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Paulo Miklos fala sobre nova etapa na carreira e superação dos vícios

Em papo sincero, Miklos, 59 anos, conta sobre a redescoberta do amor e de novas expressões artísticas

Por Lia Rizzo
25 dez 2018, 15h32

Do lado de fora da casa, localizada em um condomínio fechado no bairro paulistano do Morumbi, é possível ouvir alguém tocando piano. A porta é aberta revelando o músico, um adolescente acompanhado de seu professor e de um pequeno cachorro vira-lata deitado, preguiçoso, aos pés do instrumento. Amplo, o lugar é decorado com personalidade e muito aconchegante. É a primeira pista do que seria confirmado ao final da entrevista. Ali, definitivamente, é um lar. Enquanto a fotógrafa ajusta as luzes para as fotos, surge a produtora cultural Renata Galvão, 39 anos, mãe de Max, 11, o pianista, e Rosa, 8. Em seguida, chega Paulo Miklos, o entrevistado da vez, para quem o cachorrinho corre fazendo festa. Ao passar pelo piano, o cantor, compositor e ator afaga carinhosamente a cabeça do enteado, reclama um pouco do calor escaldante e vai até a cozinha fazer café.

Renata, com quem Paulo está casado há dois anos, confere o visual do marido e pede que ele ajeite o cabelo. “Está estranho por causa da caracterização para a novela”, justifica enquanto ele tenta um novo penteado.

A rotina parece não ter nada a ver com o que se imagina ou se espera de um roqueiro que, nos anos 1980, vociferava Bichos Escrotos e outros sucessos do antológico álbum Cabeça Dinossauro, da banda brasileira Titãs. Porém, desde que se despediu do grupo, em 2016, após 34 anos de estrada, Paulo vem dando sinais de que a vida de loucuras, característica das grandes estrelas do rock, parece ter sido trocada por um dia a dia mais ordinário.

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A agenda segue apertada. Para voar mais alto na carreira solo e se aprofundar em outras searas artísticas, ele encara uma alta frequência de pontes aéreas. Atuando na novela das 9 da Globo, ‘O Sétimo Guardião’, como Jurandir, viúvo religioso que espera que a única filha se torne freira, intercala a carga de gravações no Rio de Janeiro – onde havia passado a madrugada anterior à entrevista trabalhando – com a divulgação de seu álbum mais recente, A Gente Mora no Agora.

(Julia Rodrigues/CLAUDIA)

No tempo que sobra, encaixa projetos como o concerto em homenagem a Adoniran Barbosa, que fez em São Paulo por ocasião de uma exposição dedicada ao sambista. Curioso? Só para quem não teve a oportunidade de conferir sua elogiadíssima performance quando, em 2015, protagonizou a cinebiografia de Adoniran. Na era pós-Titãs, aliás, o cinema ganhou bastante espaço na vida dele. E, veja só, Paulo hoje tem até fãs mirins pelo papel do vilão Gonzales, no filme infantil Carrossel.

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“Aos 57 anos, decidi que estava na hora de dar esse salto, impulsionado pelo desejo de me realizar mais artisticamente”, diz, explicando a pluralidade dos trabalhos com os quais tem se envolvido. “Foi quando me senti tranquilo para assumir coisas que vinha amadurecendo e que só seriam possíveis numa carreira solo.” Essa virada significa que ele é mais ator do que cantor hoje? A resposta, imediata, é enfática. “Sou cantor”, afirma. Em seguida, de um jeito ponderado, que lhe é peculiar, acrescenta: “Ainda que seja inegável que minha primeira experiência no cinema (com O Invasor, em 2001) tenha me mostrado novas possibilidades de expressões que acabei levando para a música”.

Teria então o rock’n’roll ficado totalmente para trás? Agora, quem responde é Renata, que também administra a carreira do marido e intervém antes de Paulo elaborar uma reflexão sobre essa ruptura. “Minha avaliação, com base em nossa convivência, é que talvez ele tenha caído de paraquedas no mundo do rock. Paulo é dono de uma personalidade bem calma e escuta muito samba e música popular brasileira na maior parte do tempo.”

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Força bruta

Se há dúvidas sobre o status de roqueiro, o mesmo não se pode dizer dos velhos hábitos. Sem aparentar desconforto, o paulistano fala da luta contra o vício em álcool, cocaína e cigarro, dos quais se livrou há pouco mais de uma década. Refuta o rótulo de vitorioso contra a dependência, contudo. “Estar limpo é uma escolha diária depois que você se fortalece para viver de forma diferente”, diz. “Por isso, desconfio de quem sai alardeando que venceu de forma definitiva.” O músico assume com a mesma franqueza que o período de maior descontrole afetou a todos que estavam ao seu redor.

Ouviu conselhos e apelos para deixar o vício antes de cair em si e buscar ajuda na terapia e no uso de medicamentos controlados. Depois, não teve recaídas, ainda que a vida tenha lhe reservado uma sucessão de tragédias pessoais num curtíssimo espaço de tempo. Entre os anos de 2013 e 2014, perdeu a mãe, a então esposa, Rachel Salém, com quem vivia havia 30 anos, e o pai. Tal qual um titã, resistiu e se reergueu ao lado da única filha, Manoela, 35 anos, e dos companheiros de banda. “Estar ativo, trabalhando, rodeado de gente que amava foi o que me manteve em pé.”

(Julia Rodrigues/CLAUDIA)

A verdade dos afetos

Renata e Max interrompem a entrevista para se despedir. Estão de saída. Paulo viajaria novamente naquela noite. Depois de abraços cheios de afeto – palavra que o artista usa bastante –, ele conta que Max também toca clarinete, e Rosa, a caçula de Renata, piano – influência da convivência com ele.

Mas engana-se quem pensa que o lado família é reflexo da nova etapa da vida. “Os entes queridos sempre foram a minha base”, revela o mais velho dos três filhos de dona Ivone e do médico José Mauricio Miklos, a quem tentou agradar cursando por breves períodos psicologia e filosofia.

O pai queria que ele tivesse um diploma. Escolheu seguir a música, mas, em suas palavras, foi nesses laços longos e sólidos que encontrou o porto seguro para dar conta da agenda desregrada que uma banda tem.

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A relação também é muito forte com a filha. Embora viajasse constantemente, Paulo sempre se esforçou para alimentar a proximidade com Manoela. Compensava a distância mantendo contato todo o tempo e trazendo presentes que contassem um pouco dos lugares onde havia estado. “Cheguei a comprar berimbau, bombachas… O importante era surpreendê-la”, lembra saudoso. Hoje, ainda se falam muito, trocam conselhos sobre trabalho, abordam política e atualidades. Até pouco tempo, dividiam uma casa no bairro do Sumaré, também em São Paulo.

A mudança de ares e endereço aconteceu após o encontro com Renata. Ao lado da produtora, formou essa grande família – ou um círculo de afeto, como gosta de chamar –, em que estão inclusos Manoela e os enteados, com quem faz, entre outras coisas, lição e slime (massa de modelar preparada em casa com base de cola, que é febre entre crianças). Rosa até já subiu ao palco no fim de um show dele vestida de unicórnio.

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Eventualmente, o pai das crianças se junta ao clã para cafés da manhã demorados na residência do casal. “Renata me abriu uma nova possibilidade de felicidade. Ela me fortaleceu e me colocou em pé de novo. E me ajuda muito”, diz. O telefone toca. É a esposa avisando que Paulo precisa sair. “Você mandou minha passagem? Tá bom, te amo.” Depois de desligar o telefone, completa: “Tá vendo como ela me ajuda?”.

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