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Como atriz, Laura Cardoso sonhava eternizar incontáveis vidas

Prestes a completar 93 anos como uma das figuras mais importantes da dramaturgia brasileira, ela sempre esteve envolvida na luta das mulheres

Por Letícia Paiva Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 14 ago 2020, 11h24 - Publicado em 14 ago 2020, 10h00

Foi aos 15 anos que Laurinda de Jesus Cardoso se tornou Laura Cardoso. A filha do casal de portugueses, nascida em São Paulo, em 1927, sonhava em ser artista e começou fazendo testes em rádios. Em 1944, sua voz pôde ser ouvida pela primeira vez durante uma radionovela, na Rádio Tupi. Até ali, enfrentou resistência da família, que não gostava da ideia de a garota seguir carreira no entretenimento. O sucesso seria ainda maior depois de dez anos, com a chegada da televisão ao Brasil. A primeira emissora nacional, a TV Tupi, entrou no ar em 1950 e, apesar dos poucos aparelhos no país, logo estreou teleteatros e novelas; em 1952, foi a vez do programa Tribunal do Coração. A convite da amiga Vida Alves, que protagonizara o pioneiro beijo na boca televisionado, Laura entrou para o elenco da atração. Desde então, ela aparece na telinha anualmente, emendando um trabalho no outro – o mais recente foi em A Dona do Pedaço, em 2019, na TV Globo. A história da atriz, que também se consagrou no teatro e fez o primeiro filme para o cinema em 1963, se cruza com a da dramaturgia nacional.

(Julia Lego/CLAUDIA)

Completando 93 anos em 13 de setembro, Laura agora volta a aparecer na TV com a reprise de A Flor do Caribe (2013), que compensa o adiamento das gravações de novos folhetins como medida de segurança para conter o novo coronavírus. “É sempre bom rever um trabalho. Eu gosto de me assistir, mas com olhar crítico”, diz. Ela deve conferir a novela junto da família, com quem passou os últimos meses, em quarentena. Na casa da filha Fátima, em São Paulo, tem se dedicado à leitura e aos filmes – a atriz também é mãe de Fernanda, as duas são fruto da união de 51 anos com o ator e diretor Fernando Balleroni, falecido em 1980. Foi nesse cenário que ela fez as fotos – por videochamada – para a capa de CLAUDIA. Laura é recordista em papéis em novelas; tem mais de 60 no currículo. Mas ela já fez de tudo. Poucas pessoas sabem que é dela a voz da dublagem de Betty Rubble, personagem do desenho animado Os Flintstones, popular na década de 1960.

(Julia Lego/CLAUDIA)

Com uma carreira tão longeva, que mantém ritmo constante, reinvenção é palavra de ordem. Primeiro, fez a transição do rádio para a TV ao vivo, depois vieram as gravações e hoje tem o desafio do HD. A dedicação, que envolve o aprendizado e a adaptação, é por amor à arte. Laura acredita sempre poder melhorar de um dia de trabalho para o outro – colegas falam que a atriz era uma das primeiras a chegar para os ensaios e a última a deixar o teatro, empenhada em melhorar entonações e trejeitos. Como autodidata e tendo estreado sem passar por uma escola de formação de atores, os constantes ensaios e o perfeccionismo a ajudaram a desenvolver seu trabalho. “Durante todos esses anos, realizei alguns sonhos. O maior foi ter me tornado atriz. Agora, pretendo construir um teatro”, revela. Com sua mente inquieta, ela está sempre criando e pensando nos próximos devaneios que irão ganhar vida. Em diferentes ocasiões, ela contou que, quando recebe um novo personagem, é como se começasse no escuro, esculpindo e, paulatinamente, dando forma aos sentimentos e motivações de sua criatura.

(Julia Lego/CLAUDIA)

As contribuições de Laura vão muito além da cultura nacional. Por toda sua vida, foi uma mulher revolucionária e engajada, que assumiu a luta feminina publicamente mesmo em anos de forte julgamento moral. “Dizem que sou uma mulher à frente do meu tempo”, conta ela, sem discordar. Primeiro, encarou a vida de artista, que, naquela época, era reservada a um certo perfil de mulher – até mesmo os papéis seguiam estereótipos de gênero. “No passado, a maior dificuldade em ser atriz era lidar com o preconceito. As atrizes eram consideradas prostitutas. Felizmente, muita coisa mudou.” Laura se diz feminista desde menina, porque sempre lutou por seus direitos. E também batalha pelo que acredita ser justo para os outros. Já defendeu o respeito às relações homoafetivas e esteve ao lado das mulheres em pautas importantes, como casos de assédio no meio artístico. “A evolução da minha compreensão, sem preconceitos, me fez aceitar mudanças abertamente”, afirma.

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Não dá para dizer que o tempo não passou, mas ele moldou o legado de Laura. Envelhecer significou, para ela, colher mais frutos e de forma tão consistente quanto na juventude. Ela afirma que, por isso, nunca teve medo da passagem dos anos. “Há personagens para todas as idades”, diz. E, conforme o tempo avança, ela pode continuar a realizar seu sonho maior, que nunca chega ao fim, o de viver mil vidas.

(Julia Lego/CLAUDIA)
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