Marta, a rainha da bola
Ela é jovem e tem muita ginga nos pés. Marta Vieira da Silva é a alagoana que chama atenção por onde quer que passe
A jogadora de futebol Marta,
a melhor do mundo, dá show
em qualquer apresentação
Foto: Eduardo Monteiro
Se tivesse dado trela às críticas que recebia quando era criança, Marta Vieira da Silva não seria quem é. Nascida em Dois Riachos, município com 12 mil habitantes no interior do Alagoas, desde que se entende por gente empurra uma bola com o pé. O futebol corre nas veias, talvez injetado pela própria família. ?Deve ser de sangue mesmo. Lembro de todo mundo jogando ? tio, primos… E eu no meio!?, conta.
No início de 2007, Marta conquistou a Bola de Ouro, prêmio dado pela Federação Internacional de Futebol (Fifa) para “o melhor do mundo” – no caso, a melhor. O título insistia em bater na trave: nos dois anos anteriores, Marta havia ficado em terceiro e segundo lugar, respectivamente. Desta vez, ninguém roubou o gol dessa atacante, que já driblou muita coisa na vida.
Preconceito masculino
Caçula de cinco irmãos, desde cedo só queria saber de futebol. Chegava a fugir da escola para as partidas, que aconteciam na beira de um riacho, na quadra perto de casa ou em qualquer outro espaço onde fosse possível bater uma bola. Nas aulas de educação física, até que tentaram levá-la para o handebol, mas ela não queria ter as bolas nas mãos. Só nos pés. ?Marta sempre dizia: ?Quando crescer, vou jogar futebol??, lembra o irmão Valdomiro Vieira dos Santos, o Valdir.
Ainda bem que a moça era insistente, porque não foram poucas as barreiras no meio de campo. Sendo sempre a única mulher entre um monte de moleques, o preconceito rolava solto. Os comentários incomodavam os irmãos, que tentavam barrar suas investidas. Era comum escutarem: ?Como vocês deixam?? ou ?É feio isso de mulher ficar jogando?, entre tantos outros pitacos chatos. Mas a craque não mudava a tática: ?Eu encarava aquilo como um incentivo para não desistir?, diz. E ai de quem se metesse em seu caminho! Ela brigava, discutia e, se necessário, saía na porrada.
Motivo de briga
Em muitas ocasiões, as brigas começavam por inveja alheia. O irmão, Valdir, relembra certo jogo em um sítio: ?Andamos a pé uns cinco quilômetros para a partida. Nosso uniforme era uma blusa branca pintada com esmalte. Marta tinha uns 8 ou 9 anos. No jogo, driblou um, dois, três… e os garotos começaram a ficar bravos. Um deles a derrubou e ela começou a chorar. Vi que era melhor ir embora, porque ia sair briga?. É… o talento da Marta incomodava.
Tanto que, quando tinha uns 12 anos, foi proibida de jogar no campeonato da vizinha Santana de Ipanema, pois era a única menina do grupo! Não tardou para ela ser convidada para atuar no Rio de Janeiro. Deixou a família e partiu para a capital, onde passou pelo Vasco. Outro pulo na história e a jogadora foi chamada para integrar um time na Suécia, em 2004.
Vontade de desistir? Que nada! Marta dá chapéu em tudo. A única coisa que a deixa na defensiva é a falta de apoio para o futebol feminino brasileiro. Essa, aliás, é a barreira que encontra para retornar ao país. ?Aqui não tem estrutura. Se tivesse, voltaria?, diz a atacante, que veste a camisa da seleção canarinha. Enquanto isso não acontece, seu recado é ligeiro como seus passes: ?Quem tem um sonho não pode desistir nunca. Se quer chegar a algum lugar, tem que se dedicar muito, se doar e não desperdiçar nenhuma chance?. Palavras de quem bate um bolão!