Cissa Guimarães dedica-se à Morde & Assopra para superar a perda do filho Rafael
A atriz Cissa Guimarães conta como está reaprendendo a viver sem o filho
Cissa Guimarães afirma que o carinho do público foi fundamental para superar o luto
Foto: Rafael França
Um dia de cada vez. É assim que Cissa Guimarães está vivendo, ou melhor, reaprendendo a viver, desde que perdeu o filho caçula, Rafael Mascarenhas, de 18 anos, no dia 20 de julho do ano passado, após ser atropelado dentro de um túnel no Rio de Janeiro.
Além de ter retomado a peça Doidas e Santas, Cissa, de 54 anos, está realizando um antigo desejo de trabalhar numa novela de Walcyr Carrasco, o que ela vem fazendo, com muita coragem, ao interpretar Augusta, a dona linha-dura de um spa. “Quando o Walcyr me convidou para a novela, o Rafa tinha acabado de fazer a passagem. Falei que não sabia se conseguiria. Não queria perturbar ou não cumprir com a minha obrigação direito. Eu tinha receio disso. Mas, aí, o Papinha (Rogério Gomes, diretor-geral) conversou comigo e me deu um tempo maior para eu me recuperar”, afirma a atriz carioca.
Carinho do público
“O público me cobrava voltar à televisão. As pessoas me apoiaram e me apoiam até hoje. Com certeza, o trabalho me ajudou. Mas o carinho das pessoas, que eu, juro por Deus, não esperava, me ajudou demais. Tanto é que queria fazer a missa do meu filho numa igreja pequenininha, que frequento, a capela de Santa Clara, mas me diziam que eu estava louca, que não caberia tanta gente. Fiquei meses sem ligar o computador, sem abrir e-mail, sem atender telefone… Só falava com os mais próximos. Esse carinho foi fundamental, foi tipo transfusão de sangue. Agora, posso retribuir um pouco com o meu trabalho. Precisava me dar, gosto de me concatenar com todos, não só com os artistas e os amigos.”
A atriz cercada pelos três filhos: Thomaz, João e o saudoso Rafael
Foto: Agnews
Recomeçar
“Não sei se vou voltar a ter equilíbrio um dia. Sou uma profissional muito exigente comigo mesma, eu me cobro muito. Nunca na vida faltei a nada, sempre executei o meu trabalho com primor. Podem falar do que sou na minha vida, mas, no trabalho, ninguém pode falar nada, porque sou impecável. Eu me perguntava: ‘será que tenho força? Será que vou conseguir decorar o texto?’ Tenho 30 anos de profissão e sei exatamente o que fazer uma novela, a seriedade e o esforço físico que tem de ter. Contei com o carinho do Papinha, do Walcyr, de todo o elenco, da produção… Eles estão me dando colo.”
Volta ao dia a dia
“Assim que voltei a malhar, as pessoas me olhavam, eu me cobrava… Deve ter passado pela cabeça delas como é que eu tinha voltado tão rápido. Como também deve ter gente que gostou de me ver voltando à vida. O enlutado se cobra. Eu estava na esteira da academia e achava que deveria estar em casa. Para que me cuidar? O que estou fazendo em cima da porra de uma esteira? Lembro-me que, nesse dia, fiquei 15 minutos e fui embora. Por isso que a terapia do luto é importante. A pessoa enlutada tem uma série de culpas e tem de buscar força, se não você se abandona. As coisas perdem muito o sentido, os valores mudam… Não sou mais a mesma. Mas, vamos lá, estou aqui. O meu núcleo tem humor, acho que, se estivesse com o papel da Casia Kis, eu estaria morta.”