entanto, escolher ainda é um risco. Nos Estados Unidos o aborto é legalizado – se feito por um médico em clínicas. Entretanto, o sistema de saúde ainda é majoritariamente particular, ou seja, muitas mulheres acabam se arriscando, pois não têm dinheiro para arcar com o procedimento. É importante avaliarmos nossos direitos sendo evaporados, principalmente em camadas mais pobres da sociedade. A campanha é ampla e aberta a diferentes interpretações. Pergunte para a sua avó, para o seu pai. Pergunte para as mulheres a sua volta que se lembram de como era a vida antes e depois da legalização do aborto. Falar sobre isso nos faz perder a vergonha. Nos faz lembrar de onde viemos e por que não podemos retroceder.
E, depois de um tempo refletindo sobre o assunto, recebi uma mensagem da minha mãe: ‘O nosso tempo acabou. Agora é a sua vez’”.