“As pessoas ainda amam se sentar em uma cadeira Eames”
Em entrevista, o curador Luke Naessens da mostra The World of Charles and Ray Eames, em cartaz em Londres, fala sobre a popularidade dos Eames
O casal mais amado do design ganha retrospectiva de sua carreira no Barbican Centre, na capital britânica. A mostra The World of Charles and Ray Eames explica como funcionava a dinâmica da dupla, além de propor deleite com suas mais inventivas criações. Abaixo, veja o que Luke contou a CASA CLAUDIA.
Qual a importância de uma exposição como a The World of Charles and Ray Eames?
A carreira de 50 anos deste casal é fascinante por causa de sua diversidade. O trabalho deles tocou muitas áreas – não só mobiliário e arquitetura, mas também vídeo, fotografia, tecnologia da informação, comunicação e educação. Eles viam o design como algo que resolvia problemas em praticamente quase tudo. E, além disso, qualquer um poderia ser designer. Charles e Ray interconectavam as coisas. Eles acreditavam na importância do conhecimento e diziam que a sociedade deveria ser baseada na livre troca de ideias e informações. As ideias deles eram menos conhecidas que seus móveis, mas, atualmente, na Era da Informação, elas são igualmente valiosas. Então seu trabalho ainda tem muito a nos ensinar.
O que justifica a obra deles ser tão popular até hoje?
O design dos Eames (especialmente das cadeiras) continua popular porque continua muito usável. As pessoas ainda amam se sentar em uma cadeira Eames. E isso não é uma surpresa – eles sempre pensaram antes a ergonomia que o próprio estilo. Também não me surpreendo que eles estejam tão em alta em plataformas como o Pinterest ou o Tumblr, porque o modo de vida e de trabalho deles ressoa de diversas maneiras no que acontece hoje na Internet. Eles eram muito apaixonados e curiosos com tudo o que acontecia em volta deles. Eles tiravam incontáveis fotografias de pequenos detalhes cotidianos – como placas de uma estação de trem, uma fita amarrada com um laço – e depois faziam slideshows dessas fotos, que é uma maneira de observar e selecionar detalhes do mundo muito similar ao que o Instagram faz.
O que tem de mais curioso na exposição? Algo que irá fascinar mesmo os experts?
Um dos pontos altos da mostra é a reconstrução do Think . Uma instalação com várias telas de vídeo, originalmente criada pelo Eames Office para o pavilhão da IBM na New York World’s Fair, em 1964. Naquele tempo, as pessoas desconfiavam dos computadores, mas esta obra dos Eames tentava mostrar como o computador poderia ser útil como ferramenta do dia a dia. Visitantes do pavilhão eram submetidos a uma experiência multimídia intensa – o vídeo era mostrado em 15 telas grandes. E agora ele foi reconstruído pelo departamento de imagem da Library of Congress, de Washington DC. Esta é a primeira vez que a nova versão está disponível para o público. Acho que ela é um ótimo exemplo do que faz o trabalho deles tão envolvente – é divertido, é informativo e visualmente impactante. O público também tem gostado bastante do Eames Musical Tower. É um xilofone movido a gravidade, inventado por eles, e é um ótimo exemplo de sua imaginação criativa e inovadora.
Como você definiria o trabalho deles em poucas palavras?
É difícil definir a obra dos Eames porque o campo de atuação deles era absurdamente diverso. Cada projeto é completamente diferente do outro, uma resposta para um problema específico. No entanto, o trabalho deles sempre foi muito inteligente, acessível, divertido e útil. Mas o mais importante era a capacidade deles de comunicar tantas ideias.