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Por uma questão de cor: como os negros superaram o preconceito na teledramaturgia

De papéis de empregados a protagonistas de novelas, os negros conquistaram espaço e venceram os tabus

Por Redação M de Mulher
Atualizado em 15 jan 2020, 03h50 - Publicado em 26 jun 2014, 21h00
Paulo Cabral (/)
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Com Xica da Silva, Taís Araújo entrou para a história da teledramaturgia como a primeira protagonista negra
Foto: Oscar Cabral

Ao produzir A Cabana do Pai Tomás (1969), a Globo foi pressionada pelos patrocinadores a escalar Sérgio Cardoso, que morreu em 1972, para protagonizar a história do escravo americano que luta por liberdade, o que deu bastante trabalho aos maquiadores para caracterizá-lo como um negro. Mas por que dar o papel a um ator branco? O protesto antirracista, liderado pelo dramaturgo Plínio Marcos, que morreu em 1999, ganhou repercussão na época, mas Sérgio, mesmo constrangido com a situação, encarnou o personagem até o fim. Pelo menos o papel da mulher de Tomás, Cloé, também um dos mais importantes da trama, foi defendido com garra por Ruth de Souza, 93 anos.

O episódio acima é apenas um dos mais simbólicos que ilustram a complexa questão do preconceito racial na TV. Apesar de grandes atores como a própria Ruth de Souza e Milton Gonçalves, 80, conquistarem destaque na teledramaturgia brasileira, a maioria de seus colegas negros só era escalada para papéis de empregadas domésticas e motoristas ou então de escravos nas novelas de época, com raras exceções aqui e ali. Em Corpo a Corpo (Globo, 1984), Gilberto Braga, 67, nadou contra a corrente ao criar a personagem Sônia, interpretada por Zezé Motta, 65, que, além de ser uma arquiteta bem-sucedida, envolvia-se romanticamente com Cláudio (Marcos Paulo, morto em 2012). E não é que houve resistência do público em aceitar o casal interracial?!

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Por uma questão de cor: como os negros superaram o preconceito na teledramaturgia

Sérgio Cardoso foi pintado para A Cabana do Pai Tomás
Foto: Rede Globo/Divulgação

Muito discretamente, o tabu foi cedendo ao longo dos anos, até que o mesmo Gilberto Braga cutucou a onça com vara curta em Pátria Minha (Globo, 1994), para a qual criou uma cena provocadora em que o protagonista, Raul Pelegrini (Tarcísio Meira, 78), humilhava o seu motorista negro, Kennedy (Alexandre Moreno, 44). Apesar de ter a intenção de denunciar o racismo, isso gerou vários protestos de grupos sociais que se posicionaram contra a novela e a emissora, confundindo ficção com realidade.

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E não demorou muito para a extinta Rede Manchete levar ao ar Xica da Silva (1996), fazendo de Taís Araújo, 35, a primeira protagonista negra da teledramaturgia brasileira. Tratava-se de uma personagem histórica em uma trama de época, mas Taís manteve o título ao estrelar outras novelas como Da Cor do Pecado (Globo, 2004) e Viver a Vida (Globo, 2009). Outros atores como Lázaro Ramos, 35, e Camila Pitanga, 36, também conquistaram o protagonismo na TV, e os dois, inclusive, estrelaram Lado a Lado (Globo, 2012), que situava historicamente a questão racial após a libertação dos escravos e faturou o prêmio Emmy Internacional de Melhor Telenovela. Na próxima edição, o tema a ser tratado será a diferença de idade nos relacionamentos amorosos.

Veja também: Livres para tirar a roupa: como a nudez chegou à televisão brasileira

Por uma questão de cor: como os negros superaram o preconceito na teledramaturgia
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Camila Pitanga em Lado a Lado, na qual representava a emancipação da mulher negra após a abolição
Foto: João Cotta

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Tarcísio Meira em Pátria Minha, em que humilhava o motorista Kennedy, vivido por Alexandre Moreno
Foto: Heio Motta

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