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Eliana, a dona do domingo

Com 3 décadas de carreira, ela conquistou credibilidade e fãs, é sucesso na publicidade e, aos 45 anos, quer aproveitar imensamente o hoje

Por Texto: Alessandra Balles | Fotos: Rodrigo Marques (OD MGT)
Atualizado em 18 fev 2020, 11h01 - Publicado em 28 fev 2019, 18h02

Arthur, de 7 anos, assiste a um filme e chora. Manuela, de 1 ano e 3 meses, abraça o irmão. Eliana presencia a cena e se emociona com o gesto de carinho entre os filhos. São eles que têm proporcionado aprendizados importantes, entre eles que não se tem controle sobre tudo. A gestação da caçula, fruto de seu relacionamento com o diretor de TV Adriano Ricco, foi de alto risco.

A apresentadora ficou hospitalizada e cinco meses fora do ar na atração que leva seu nome no SBT, a única comandada por uma mulher no competitivo horário das tardes de domingo. Ela e a bebê corriam risco de morte. Três meses antes, Eliana já havia sofrido um aborto. “Esse episódio me mostrou que preciso viver o hoje. Posso ser mais maleável e gentil comigo mesma e menos crítica. Estou trabalhando isso.”

Aos 45 anos, é um aprendizado e tanto para quem é conhecida por ter um cuidado minucioso sobre cada detalhe de sua carreira, uma das mais sólidas da TV brasileira. Nada vai ao ar sem a sua aprovação. No camarim, pode pedir que os roteiristas alterem alguma palavra do texto para que fique mais compreensível para o público. “É uma Ferrari da TV”, diz um dos colaboradores da emissora sobre como ela domina o que faz.

(Rodrigo Marques (OD MGT)/CLAUDIA)

Nos negócios, também acompanha tudo de muito perto. São licenças, campanhas, merchandising. Os perfumes, a maior potência, somam mais de 4 milhões de frascos vendidos, recorde na Jequiti.

“Em tudo que me representa de alguma maneira, estou desde o início. Nos licenciamentos, na minha editora de livros (a Master Books), na escolha dos quadros do programa. Sem dúvida, nada acontece sem que eu saiba ou participe. Gosto particularmente de estar presente na área comercial da TV, entender o que o cliente quer, visitar a fábrica, saber dos donos. É uma troca de credibilidade e de responsabilidade.”

A dedicação se reflete nos números. Ela está, por exemplo, entre as dez celebridades que mais aparecem em publicidade televisiva.

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Com transições de carreira bem-feitas, Eliana Michaelichen chegou até aqui. A rainha dos domingos foi superestrela infantil depois de integrar os grupos Banana Split e A Patotinha. Outrora, apenas a filha do seu José e da dona Eva. “Meu pai chegou do Ceará de pau de arara. Fez cursos e aprendeu a ser mordomo. Minha mãe veio do Sul, de onde traziam as moças para serem babás nas famílias tradicionais de São Paulo. Eles se conheceram nessa situação. Quando minha irmã nasceu, não puderam mais ficar na casa onde trabalhavam. Meu pai teve a ideia de seguir a profissão de um primo, zelador, e procurar emprego em bairros bem localizados para que estudássemos em boas escolas estaduais e tivéssemos influências positivas.”

(Rodrigo Marques (OD MGT)/CLAUDIA)

José trabalhou como zelador por 30 anos no mesmo prédio nos Jardins, onde Eliana nasceu e, quando se estabeleceu, comprou um apartamento para a família. “Convivo agora com muitos moradores que me viram crescer. Eu brincava com os filhinhos de quem hoje é minha obstetra, e eles, agora médicos, participaram dos meus dois partos.” Eliana conta que, como filha do funcionário, chegou a viver episódios de preconceito.

“Uma vez ouvi: ‘Eu não quero esta menina, filha do zelador, brincando com o meu filho’. Lógico que fere, mas não foi uma coisa que me diminuiu a ponto de atingir minha autoestima”, diz. “O que tento passar para os meus filhos, que já nasceram em berço de ouro, é que o material não vale nada se você não é uma boa pessoa. Um exercício diário é tentar colocar o Arthur, que já entende um pouco, do outro lado. Por exemplo, não desperdiçar comida porque há quem não tenha.”

Ela não se esquece da empatia pelo outro nem na hora dos negócios. “Desde o início eu tinha em mente o educativo (como o caso de Os Dedinhos, que ela criou porque o programa não tinha cenário e ela aparecia só da cintura pra cima, mas a musiquinha e a coreografia ajudam a criança a desenvolver a coordenação motora fina). Achava importante não ter só brinquedos muito caros, porque eu pensava na época em que queria uma boneca e não podia.” Acabou tendo bonecas com seu nome, à sua imagem e semelhança, reproduzidas às milhares. Em suas ações de merchandising, Eliana nunca experimentou, por exemplo, um sorvete ou iogurte. “Ia gerar uma vontade muito grande nas crianças pobrezinhas, que não poderiam ter aquilo. Eu vivi isso na infância.”

Desde muito cedo o público acompanha Eliana na TV – a carreira já completa 30 anos. Sua primeira aparição foi na icônica publicidade da Valisere, aquela do primeiro sutiã, protagonizada por Patrícia Lucchesi. “Sempre fui muito desinibida, desde pequena, e queria ir para a televisão. Não foi minha mãe que achou que eu deveria ser artista, partiu de mim mesmo. Quando me vi na tela, pensei: ‘Olha lá, consegui’. Era uma espécie de presente do destino.”

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Com o grupo Banana Split participou de aparições no Silvio Santos. Em uma delas, ele a convidou para ficar à frente de um programa infantil. Eliana cita Silvio como a pessoa que viu nela a capacidade de se comunicar e de apresentar, que nem ela sabia que tinha. “Tive a oportunidade de conviver com várias pessoas e, com a minha curiosidade aguçadíssima, fui captando, aprendendo, observando, me aprimorando.” Em todos os seus trabalhos, foi se fazendo sozinha, sem medo de se reinventar.

Eliana comandou programas infantis por 16 anos, até que o sucesso a levou às tardes de domingo. “Eu faria um à noite, de entrevistas, estilo Hebe Camargo, mas foi realizada uma pesquisa e o resultado mostrou que eu deveria ir para esse outro horário. Fiquei feliz porque percebi que não deixaria de falar com esse universo das crianças; pelo contrário, iria ampliá-lo. Como em tudo, nós, mulheres, temos que provar em dobro. Então, ao longo desses anos, precisei ir mostrando, com o meu know-how, o meu carisma, o que eu já vinha fazendo para as crianças e podia também realizar para a família brasileira. De maneira humilde, sempre aprendendo.”

Mulher no horário nobre

“A gente estava muito acostumada a ver homens apresentando programas de auditório nas tardes de domingo: Faustão, Silvio Santos, Gugu (e hoje também Rodrigo Faro). Sempre homens. Há 14 anos eu recebi esse presente do público. Não é um programa feminino, mas com um olhar feminino, já que a apresentadora é mulher. O meu papel é tentar desenvolver sempre uma mensagem, além do entretenimento”, explica Eliana, que assiste a seus trabalhos e tenta ter uma visão criteriosa para sempre evoluir.

“Essa inquietude me alimenta, e acho fundamental para a minha carreira. Alguns profissionais estão comigo há 20 anos e nunca me viram explodir, mas pontuando o que poderia ser melhor. Nunca desrespeitosamente, porque acho horrível. Eu já tive, no meu caminho, diretor chutando a porta do camarim e gritando comigo na frente das pessoas. Eu vivi na pele, e é muito constrangedor e desestimulante.”

A construção dessa veia feminina, que acaba sendo preponderante no programa, aconteceu em casa. “Venho de uma família de mulheres fortes, empoderadas, mesmo antes de essas palavras estarem no vocabulário da nossa sociedade. Minha avó ficou viúva muito cedo, cuidou de sete filhos sozinha e trabalhou na lavoura. Nunca teve um segundo parceiro. Minha mãe veio jovem do Paraná para São Paulo, com 17 anos, e se casou com meu pai aos 21. Sempre foi uma mãezona, cuidava superbem de mim e da minha irmã, mas trabalhava muito. Quem tratava das finanças da casa era ela. E tudo isso sem perder a feminilidade. Minha mãe ia fazer faxina, cuidar da casa dos outros, bem-arrumada, com um batonzinho. Elas me inspiraram muito. Vi a sabedoria feminina desde cedo. Quando me dei conta, também era uma dessas empoderadas. E estava entrando no meio onde antes só havia homens. Sem dúvida, se já aconteceu de eu ter sido peitada por homem ou não ter sido tão respeitada, respondi à altura, como faria também se fosse uma mulher.”

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(Rodrigo Marques (OD MGT)/CLAUDIA)

Eliana acredita que o apoio entre as mulheres está mudando e se tornando mais explícito. “Percebo uma união muito forte em todos os aspectos: políticos, sociais… Uma levantando a outra. No passado, fomos criadas com padrões machistas, e hoje estamos de olhos mais abertos. Aí nos damos conta de que temos os próprios valores, desejos, que podemos nos realizar no trabalho, ter prazer sexual, que não precisamos ser um receptáculo da libido masculina.” Eliana é feminista? “Se ser feminista é lutar pela igualdade, sim. Existe um olhar errado de que feminista não gosta de homem; pelo contrário, eu amo.”

No programa, essa vontade de mudar a condição feminina se traduz nas muitas personagens que têm suas histórias contadas e em quadros como o que foi ao ar em 2016. Tocada pelo caso da menina estuprada por vários homens no Rio de Janeiro, Eliana insistiu para que se falasse sobre violência contra a mulher. “Aquilo me doeu na alma e estava reverberando de uma maneira tão forte que eu não poderia deixar quieto. Tive de me colocar e mostrar para a direção que seria uma importante prestação de serviço. Foi disruptivo um programa de auditório, de entretenimento, falar sobre violência doméstica.”

E no final virou meses de ajuda a mulheres, com a promotora Gabriela Manssur e Marina Ganzarolli, da Rede Feminista de Juristas, no palco. “Ao vivo, pedíamos que as mulheres denunciassem nas nossas redes sociais com a #elianaportodaselas, e certos casos eram encaminhados.” Algumas telespectadoras perceberam que estavam sendo vítimas de violência; outras tiveram coragem de denunciar. Foram cerca de 500 mil pessoas atingidas pela campanha.

Ela mesma já passou pelo processo de análise e compreensão sobre relacionamentos pessoais e tóxicos. “Em muitos momentos, quiseram baixar a minha autoestima, mas não notei que era isso que estava acontecendo. À medida que a gente vai se informando, abre os olhos para a realidade. Às vezes, no trabalho mesmo, subestimam a nossa inteligência.”

(Rodrigo Marques (OD MGT)/CLAUDIA)

Sobre o episódio em que Silvio Santos, ao receber Claudia Leitte no palco, se recusou a abraçá-la e disse que não queria ficar excitado, constrangendo a cantora, Eliana opina: “Silvio Santos é uma pessoa reconhecida como um brincalhão nato. Ele já brincou comigo várias vezes. Eu entendi a Claudia, mas não compreendi a situação como assédio. Vi como uma brincadeira de uma pessoa que já tem esse histórico. Ainda mais com a esposa e as filhas ali presentes. Mais uma vez: me solidarizo com o que a Claudia sentiu, mas, falando como mulher e como alguém que conhece Silvio Santos como pai, marido e profissional, não existe nenhuma história dentro da nossa TV em que ele tenha de fato assediado uma pessoa. Eu sei que isso é bem polêmico, que a brincadeira que ele fez talvez esteja desatualizada para o momento que a gente vive, em que não escapa nada. Foi uma brincadeira inadequada? Foi, sem dúvida. Assédio? Não vejo dessa maneira.”

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O fato teve grande repercussão na internet, ambiente que Eliana também domina. Em 2012, criou o portal feminino Daqui Dali e hoje se aproxima ainda mais do seu público por meio das redes sociais. “Isso se ampliou porque pude dividir minhas fraquezas, meus medos, o que me ajudou muito quando fiquei hospitalizada. Vi essa união em oração, em mensagem, em inspiração. Mandavam fotos de bebês prematuros e, depois, de quando eles já estavam bem e em casa”, conta Eliana, que cursou até o terceiro ano de psicologia.

É ela mesma quem abastece suas redes sociais. Só no Instagram são mais de 17,7 milhões de seguidores. Chega a superar nomes como Madonna e Gisele Bündchen. “Tem uma coisa dessa nova era que me incomoda. Prefiro tirar dez fotos com fãs ou parar de almoçar para atender a ter uma foto roubada. Às vezes, estou na recepção de um consultório médico e vem um flash. Aí olho para outra pessoa na sala e pergunto se quer tirar uma foto. É muito constrangedor”, conta ela.

Eliana está habituada com a atenção das pessoas desde que, sozinha em um shopping, percebeu que o tumulto que se formava era devido à sua presença. Diz que não deixa de fazer nada por ser famosa, vai à feira e ao supermercado. Também participa da rotina dos filhos e tenta adequar sua agenda à deles. “Dou café da manhã para o Arthur (do seu casamento com o produtor musical João Marcelo Bôscoli) antes de ele ir para a escola, vejo lição, converso, arrumo o cabelinho.”

Para 2019, a apresentadora planeja se casar com Adriano Ricco e continuar aprendendo com os filhos. “Sentadinhos brincamos no chão, rimos, sem nos preocuparmos com o que o outro está achando. Sou filha do seu José e da dona Eva, trabalhadores, pessoas que vieram do nada e, com o amor e o apoio deles, consegui meu espaço. Hoje é o momento em que eu me sinto mais livre para viver a minha vida, me apropriar do que conquistei. Ter mais prazer do que obrigação. ‘Bora’ viver.”

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