Mais popular do que o marido, Michelle Obama virou uma máquina de gerar dinheiro para grifes. Imitada pelas americanas, ela rende US$ 2,7 bilhões para a indústria da moda da maior potência mundial
Michelle Obama é hoje uma usina geradora de boa vontade e dólares. Muitos e muitos dólares. US$ 2,7 bilhões, mais precisamente. Estudo recém-publicado pelo economista David Yermack, da prestigiada Stern Business School, da New York University, crava que esta é a quantia que a popular primeira-dama americana rendeu às grifes de roupas e acessórios que escolheu para usar em suas quase sempre vistosas aparições em público e isso só até o fim de 2009, o primeiro ano da administração de Barack Obama. Desde Jackie Kennedy, na década de 60, uma primeira-dama não tornava tão próxima a relação entre moda e poder. Mas, ao contrário da adorável diletante Jackie, Michelle sabe o efeito que causa.
Exemplo de elegância segundo todos os editores de moda do país, ela é presença constante nas listas de personalidades mais bem-vestidas do mundo. Mas o Efeito Michele, detectado no estudo de Yermack, se deve à particular capacidade de alavancar vendas como nenhuma outra. E o que, afinal de contas, explica todo esse poder fashion? Em entrevista a LOLA, o economista aponta as razões desse tsunami americano.
Em primeiro lugar, explica o acadêmico, Michelle transmite uma espontaneidade valiosa em uma indústria que gasta fortunas para associar celebridades a roupas. Como uma primeira-dama não é paga para endossar este ou aquele estilista, o consumidor dá maior valor ao que considera uma escolha sincera, explica Yermack. Em segundo lugar: por conta de suas características físicas, Michelle gera empatia maior com as consumidoras que querem imitá-la. Musculosa, mas com os quadris largos da maioria das mortais, ela é para o público médio uma modelo mais eficiente que uma subnutrida Kate Moss.
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E, última e boa razão: Michelle teve a esperteza de levar para as solenidades oficiais da Casa Branca a estética hi-lo, aquela combinação no mesmo look entre peças caras de estilistas grifados com outras de marcas acessíveis, vendidas por lojas como J. Crew e Talbots. Imagine se, no momento de mais alto desemprego das últimas três décadas, a Casa Branca abrigasse uma versão de Maria Antonieta? A combinação desses atributos é avassaladora. Minutos depois de ela ser fotografada com uma blusa, diz Yermack, o público sai clicando nas mesmíssimas peças nos sites de compras. É o cenário perfeito para quem não resiste ao impulso de compra.
Diante de tantos atributos, poucas mulheres no mundo têm hoje tanta influência. A começar pela ex-modelo que se tornou primeira-dama do país que inventou a alta-costura. Carla Bruni Sarkozy, diz Yermack, não pode competir com Michelle, porque ela só usa Dior, inacessível para a maioria dos franceses. Substituir uma grife por outra não adiantaria Bruni teria simplesmente de abrir mão da alta-costura. E não teria muitas opções: se fosse surpreendida vestindo um estilista estrangeiro, seria moralmente guilhotinada pelo nacionalismo gálico.
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Enquanto isso, a americana nada de braçada, multiplicando não apenas os lucros em torno de sua imagem, mas também a sua popularidade. Numa retumbante viagem à Índia no mês passado, ela escolheu cores e acessórios com mensagens precisas. Michelle Não Usou Um Sári, manchetou o Times of India, o maior jornal de língua inglesa da Índia, com 7 milhões de leitores. Não, ela foi mais astuta e não bancou a desajeitada americana fingindo adaptação instantânea a uma cultura que não conhece: usou tecidos finos e bordados com formas que destacam as curvas do corpo atlético. Com esse figurino, tirou os sapatos, pulou amarelinha e se deixou cair numa dança com crianças, um momento registrado em vídeo que se tornou viral na internet. Michelle Obama para Presidente, pediu uma colunista do mesmo jornal. Quase ao mesmo tempo, Barack amargava uma derrota histórica nas eleições legislativas.
David Yermack lembra que o poder de Michelle é extraordinário quando se leva em conta que, durante a campanha presidencial de 2008, ela foi atacada na imprensa como uma esquerdista ressentida. Sua tese de graduação em Princeton, onde se formou em Direito, foi mantida fora de circulação porque tratava de questões raciais num campus predominantemente branco. A trajetória de possível pedra no sapato eleitoral para a estrela que rouba a cena em cores vivas e faz cardigãs, vestidos ou cintos desaparecerem do estoque quando a peça entra para o seu figurino público, fascina o economista. Eu não entendo de estilo, mas sei o quanto a moda é volúvel. O que quer que Michelle use, continua vendendo dois anos depois da eleição de Barack Obama e independentemente da queda de popularidade do presidente.
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O fenômeno Michelle Obama tem ainda outros constrastes. As duas outras mulheres poderosas nos Estados Unidos não podiam ser mais avessas à moda uma porque não quer, a outra porque não pode. A estrela republicana Sarah Palin acaba de estrear num reality show na TV americana, mostrando sua vida ao ar livre no Alasca. Ela não só é capaz de abater com seu rifle um alce de 400 quilos como supervisiona a chegada da presa à panela da sua cozinha. O guarda-roupa exigido para este estilo de vida, convenhamos, é um pouco limitado: inclui muita borracha e pouca forma. Quando tentaram dar um banho de loja na namoradinha da ultradireita americana, na campanha presidencial de 2008, o resultado foi um miniescândalo financeiro, com gastos que chegaram a US$ 150 mil.
Já Hillary Clinton, com seus terninhos e sapatos baixos, foi crucificada com uma misoginia cruel, até mesmo entre mulheres jornalistas. Mas a ex-primeira-dama, desfrutando hoje de enorme prestígio e popularidade como secretária de Estado, marcou seu território desde o começo, na presidência do marido, Bill. Ela queria inspirar política e não estilo. Além de admitir uma perene derrota na luta contra a balança, Hillary exibe confortavelmente seu desinteresse pela moda.
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A injeção de ânimo que a primeira-dama deu na indústria de moda logo em seguida ao crash de setembro de 2008 inclui um ingrediente irresistível para a psique americana. Ao fazer combinações surpreendentes de cores, ao casar a alta-costura com a moda produzida em massa, Michelle dá o recado de independência que as americanas gostam de ouvir. Depois de uma geração de mulheres que tentaram competir com os homens vestindo o masculino corporate look dos terninhos e tailleurs, Michelle é uma virada de mesa: brejeira nos estampados florais, brincalhona nos leggings sob vestidos, ousada na escolha de designers emergentes com nomes internacionais, como Thakoon Panichgul, Jason Wu e Isabel Toledo.
Pela primeira vez em várias gerações, Washington tem uma primeira-dama que explora com elegância a sua sensualidade. Quando, no começo do mandato, Obama fez um trocadilho com os famosos braços muscolosos da primeira-dama, Michelle has the right to bear arms (Michelle tem o direito de portar armas, arms, em inglês, quer dizer armas ou braços), mal podia imaginar o real poder de fogo de sua mulher.
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Vingança gostosa
Em 1981, a mãe de Catherine Brown, colega de quarto de Michelle Lavaughn Robinson no dormitório da universidade de Princeton, reclamou: não era de bom-tom que sua filha, entre tantos herdeiros de famílias poderosas, passasse o ano letivo convivendo justamente com uma das 94 calouras negras da instituição. Corta. Há dois meses, Michelle, agora Obama, diplomada por Princeton e Harvard, foi eleita pela revista Forbes a mulher mais influente do mundo. A publicação apontou a capacidade de tomar conta do cargo de primeira-dama e de manter a popularidade ascendente como grandes trunfos de Michelle. É uma equação que transforma a mãe de Malia e Sacha em uma mulher com carisma suficiente para empreender grandes cruzadas. Uma delas: à frente da campanha Let`s Move, contra obesidade infantil, a senhora Obama arrancou de empresas como Coca-Cola, Kelloggs e General Mills a promessa de reduzir as calorias de seus produtos até 2015.