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Paulo Ricardo defende ‘piadas’ machistas no ‘Encontro com Fátima’

Além dele, o ator Marcelo Médici infelizmente fez mansplaining ao vivo e em rede nacional para a atriz Jeniffer Dias.

Por Ligia Helena
Atualizado em 16 jan 2020, 06h23 - Publicado em 24 out 2018, 13h08
 (Reprodução/)
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Nesta quarta-feira (24) o programa Encontro com Fátima Bernardes recebeu como convidados a atriz Jeniffer Dias, o ator Marcelo Médici e o cantor Paulo Ricardo para falar de temas atuais como pressão no trabalho e o peso das palavras e frases que falamos sem pensar e que afeta a vida das pessoas.

O que era para ser uma manhã de discussões saudáveis sobre frases polêmicas virou um festival de preconceito, manterrupting (quando um homem interrompe a fala e o raciocínio de uma mulher) e mansplaining (quando um homem decide explicar para uma mulher algo que ela mesma já sabe bem – até por viver na pele).

Fátima propôs usar um aparelhinho chamado sussurrofone, que nada mais é do que um cano que projeta no seu ouvido o que você mesmo fala. De acordo com a apresentadora, o objetivo era a reflexão: “Será que a gente ouve o que fala? Será que a gente presta atenção nas palavras que vai despejando ao longo do dia? Será que nossas palavras têm o poder de afetar o outro?”

Os convidados deviam ler a frase projetada no telão e comentar sobre elas. O primeiro a participar foi Marcelo Médici, que, constrangido, teve de ler “Até que para uma mulher você é uma boa chefe”. Fátima deu outros exemplos de frases machistas, como “até que para uma mulher você dirige bem”.

E foi então que Paulo Ricardo a interrompeu, dizendo que “as pessoas andam muito sensíveis” e que “de um tempo para cá tem essa praga do politicamente correto”. Homem, heterossexual, branco e rico, Paulo Ricardo acha que “esse tipo de frase é só piada”.

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Jeniffer chamou a atenção para o fato de que “não cabe mais esse tipo de piada” – e foi aplaudidíssima pela plateia, que a apoiou. Fátima então pediu para que Jeniffer participasse do quadro, usando o sussurrofone, mas Paulo Ricardo a interrompeu para buscar apoio em Marcelo Médici, perguntando se o politicamento correto não o incomodava.

Médici disse que incomoda, mas que “temos feito avanços muito importantes, e que tem coisa como a Jeniffer disse, que não cabem mais, realmente”. O ator completou dizendo que acha que há um exagero hoje em dia, mas que chegaremos a um equilíbrio. Sensata, Jeniffer defendeu que trata-se de uma questão de se colocar no lugar do outro.

 

A brincadeira do sussurrofone continuou, e coube para Paulo Ricardo ler a frase “nunca fiquei com pessoas negras porque não me atraem”. Aí foi a vez de Marcelo Médici soltar a pérola: “Já ouvi gente falar isso de loiros! ‘Eu não gosto de loiros'”. Paralelamente, Paulo Ricardo exaltava as “mulatas do Sargentelli”, um show de objetificação das mulheres brasileiras que rodava o mundo nos anos 1970. Coube à Fátima Bernardes chamar a atenção quem esse tipo de coisa não tem mais lugar na sociedade hoje em dia.

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Fátima então pediu para Jeniffer contar sobre o processo de ‘embranquecimento’ que ela sofreu quando era mais nova. Quando ela começou a falar que tinha o cabelo alisado, Médici a interrompeu para explicar que “amor, isso é moda”. Fátima e Jeniffer falaram que não, que é uma necessidade de aceitação, mas Médici, com ar condescendente, disse que não, que era moda.

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Jeniffer chegou a ficar com os olhos cheios de lágrima explicando que, na infância, não tinha nenhuma mulher negra para se inspirar nas capas de revista, e que agora, ela se orgulhava de estar em “Malhação” com seu cabelo afro. Enquanto isso, Paulo Ricardo a interrompia, falando que Naomi Campbell sempre teve cabelo liso e que Beyoncé é loira.

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Quando finalmente Jeniffer conseguiu falar, disse que, assim como Dandara, personagem que interpreta na novelinha da Globo, ela mesma é uma ativista na periferia e que quer dar oportunidade para quem faz arte mostrar isso para o mundo.

Infelizmente, o que era para ser um programa sobre a importância de pensar no que falamos e refletir sobre o impacto que isso tem na vida do outro, se tornou um festival – ao vivo e em rede nacional – do que justamente não se deve fazer.

Ao impedir Fátima e Jeniffer de falarem por diversas vezes, e ao tentarem explicar para uma mulher negra como ela deve se sentir com relação a coisas que ela mesma viveu, Paulo Ricardo e Marcelo Médici mostraram que vão precisar muito do sussurrofone para se colocar no lugar dos outros. Fica a sugestão.

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