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Pabllo Vittar: “Não quero ver alguém apanhando na rua por ser gay”

Em entrevista a CLAUDIA, a cantora fala sobre o novo disco, a adolescência difícil e a onda de intolerância que sufoca o Brasil

Por Isabella Marinelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 11 out 2018, 20h04 - Publicado em 11 out 2018, 19h25
 (Fernanda Tiné/Multishow/Divulgação)
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Quando era adolescente, a cantora Pabllo Vittar, que ainda nem tinha nome artístico, ouviu de um professor que não chegaria a lugar algum com aquela maneira de ser. Hoje, aos 23 anos, comemora o terceiro ano de carreira com o disco Não Para Não, lançado em outubro. Com um mix de referências internacionais e ritmos que são a cara do Brasil, a cantora pode se orgulhar da materialização do amadurecimento notável da sua música. O disco estreou no topo da iTunes Brasil e todas as faixas entraram no Top 50 Brasil do Spotify, duas plataformas de streaming que também se comportam como um termômetro do que está em alta. Apesar de emplacar mais um sucesso, Pabllo mantém os pés no chão. “Ainda sou a mesma pessoa lá do começo, com vontade de dar o meu melhor e fazer acontecer”, diz.

Ela falou a CLAUDIA sobre seu momento atual na carreira, sobre a responsabilidade de ter se tornado uma voz relevante na defesa dos direitos LGBT+ e da onda de ódio às minorias que sufoca o Brasil:

CLAUDIA: Você sente que teve algum divisor de águas na carreira? 

Pabllo Vittar: Sinto que todos os dias estou criando marcos na minha carreira, mas, se fosse citar apenas um, seria o meu primeiro álbum, o Vai Passar Mal. Muitas pessoas me conheceram através dele. Ele também me permitiu sair em turnê, o que foi incrível. Foram momentos gratificantes

O álbum novo foi sucesso absoluto. É bem perceptível a mescla entre elementos brasileiros com tendências da gringa. Quais foram as suas influências e as suas inspirações para ele?

Eu quis resgatar as referências da minha infância e da minha adolescência. Nasci no Maranhão, passei parte da vida no Pará, voltei para o Maranhão. Ouvia muito carimbó, tecnobrega. Ritmos fortes no norte do país, mas que acabamos não dando tanta atenção. Também quis trazer um pouco de forró, axé, pagode. Todos são ritmos bem dançantes, alegres.

Falando de passado então… Você já mencionou que na infância e na adolescência não tinha um ídolo que levantasse bandeiras e em quem pudesse se inspirar. Você se considera essa pessoa hoje em dia?

Acho que não sou a única. Várias amigas minhas têm tido essa voz ativa nas comunidades. Mas costumo receber mensagens tanto de jovens dizendo que se identificam comigo, quanto de pais e mães dizendo que através da música e da minha imagem conseguiram compreender e aceitar os filhos como são. Isso me deixa muito feliz. Quero que essa mudança seja contínua e que a gente perpetue a mensagem de tolerância, de respeito, de que ninguém precisa se esconder.

Não quero que ninguém passe pelo que eu passei na adolescência. Não desejo a ninguém viver com medo. Eu não quero ver meus fãs, nem ninguém, apanhando na rua até morrer. Só peço a Deus que esse pesadelo acabe. E, enquanto isso, a luta continua.

Pabllo Vittar
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Estamos vivendo um momento em que o ódio não é mais velado, pelo contrário, está aí exposto por todos os lugares. Neste cenário, você acha que o artista também cumpre uma função social para além do entretenimento? Como você procura passar sua mensagem para as pessoas?

Com certeza. O artista tem um trabalho muito importante. Nós temos voz, que ganhamos exatamente dos fãs, então nada mais justo e louvável do que nos posicionarmos contra as injustiças. Ser artista é mais do que subir no palco e cantar. Mas fico muito triste, porque parece que, a partir do momento que a gente começa ganhar voz, que a gente começa a caminhar para um lugar legal, as pessoas se incomodam por não estarmos mais nos escondendo. 

Você acredita que a sua música é um instrumento de resistência?

Com certeza. Ainda mais em um momento como esse. Dia desses, vi um vídeo em que torcedores gritam que vão matar os gays. Parece que retrocedemos sei lá quantos anos, que voltamos à época que não podíamos sair na rua de jeito nenhum. Não quero que alguém passe pelo que eu passei na adolescência. Não desejo a ninguém viver com medo. Eu não quero ver meus fãs, nem ninguém, apanhando na rua até morrer. Só peço a Deus que esse pesadelo acabe. E, enquanto isso, a luta continua.

Você já sofreu alguns ataques cibernéticos organizados por grupos conservadores. Isso te afeta? Como você lida com episódios assim?

A gente só quer trabalhar, viver a nossa vida, ser feliz. Nós não queremos e nem fazemos o mal a ninguém. Fico triste, em um primeiro momento, mas sou positiva. Não me afeta mais, porque recebo muito amor. O que eu sinto é asco das pessoas que propagam o ódio. É o tipo de coisa que não entra na minha cabeça.

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