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Viola Davis conta sua trajetória até consagração em Hollywood

Mais do que artista consagrada, ela se tornou símbolo de como as oportunidades podem desafiar uma sina de preconceito e miséria

Por Isabella Marinelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 17 fev 2020, 11h54 - Publicado em 6 nov 2019, 16h30

Ela fez xixi na cama até os 14 anos. Não havia razão fisiológica para isso, mas a ferida de Viola Davis era na alma. Ela nasceu em uma antiga fazenda de escravos sem água potável na Carolina do Sul, nos Estados Unidos. De lá, seguiu para o estado de Rhode Island com os pais – uma operária e um treinador de cavalos – e seus cinco irmãos.

Na casa paupérrima, conviveu com infestação de ratos, presenciou todo tipo de violência doméstica e passou fome. A escola, que poderia oferecer alento, era cenário de bullying e racismo.

Em um congresso para mulheres realizado em Boston em 2017, a atriz relatou que as memórias mais fortes do primário eram das agressões, xingamentos e dos objetos arremessados em sua direção. Esses traumas tiraram a tranquilidade de seu sono até meados da idade adulta, quando ganhou uma bolsa para estudar teatro.

Não seria justo, porém, lembrar de Viola Davis somente pela sucessão de tragédias. E nem só pelos louros acumulados. É dessa construção dual que vem a potência da atriz, hoje com 54 anos. Mesmo honrada com a tríplice coroa da atuação (o Oscar, o Emmy e o Tony), ela não dá o jogo por vencido.

Viola Davis
(Getty Images/Reprodução)

Viola está em constante ação estratégica para que outras mulheres negras não precisem percorrer uma via-crúcis na tentativa de melhorar de vida ou alcançar o sucesso. Faz isso apropriando-se do poder da comunicação e da arte, seja em seus discursos, como o do Emmy de 2015, em que lembrou que negras não são premiadas porque nem sequer conseguem os papéis, seja pelo Instagram, como quando homenageou a vereadora brasileira Marielle Franco, defensora dos direitos humanos, assassinada em 2018.

Também acha tempo para concentrar esforços no crescimento da produtora JuVee Productions, que promove artistas iniciantes engajados em traçar uma nova história para o cinema – mais diversa, menos racista e sexista.

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Não bastasse, ainda se tornou um dos rostos da gigante de beleza L’Oréal. “É um privilégio ser quem você é. Sem desculpas por idade, cor da pele ou qualquer outra coisa”, disse a CLAUDIA. A seguir, ela revela de onde tira tanta força, divide sua visão sobre Hollywood e conta quais são os projetos que a movem.

Que causas falam ao seu coração?

A crise da fome é uma vergonha. Essa causa é urgente para mim, porque eu mesma já estive nesse lugar. Nenhuma criança deveria experimentar esse sofrimento. Por isso, me dedico a essa missão. Como mulher, a luta pela igualdade de gênero também é importante para mim.

Quais conquistas profissionais deixam você orgulhosa?

Existem as óbvias, como os prêmios, quando fui reconhecida pelo meu trabalho. Mas o que mais me estimula é ter criado um terreno fértil para as futuras mulheres negras de Hollywood. Personagens como Annalise Keating (interpretada por Viola na série How to Get Away with Murder) simplesmente não existiam anos atrás e agora estão por aí. Fazer parte disso é poderoso.

Quais mulheres inspiram você?

Acho a socióloga Brené Brown incrivelmente inspiradora. A roteirista Shonda Rhimes é uma força cuja visão e impulso são incomparáveis; e Michelle Obama (advogada e ex-primeira-dama), a imagem da graça, beleza e inteligência.

Já sentiu pressão para se adaptar aos padrões de beleza?

Ah, sim! No início da minha carreira, sentia que ser bonita era pré-requisito para o sucesso; que era preciso atender a esses padrões impossíveis para chegar lá. Acho que sucumbi até certo ponto, mas agora estou muito mais segura em ser quem eu sou.

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O que moldou o seu senso de valor?

Não obtive sucesso imediato, e isso me forçou a desenvolver uma pele espessa para continuar fazendo testes, subindo ao palco e aprimorando minha arte. Anos depois percebi que todo esse tempo e esforço criaram a crença inabalável que nutro em mim e em minhas próprias habilidades e opiniões. Não trocaria isso por nada.

O que lhe dá confiança?

Eu sofri de baixa autoestima a vida toda, e, embora com menor frequência, ela ainda aparece. Percebo que minha condição mental e física fica bem quando estou comprometida com a rotina. É quando me sinto mais confiante, mais saudável e com as ideias claras.

Qual parte da sua rotina de beleza não é negociável?

Cuidados com a minha pele! Se ela está em seu melhor estado, tudo o mais fica ótimo.

Ainda existe em Hollywood o preconceito contra o envelhecimento? Você conseguiu combater esses estereótipos?

Acho que tivemos grandes avanços, mas infelizmente essa mentalidade ainda está presente. Há muito a ser feito, e espero ajudar a desafiar esses estereótipos por meio do meu trabalho, da minha voz. Uma meta que estabelecemos desde o início para a minha produtora, a JuVee Productions, é fazer dela um centro criativo onde cineastas e artistas possam se expressar completamente e contar histórias que abrangem o amplo espectro da humanidade. Ao diversificar as vozes, fornecer uma plataforma para talentos emergentes e promover novas narrativas, a mudança se torna possível.

Você acha que existe uma idade perfeita?

Não acredito que seja um número específico, mas uma mentalidade. É a idade em que você finalmente se sente confortável onde você está na vida e com quem você é.

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Acredita que o melhor está por vir?

Quando minha filha (Genesis, adotada por Viola e o marido, o ator Julius Tennon, em 2011) entrou na minha vida, algo mudou de maneira que nunca pensei que aconteceria. Cada dia é melhor do que o anterior. Ela ilumina o meu mundo e me sinto honrada por vê-la crescer como uma linda jovem. Então, com certeza, o melhor ainda está por vir.

O que deseja para o futuro?

Muito do mesmo que tenho hoje. Atuar, produzir, ser mãe, fazer filantropia. Sigo tentando desempenhar todas essas funções e manter um sorriso no rosto.

Você costuma usar o lnstagram para se expressar. O que atrai você nas redes sociais?

Eu amo o fato de que é um espaço aberto, que pode ser usado da maneira que você quiser. Desde chamar a atenção para causas importantes e elogiar os amigos por suas realizações até compartilhar vídeos engraçados, fotos da minha filha e atualizações sobre o que estou fazendo profissionalmente. Costumo postar no #MotivationMonday (segunda-feira da motivação, em tradução livre) os meus desejos para cada semana.

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