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“Minha Estupidez”: Fernanda Torres fala sobre seu novo programa

A atriz conversou com CLAUDIA sobre o programa que estreia, esta semana, no GNT – projeto que iniciou há oito anos ao entrevistar João Ubaldo Ribeiro.

Por Clara Novais Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 13 nov 2016, 08h22 - Publicado em 13 nov 2016, 08h22

Foram oito anos de espera até que o programa Minha Estupidez se tornasse realidade. Com estreia, enfim, nesta terça-feira (14), às 23h, no GNT, ele tem origem em uma estante. Herança do avô na qual guarda seus livros, a atriz Fernanda Torres, 51 anos, percebeu que ela, de certa forma, mede o tamanho de sua estupidez. “Por mais que eu tenha lido e amado os livros que li, eles se reduzem a isso aqui: nada perto do que se existe para ler e para se conhecer”, declara Fernanda no episódio de abertura.

Serão cinco capítulos, de 30 minutos, que mesclam entrevistas e esquetes inspiradas em textos importantes. O escritor João Ubaldo Ribeiro, morto em 2014 aos 73 anos, é o personagem da estreia. Desde 2003, Fernanda se dedica a temporadas no teatro do monólogo A Casa Dos Budas Ditosos, baseada em texto dele – e, desde então, ela mentia em entrevistas que tinha lido, sim, Viva O Povo Brasileiro, um dos principais romances do escritor.

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Esta é a primeira ignorância que ela assume no programa: nunca havia lido esse clássico da literatura brasileira, apesar de encará-lo há tempos em sua estante. Vizinho de Fernanda, Ubaldo já havia descoberto a farsa. Porém, ela o surpreende logo no início da entrevista revelando que, enfim, se entregou à mistura de realidade histórica e ficção do livro escrito em 1984.

Esse momento – assim como toda a conversa – foi gravado em 2008 e passou oito anos esperando para vir a público. A repórter de CLAUDIA Clara Novais assistiu ao episódio pronto o e garante: valeu a pena aguardar. Ela conversou com Fernanda Torres sobre o processo de produção de Minha Estupidez, literatura, séries de televisão e o mundo atual. Leia:

O programa é sobre assumirmos as nossas próprias ignorâncias, por isso o nome. Esse é um exercício muito difícil para a maioria das pessoas. Como foi para você se despir dessa maneira?
Fernanda Torres: Fazer uma entrevista a partir da ignorância é um lugar muito confortável, porque isso cria uma fonte de identificação muito grande com quem está assistindo ao programa. Vem desse sentimento que todos nós temos. Além disso, dá liberdade de dizer ao entrevistado “eu não sei isso, me explica melhor?”. A estupidez é um lugar muito interessante, porque por um lado te relaxa e por outro te obriga a ir atrás de conhecimento. Te dá coragem de perguntar sem vergonha!

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Foram oito anos de espera entre o episódio piloto do programa, com João Ubaldo Ribeiro, e o lançamento do Minha Estupidez. Você chegou a duvidar, em algum momento, que o programa iria ao ar algum dia?
FT: Eu tenho muitas coisas que ficam na estante, que eu sei que uma hora acontecerão. Mas cheguei, sim, a pensar em, um dia, botar a entrevista na internet. É um material tão precioso! Me falaram que talvez nunca poderia ir ao ar na TV já que a qualidade de captação estava obsoleta para os dias de hoje, aí pensei em jogar online. Porém conseguimos retratar o programa e deu tudo certo.

Como você acha que o público vai encarar essa entrevista feita há tanto tempo, agora, dois anos após a morte do escritor?
FT: O Ubaldo é imortal. Eu acho que as pessoas vão gostar. Ele é de uma inteligência, de um humor! Aquela voz dele lendo… No programa, ele lê a Divina Comédia em italiano e também é realmente impressionante ele declamando um poema escatológico em latim. Ao mesmo tempo, ele conta que apanhava do pai para aprender e que foi aprender filosofia porque o amigo dele estudava e comia muito mais gente que ele.

Além disso, ainda tem o Evandro Mesquita interpretando o canibal Caboco Capiroba do Viva o Povo Brasileiro. É um programa muito especial! Esse episódio demonstra que você não precisa baixar o nível na TV. Você tem o Ubaldo, o Latim, a comédia de Dante, o Caboco Capiroba… E é superlegal! Um programa de cultura e entretenimento ao mesmo tempo.

Você acha que falta entretenimento de qualidade?
FT: Isso não é só aqui, é mundial. O entretenimento está mais grosseiro. Com algumas exceções, existem séries de TV que fazem coisas muito finas… Eu vejo por mim: vou ao cinema para assistir filme de super-herói, os cabeças eu vejo em casa. A tecnologia caminhou mais rápido que as artes. E eu não quero dizer que antes era melhor, mas hoje tudo é mais massificado. Acredito que é totalmente possível fazer entretenimento com boa formação.

E essa ideia de misturar entrevista com ficção?
FT: Isso vem da minha experiência como atriz. Não sou entrevistadora, tem quem faça melhor. O programa Roda Viva, o Pedro Bial, o Jô, a Marília Gabriela… Dou uma lista gigantesca. Então, quando fiz a entrevista com o Ubaldo, já tinha planejado as esquetes, porque atuar é a minha área e o programa nasceu de mim afinal. Tanto de uma curiosidade, quanto da herança de fazer ficção.

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Entre as obras escolhidas para serem trabalhadas em cada capítulo, teve alguma que lhe marcou de um jeito especial?
FT: Quando fui entrevistar a Manuela [Carneiro da Cunha, antropóloga indigenista], eu li Tristes Trópicos do Claude Lévi-Strauss. Eu tinha curiosidade de lê-lo desde que Caetano [Veloso, cantor e um dos entrevistados] cantava “O antropólogo Claude Lévi-Strauss detestou a Baía de Guanabara” [trecho da música Estrangeiro], e eu pensava “será que ele é um francês insensível?”. Enfim li para entrevistá-la e foi um livro importante para todas as entrevistas, menos a do Ubaldo, que eu já tinha feito. Foi escrito em 1955 e as questões atuais estão todas lá: a questão ambiental, a crise do ocidente… Esse livro devia ser dado na escola.

Você costuma ler muito?
Eu tenho uma penca de livros no meu quarto que eu vou lendo aos poucos. Eu não sou uma leitora rápida, mas sou persistente.

É pecado um ser humano não apreciar literatura?
FT:  Acho que não. Mas ela é um mundo incrível, está tudo lá. No programa do Ubaldo, eu falo que, quando eu soube que o Marcola líder do PCC tinha lido Dante Alighieri na prisão, eu me senti muito ameaçada por o dono de uma facção ter esse conhecimento. O Ubaldo fala que uma pessoa, certamente, tem a capacidade de formar ligações dentro dela com as coisas que lê e que essas ligações fortalecem o pensamento dela.

Aliás, eu não sou erudita, nem acadêmica. Sou uma pessoa com a formação bem caótica, mas gosto de ler. Porém ler exige tempo, imersão e concentração, que são coisas raras, quase um luxo. As séries, por outro lado, são um perigo, uma espécie de vício! Por isso eu gosto de assistir coisas como Marco Polo e The Borgias, com as quais aprendo muito. Tentei ver Game Of Thrones logo após Borgias e fiquei entediada.

E por que vale a pena insistir na leitura se existem tantas séries boas?
São experiências diferentes. O livro é na sua mente e a mente é 4D. Só você imagina a história daquela maneira. O Românovitch, de Crime e Castigo, só para mim é daquele jeito e para mais ninguém. Isso é muito poderoso! As coisas acontecem na sua mente.

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E onde o Minha Estupidez se encaixa nisso tudo?
Eu acredito que as pessoas vão ficar surpresas com o programa. Ele é uma coisa meio estranha. São entrevistas que, de certa forma, falam das mesmas coisas. Hoje, olhando todos juntos, vejo que ele vem em uma hora que estamos muito contundidos, como se doença, política e economia fossem o único assunto. E, de repente, você descobre que tem gente por aí falando de outras coisas, das nossas raízes. Acredito que é um programa revelador sobre o Brasil e sobre nossa fundação.

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