Giovanna Antonelli e o amor por outra mulher na novela Em Família: “Claro que eu faria o beijo gay”
A atriz encara o desafio polêmico de interpretar a personagem Clara
Giovanna cortou a franja e ficou mais bronzeada para viver Clara. Foto: Antonio Amado
Giovanna Antonelli, 37 anos, está diferente. Com 20 anos de Globo, a atriz está mais reflexiva, e isso tem a ver com o atual trabalho. Na trama de Manoel Carlos, 80, ela foi escalada para viver uma dona de casa que vai encarar uma dúvida daquelas: enfrentar ou não uma história de amor com outra mulher?
Sua personagem, Clara, é casada com o chef Cadu (Reynaldo Gianecchini, 41), mas se envolverá com a fotógrafa Marina (Tainá Müller, 31). Giovanna afirma que não vê problema se tiver de gravar uma sequência de beijo com Tainá. “Em todos os meus trabalhos, visto a camisa, vou com tudo! É claro que eu faria o beijo gay”, garante.
Ela encara o papel com toda naturalidade. Foto: Antonio Amado
Última Helena
Nascida e criada no Leme, zona sul do Rio de Janeiro, a atriz estourou na TV como a garota de programa Capitu, de Laços de Família (2000), novela também assinada por Manoel Carlos. “Foi um divisor de águas na minha carreira”, frisa orgulhosa. Perguntada se gostaria de interpretar a icônica Helena, a atriz lembra que o autor anunciou que a atual, vivida por Julia Lemmertz, 50, é a última. Mas que seria uma honra defender a heroína. “Deve ser incrível fazer uma personagem que tem esse carinho declarado pelo autor. Helena é do Maneco! Mas, sempre que ele me chamar, eu vou estar dentro, não importa se é para ser ou não a protagonista. Confio totalmente nele”, derrete-se.
Manoel Carlos também confia em Giovanna para defender um papel nada fácil como o de Clara. “Quando eu era jovem, os homens conservadores acabavam, com o tempo, se acostumando com os gays, mas não admitiam o homossexualismo feminino. Eu me lembro que se falava na palavra ‘nojo’, quando se falava em lésbicas, e que se associava os gays à comédia no cinema, no teatro e, depois, na televisão. Já as lésbicas soavam trágicas. Custou muito a sociedade admitir que as mulheres sentem amor por outras mulheres. Durante muito tempo o lesbianismo foi associado ao vício. Homossexualismo feminino era um vício, uma doença perigosa que precisava ser tratada e que envergonhava a família mais do que os gays”, diz o autor. Giovanna esquenta o assunto: “Quantas pessoas vivem essa questão hoje em dia e não têm coragem de testar?”
Humor na receita
Conhecida por roubar as cenas nas novelas das quais participa, como aconteceu com a delegada Helô, de Salve Jorge (2012), de Glória Perez, 65, Giovanna tenta escapar do assunto. “Ah, gente, lá vem vocês com isso”, diz tímida. “O público é que elege as suas personagens preferidas. Não tem jeito, né?, disfarça a atriz. Mas ela acaba revelando um pouco de suas armas para conquistar o telespectador. “Procuro sempre me entrosar com o elenco, com o meu parceiro de cena. E eu me entroso até com uma parede, brinca ela. Outro segredo é pôr uma pitada de humor em seus diálogos. “Sempre tento tirar algo divertido dos textos, porque a vida sem humor não tem a menor graça”, sentencia. “E a Clara também é uma mulher muito verdadeira, autêntica. Acho que isso vai fazer com que as pessoas queiram acompanhar o frisson pelo qual ela vai passar”, aposta Giovanna, que, no decorrer da novela, adotará um visual mais moderno. Com a Marina, um mundo novo se abrirá para a Clara.
Papo sério
O papo com Giovanna só fica muito sério, com direito à testa franzida, quando o assunto é maternidade. Ela confessa que gostaria de ter mais um bebê. Mas pensa também no futuro da prole. “Querer não é poder. Se o mundo me mostrasse uma luz no fim do túnel para tantas desigualdades, se o nosso país se preocupasse com a educação das nossas crianças, acho que eu teria uns dez filhos. Mas já tenho três grandes responsabilidades. Preciso parar para pensar se é justo. E não é por mim, é por eles. Não posso achar que a vida é linda e maravilhosa vendo um monte de gente se ferrando por aí. Como eu vou dormir bem com tanta injustiça social a meu redor?”, lamenta.
ESTA MATÉRIA FAZ PARTE DA EDIÇÃO 2006 DA CONTIGO!, NAS BANCAS EM 26/02/2014.