Adepta desde os 12 anos de idade da filosofia japonesa Seicho-No-Ie, Marcelle Chauvet gosta de meditar, fazer ioga e de dedilhar Gilberto Gil e Caetano Veloso no violão em sua casa, na ensolarada Manhattan Beach, a 100 quilômetros de Los Angeles, onde vive desde 1994. Mas a economista brasiliense sabe combinar muito bem a vocação zen com as coisas espinhosas deste mundo. Chefe do Departamento de Estudos Latino-Americanos da Universidade da Califórnia, ela é responsável por um dos modelos estatísticos que o Federal Reserve (FED), o banco
central dos Estados Unidos, usa para prever ciclos de recessão econômica no país.
Com título ligeiramente assustador Modelo de Fator Dinâmico com Regime de Markov , seu estudo é considerado um dos mais eficazes entre os vários que tentam detectar em tempo real a probabilidade de crises e, com isso, atenuar as consequências ruins. Baseado nas teorias do matemático russo Andrei Markov (1856-1922), o modelo de Marcelle se destacou por saber ler com grande precisão os sinais que apontam aquele momento em que uma economia, após anos de ascensão, embica (como numa montanha-russa) rapidamente para baixo. Foi o que aconteceu, por exemplo, na crise de 2008 aquela que fez estrago geral nos Estados Unidos e no mundo (aqui foi a tal marolinha
). A quebradeira começou depois de anos de crescimento de uma bolha imobiliária, na qual as condições de empréstimos eram favoráveis ao endividamento. Quando os juros começaram a subir, a bolha estourou.
Para ser adotado no Federal Reserve de Washington, o modelo de Marcelle passou antes pelo FED regional de Atlanta, onde ela trabalhou de 2001 a 2004. Baseando-se em quatro indicadores renda, emprego, produção industrial e venda de produtos manufaturados , ele já se mostrou eficiente na crise de 2001. Elogiado pelo Comitê de Economia do Congresso Americano, o método ganhou prestígio. Ele deu início a uma promissora linha de pesquisa, que consideramos a mais adequada para desenvolver um sistema de alerta contra crises, afirma Gabriel Pérez-Quirós, chefe da Divisão de Estudos Macroeconômicos do Banco Central da Espanha.
Modelo do creme barato
Formada na Universidade de Brasília, Marcelle foi para os Estados Unidos em 1990. Fez sua tese de doutorado na Universidade da Pensilvânia e se mudou para a Califórnia em 1994. Apesar de ser tão bem-sucedida, pensa em voltar para o Brasil. O destino me levou a ficar fora, mas, se pudesse escolher, estaria de volta há muito tempo. É que a hipereconomista sente falta dos pais, com quem tem uma ligação mais do que forte. Da mãe, dona Muriel, herdou o incentivo às descobertas espirituais. Do pai, Gilberto, o fascínio pelas descobertas intelectuais e filosóficas.
A boa formação contribuiu para uma vaidade “com consciência”. Mulher do engenheiro Dennis Chwat, mãe de Matthew, de 5 anos, Marcelle não declara a idade, garante que nunca fez plástica e diz que não é apegada a grandes tratamentos estéticos. Mas cuida muito do peso sua maior preocupação. E também passa um cremezinho aqui e outro ali. Com sua filosofia pragmática, diz: “Transfiro para o setor de beleza a minha curiosidade intelectual”. No cotidiano, isso se traduz assim: ela faz pesquisa de cosméticos simples em farmácias de manipulação e evita cremes caríssimos. Segundo ela, eles têm apenas uma quantidade ínfima do produto ativo, que é o que a interessa. “Eu compro o produto ativo puro, separado.” Tudo, como sempre, uma questão de método.