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Naruna Costa: conheça a inspiradora trajetória da atriz de ‘Irmandade’

Premiada no teatro, Naruna dedica-se a levar cultura para a periferia. Atriz, diretora e cantora, ela protagoniza a mais nova série brasileira da Netflix.

Por Júlia Warken
Atualizado em 15 jan 2020, 07h57 - Publicado em 30 out 2019, 14h14

“Irmandade” é a mais nova produção brasileira da Netflix e logo chamou a atenção do público por trazer Seu Jorge no elenco. Mas, para a nossa alegria, a série também é protagonizada por uma ótima atriz: Naruna Costa. Apesar de já ter aparecido em novelas da Globo e em filmes como “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho”, esse é o primeiro grande trabalho dela na TV – e vale a pena conhece-la melhor.

Aos 36 anos, Naruna já trilhou uma trajetória inspiradora no teatro. Natural de Taboão da Serra, cidade da região metropolitana de São Paulo, ela é uma das fundadoras do Grupo Clariô de Teatro, que existe desde 2002 e deu origem ao Espaço Clariô. Trata-se de um centro cultural que visa fomentar a cultura na periferia, com  atividades como cursos de teatro e saraus – quase sempre gratuitos. 

Através do Clariô, dez anos atrás, ela lançou a peça “Hospital da Gente”, que fala sobre mulheres periféricas. Naruna interpreta uma mãe cujo filho é morto pela polícia. A atriz se orgulha em dizer que a peça é um sucesso de público e crítica – tendo sido premiada, inclusive. No YouTube, um monólogo de “Hospital da Gente”, em que ela fala sobre paz, tornou-se viral. 

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“Descobri o teatro na minha adolescência e senti que isso fez muita diferença na minha vida. Uma diferença positiva, pela descoberta, mas também negativa, por eu não ter tido acesso a esse tipo de cultura antes. Tive que correr atrás de muitas coisas porque, quando eu descobri o teatro, eu percebi que existe uma política de cercear a informação, de não deixar chegar na periferia”, diz Naruna.

Além disso, ela conta que também sentiu a necessidade de representar a periferia através do teatro. Formada em dramaturgia pela USP, Naruna acredita que a população negra ainda não é representada como deveria através da arte e do entretenimento.

“Eu sei que, comparando o cenário de hoje com o de dez anos atrás, talvez a gente consiga ter um pouco mais de respiro e tal. A gente consegue imaginar uma possibilidade maior, mas eu ainda acho que existe uma lentidão na relação da dramaturgia do audiovisual brasileiro. Existe pouca ousadia no sentido de construção dessas personagens, para que elas não sejam figuras estereotipadas. Porque, enfim, somos um país onde a maioria da população se considera negra, mais de cinquenta por cento, e essa população não se vê representada”.

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(Netflix/Divulgação)

Do palco para as telas, em “Irmandade”, Naruna tem a oportunidade de mostrar seu trabalho ao grande público, em seu primeiro papel como protagonista em uma produção audiovisual.

A série conta a história de dois irmãos, Edison (Seu Jorge) e Cristina (Naruna). Os dois não se falam há 20 anos, desde que ele foi preso, mas seus destinos voltam a se cruzar por acaso. A história se passa em 1994 e Cristina é advogada, enquanto Edison continua preso e é chefe de uma facção, chamada Irmandade. Chantageada pela polícia, ela precisa se infiltrar no mundo do crime para ser informante.

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Para ela, é importante que a série coloque uma mulher negra no papel de protagonista. “Tem uma relevância muito grande, principalmente nos tempos de agora, em que a questão da representatividade é uma das primeiras pautas da juventude – e acho que do público em geral. É a representatividade da população brasileira no audiovisual. E só de ser uma protagonista mulher já é um ganho enorme, num tema que é considerado totalmente masculino. Ser uma mulher negra ainda, é o ápice. Porque a mulher negra, no Brasil, é considerada a figura mais marginalizada – no que a gente chama de pirâmide social. Então, poder ter essa representatividade nesse momento é muito importante. É fundamental”.

No ar desde a última sexta-feira (25), a série ainda não foi confirmada para a segunda temporada, mas essa é uma possibilidade. Paralelamente, Naruna dedica-se a outros trabalhos artísticos. No teatro, ela ainda atua na peça “Hospital da Gente” e também trabalha como diretora em outra peça de sucesso: “Buraquinhos ou O vento é inimigo do picumã”, em parceria com coletivo Carcaça de Poéticas Negras.

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Com foco no racismo, a peça gira em torno de um menino negro que é abordado pela polícia quando está a caminho da padaria. Assustado, ele sai correndo e inicia uma viagem ao redor do mundo, mas é baleado mais de 100 vezes pelo policial. Através desse trabalho, Naruna tornou-se a a primeira mulher negra a ganhar o prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte na categoria de Melhor Direção.

Com o Grupo Clariô, Naruna também toca um projeto musical, chamado Clarianas. Sim, além de atuar e dirigir, ela também canta. Atualmente, o grupo de prepara para lançar seu mais novo álbum, “Quebra Quebranto”.

(Bob Wolfenson/Netflix/Divulgação)

Frente a essa trajetória marcada pelo desejo de levar arte a todos e de falar sobre a realidade da população negra e periférica através da dramaturgia, o MdeMulher perguntou a Naruna quais são as os filmes, séries e peças de teatro que ela indica a quem busca obras produzidas e protagonizadas por mulheres negras.

Em resposta, a artista diz que as pessoas precisam sair da zona de conforto e que devem buscar por isso fora do main stream. Para ela, é necessário “andar” e acessar os espaços artísticos ligados à população negra. Cita as batalhas de slam, os centros culturais periféricos (como o Clariô) e eventos como o Festival Ruth de Souza, realizado no Sesc Interlagos, em São Paulo.

“É isso, as pessoas precisam se antenar, porque para ir em busca de representatividade da mulher negra, não dá para fazer isso sentado no sofá, sabe? Tem que andar, porque as mulheres negras estão andando. A gente tem que ir atrás. Infelizmente, não vemos uma representatividade tão grande nas novelas ou nos filmes – tem, mas é muito pouco. A gente tem que garimpar. Então eu acho que esse exercício é fundamental”.

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