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Claudia Abreu: “Para mim, cuidar dos filhos é questão de caráter”

A atriz rejeita a imagem de mulher perfeita e afirma que ser feliz exige investimento diário. Confira a entrevista na íntegra

Por Alessandra Medina
31 out 2016, 17h05
 (Bob Wolfenson/)
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Já passava das 20 horas quando Claudia Abreu entrou no camarim. Estávamos no Projac, como é conhecido o complexo de estúdios da Globo no Rio de Janeiro. De calça jeans e bata branca, ela ainda precisava se preparar para gravar cenas de A Lei do Amor, nova novela das 9, na qual interpreta a galerista Helô. Antes de começar a conversa, pediu desculpas pelo atraso de duas horas e culpou o trânsito caótico da sexta-feira. Depois de uma olhada rápida no espelho, pediu ao maquiador que fizesse uma compressa de água termal gelada em seus olhos para amenizar as olheiras. Aos 45 anos, casada há mais de 15 com o cineasta José Henrique Fonseca, mãe de duas meninas e dois meninos e uma das maiores atrizes de sua geração, Claudia, além de protagonizar a trama, está escrevendo e produzindo Valentins, série voltada para crianças que estreia no canal Gloob no ano que vem. “Está tudo muito intenso! Quase não tenho tempo para dormir. Mas, quando a vida vai bem, a felicidade transparece e a pele fica ótima. Com uma compressinha, então…”, diz, entre risos.

Não só a alegria traz certa tranquilidade para lidar com a agenda cheia – a maturidade também. A carioca já tem mais de 15 novelas e seriados no currículo, além de nove filmes e sete espetáculos de teatro. “Aqui no Brasil, a memória é curta. Por mais que seja uma atriz consagrada, com uma carreira longa, vários sucessos e prêmios, isso não é garantia de posteridade”, lembra. “Vemos pessoas incríveis, com um passado glorioso, que, quando chegam à velhice, não têm o reconhecimento merecido”, completa. Mas ela diz não ter medo do futuro. Seu segredo: investir em outras áreas, como a própria família. Essa lição, entretanto, não aprendeu rápido. Até a primeira filha nascer, em 2001, a carioca emendava um trabalho no outro, sem parar.

O talento surgiu logo. Na infância, a caçula arteira inventava histórias detalhadas para colocar a culpa de suas travessuras nos irmãos, Rodrigo e Márcia, que têm quatro e dois anos a mais que ela. “Claudia fazia tanto drama que a gente dizia que a Globo estava perdendo uma excelente atriz!”, lembra Rodrigo. Era com ele que Cacau – apelido que ganhou de uma babá e como é chamada pelos amigos até hoje – dividia uma de suas brincadeiras preferidas: interpretar a escrava Isaura, protagonista da novela que fazia sucesso na época. As chibatadas eram dadas pelo garoto com um chicote imaginário, mas a pequena, de 6 anos, se contorcia e gritava de dor como se estivesse levando uma surra de verdade. No entanto, quem recebeu o convite para fazer um curso de teatro no Tablado foi a irmã, tímida e quieta. Márcia logo desistiu das aulas. Claudia, então com 10 anos, praticamente implorou para substituí-la – e conseguiu.

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Bob Wolfenson ()


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Começo oficial

Aos 15, após a apresentação de uma peça com o grupo, foi descoberta pelo diretor Wolf Maya. Ele a levou para o programa Teletema, que contava histórias fictícias emocionantes em apenas 25 minutos. No mesmo ano, apareceu na novela Hipertensão, já na Globo, e em 1989 viveu sua primeira protagonista, a princesa Juliette, de Que Rei Sou Eu? O estouro, entretanto, só viria com Heloísa, a jovem moderna, decidida e militante de Anos Rebeldes (1992). Por causa do papel, a atriz foi transformada em musa dos cara-pintadas (estudantes que foram às ruas pedir o impeachment do presidente Fernando Collor de Mello).

Quando não estava na TV, ela se ocupava gravando filmes ou atuando em peças de teatro. O primeiro intervalo na carreira só aconteceu durante a gravidez de Maria, hoje com 15 anos. Mas, como Claudia não é de ficar parada, enquanto cumpria a licença-maternidade, começou a cursar filosofia na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio. Quando a filha completou 1 ano, voltou para o cinema e, em 2003, retomou a carreira na TV na pele da vilã Laura, de Celebridade – um sucesso estrondoso. Com o nascimento dos outros filhos, as férias passaram a ser mais longas e necessárias. “Sou muito grata a tudo que conquistei, mas posso dizer que minha felicidade não se resume apenas ao trabalho nem ao resultado ou reconhecimento dele. Sei viver sem isso. Meus períodos sabáticos são ótimos para me renovar pessoal e profissionalmente.”

Como a maioria das mulheres, equilibrar a vida familiar e a carreira no dia a dia ainda é seu maior desafio. Ela acompanha de perto a rotina de Maria, além da de Felipa, 9, José Joaquim, 6, e Pedro Henrique, 5. E faz o tipo mãezona: leva à escola e busca, põe na cama e lê histórias, não falta a uma reunião e ajuda nos deveres de casa. Antes da entrevista, por exemplo, tinha ido a uma festa à fantasia no colégio do caçula. Empolgada, ela mesma elaborou a roupa de Willy Wonka (personagem do filme A Fantástica Fábrica de Chocolate) do filho, inclusive recortando e colando os papéis que fariam as vezes dos cupons dourados para ele distribuir à turma. Ao chegar à comemoração, uma decepção: não só havia outra criança com a mesma fantasia como Pedro Henrique gostou mais da roupa do colega. “O amigo ainda criticou o Pedro por estar sem a bengala do personagem. Ele ficou arrasado. Para animá-lo, ressaltei que sua jaqueta era igualzinha à do Willy Wonka. Aí chegou outro aluno com cupons dourados maravilhosos! O Pedro olhou para mim com uma cara de ‘Poxa, mãe, olha como o meu está tosco'”, conta ela, rindo.
O episódio a incomodou porque Claudia leva a sério o papel de protetora e pauta a relação com os filhos na cumplicidade e na confiança. “Eu me considero uma boa mãe. Aliás, esse é o maior elogio que alguém pode me fazer. Para mim, cuidar dos filhos, antes de uma questão de afeto, é de caráter. A pessoa pode ser excelente profissional, mas perde pontos comigo se não for boa mãe. Quero que meus filhos tenham equilíbrio emocional e saibam que podem contar comigo e com o pai sempre”, diz.

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Bob Wolfenson ()

Parceiro à altura

Claudia e José Henrique Fonseca, 51 anos, se conheceram quando ela tinha 14 anos e ele 20. Os encontros eram frequentes porque compartilhavam muitos amigos. Em 1999, ela já era uma atriz consagrada quando ele a convidou para filmar O Homem do Ano, que ele dirigia. “Eu a chamei só para fazer um filme. Acabamos formando uma família!”, diverte-se ele. “Hoje, partilhamos sonhos, projetos e a educação dos nossos filhos. Ela é uma mãe maravilhosa. Sabe a dose certa de liberdade e limite para as crianças, além de dar conta de todas as funções sem se esquecer do nosso casamento. Sempre que podemos, fazemos programas só nós dois – gostamos de viajar e de ir ao cinema”, diz ele.

O tamanho do esforço para cuidar de tudo e de todos nem sempre transparece para quem a associa à imagem de mulher “perfeita” (boa mãe, excelente profissional e parceira de um casamento dos sonhos). A atriz tem até medo dessa idealização. “Família, carreira e relacionamentos exigem investimento diário. Para mim, a partida ainda está rolando e o jogo nunca está ganho”, afirma. Perfeição nem entra no vocabulário da atriz: “Quero ser uma mulher bacana com quatro filhos e respeitar minha idade. Não busco um rosto e um corpo incompatíveis com minha história“. Por isso, leva a vaidade sem obsessão e descarta substituir as rugas no rosto por músculos paralisados por Botox. “O importante é se aceitar em cada etapa e ficar feliz com o que o tempo traz”, ressalta.

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Beleza com leveza

Para a novela, abriu mão do cabelão por um corte estilo pixie. Não é a primeira vez que tem fios curtinhos e admite que está adorando a sensação de liberdade. Já os filhos não aprovaram a mudança. Felipa, a mais parecida fisicamente com Claudia, acha que a mãe ficou igual ao caçula e está torcendo para que as madeixas cresçam logo. A atriz se diverte com os comentários, mas não leva a reclamação a sério. A mesma leveza tem para lidar com o corpo. Afirma que não é de fazer dieta. Com 1,64 metro de altura e manequim 36, prefere trocar o jantar por uma sopa quando precisa perder peso. Sem tempo para se dedicar a uma atividade física regular, alterna-se entre tênis, natação no mar e malhação quando sobra espaço na agenda. Atualmente, com o ritmo intenso de gravação, não tem se exercitado. “Já aceitei que nunca vou ser aquela gata malhada. É uma questão de prioridades, e meus filhos estão em primeiro lugar”, conclui antes de se despedir e entrar no set para gravar.

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