Isabel Fillardis comemora: ‘Depois de tudo o que passamos, sei que Kalel é meu prêmio’
Depois de momentos difíceis, a atriz curte a tranquilidade ao lado dos filhos, em sua casa, no Rio
Isabel Fillardis, Jamal, Analuz e Kalel
Foto: Dario Zalis
Bastam poucos minutos de conversa para ser contagiado pela tranquilidade de Isabel Fillardis, 40 anos. A voz mansa, acompanhada de trejeitos suaves, logo transmitem a serenidade do momento atual. Guerreira, como ela mesmo se define, a atriz brinca ao dizer que nada em sua vida foi fácil. “Dizem que Deus marca algumas pessoas para não perdê-las de vista. Acho que Ele fez isso comigo”, diz entre gargalhadas. E em sua terceira gestação, ela, que já era mãe de Analuz, 13, e Jamal, 10, diagnosticado com síndrome de West (forma de epilepsia que se inicia na infância), teve de enfrentar mais uma marquinha.
Encorajada pela primogênita, a atriz resolveu dar corda ao desejo reprimido e engravidar mais uma vez. Mas, durante os exames, descobriu que um encurtamento do útero, consequência de uma microcirurgia feita um ano antes por causa de uma inflamação, poderia causar um aborto antes mesmo de chegar ao terceiro mês. “Diante dos riscos, optei por não ter, mas já estava grávida”, lembra emocionada. E, como era de se esperar, a gestação não foi fácil. Com três meses, foi internada com um grande sangramento e levada às pressas para a emergência de um hospital próximo de sua casa, na zona oeste do Rio de Janeiro. “Foi horrível. Achei que tivesse perdido meu filho. Saí de lá com recomendação de repouso absoluto até o nascimento”, lembra.
Na hora do parto, outro susto. Prematuro de oito meses, o pequeno teve uma apneia e parou de respirar nos primeiros momentos de vida. Por precaução, ele ficou internado por 15 dias na UTI. Ela teve alta em 31 de dezembro, mas ir para casa sem o bebê era como se estivessem enfiando uma faca em seu peito. “Perto da virada, meu marido (o engenheiro ambiental Júlio Cesar, 48) foi para o hospital e eu, que estava operadérrima, fiquei aqui com Analuz e Jamal.” Ao olhar o caçula hoje, cheio de saúde, Isabel conclui emocionada: “Depois de tudo o que passamos, sei que Kalel é meu prêmio!”, diz acariciando a cabeça do menino enquanto o amamenta.
Casa cheia! Isabel Fillardis, Kalel, Analuz e Jamal.
Foto: Dario Zalis
Amor entre irmãos
Xodó da casa, o novo herdeiro chegou para agregar ainda mais amor à família. Completamente apaixonada, Analuz não perde uma oportunidade de segurar o irmão. “Ele é muito fofo!”, derrete-se enquanto pressiona o rostinho do bebê contra o seu. Jamal também faz suas demonstrações de afeto, mas, por causa de ciúme, é preciso ser supervisionado. “Apesar de estar mais crescidinho, pede atenção o tempo inteiro. Às vezes, empurra o irmão, depois abraça… Fica entre o amor e o ódio (risos)”, brinca a atriz.
Ao fazer um balanço de sua vida, Isabel garante que o saldo é positivo. E as dificuldades e aprovações serviram, de alguma forma, como aprendizado. No entanto, deixa claro que não saiu ilesa com as trombadas que o destino lhe deu. Passados os primeiros anos mais críticos da vida de Jamal, ela desmoronou. “Tive momentos depressivos, mas eu reagi de outra forma. Foram problemas de saúde, que não vieram a público”, admite a atriz referindo-se à sua doença de pele, da qual fala com exclusividade para a equipe de CONTIGO!.
Há cerca de sete anos, Isabel Fillardis começou a notar diferenças na pigmentação de sua pele, que, aos poucos, foi escurecendo. “Meu rosto ficou da cor daquela bolsa”, compara apontando o acessório de cor preta. Preocupada, percorreu vários especialistas e se desesperou ao ouvir que sua doença não tinha cura. “Os médicos falavam que eu não iria ficar boa, que era muito raro, difícil, que era uma doença da alma”, lembra.
O diagnóstico só veio três anos depois de se consultar com a dra. Katleen Conceição, especialista em pele negra. “O que eu tenho é uma doença chamada Líquen plano (que afeta a mucosa e a pele e atinge apenas 2% da população).” Isabel, que sempre foi referência de beleza, viu sua imagem se degradar. “Foi um período de sombras, muito amargo. As pessoas me olhavam e cochichavam. Chegaram a ligar perguntando se era câncer”, conta.
A escolha por omitir a doença foi por preservação. Ciente da exclusão por causa de sua imagem, Isabel desabafa: “Imagine se eu declaro naquele momento o que eu tinha?”, questiona. “Já sei que existiram várias coisas que me cortaram e me tiraram por causa da minha aparência”, complementa. Com a pele visivelmente melhor e equilibrada emocionalmente com ajuda de terapia, ela acredita que tudo foi de fundo emocional. “A minha doença era a dor que estava saindo. Mas como você vai explicar isso para as pessoas? Elas não querem entender isso. O mundo em que eu vivo e trabalho é cruel, artificial e superficial”, afirma.
De volta ao trabalho
Já com a família organizada e ajuda se seu staff, composto por babá e empregada, além da família, que está sempre a seu lado, Isabel conta os dias para voltar ao trabalho. “Chega uma hora em que você tem necessidade de produzir”, afirma. Com direção de Lázaro Ramos, 35, ela está produzindo o musical sobre a vida de Lapinha, cantora e atriz do século 18. “Precisava dessa realização para me sentir mais completa”, comemora ela, que, além do espetáculo, toca em paralelo o projeto Fillardiando, em que faz participações no show de samba do irmão, Júnior, 30. “Está sendo maravilhoso! Já tinha um tempo que estava pensando em fazer algo com ele”, comemora.
O nascimento de Kalel foi um momento de vitória para a família
Foto: Dario Zalis