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Camila Coutinho inventou carreira para si e para outras

Uma das pioneiras na influência digital, com 13 anos de história na internet, ela abriu caminho para muitas outras garotas

Por Isabella Marinelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 17 fev 2020, 13h01 - Publicado em 30 set 2019, 08h00

Quem faz uma pesquisa rápida com o nome da pernambucana Camila Coutinho, 31 anos, é imediatamente bombardeado com uma infinidade de imagens. Camila na praia, Camila no quarto de hotel, Camila no avião, Camila na festa de Ano-Novo.

O espaço para a biografia no perfil do Instagram, onde soma mais de 2 milhões de seguidores, não dá conta de entregar os mínimos detalhes da carreira como influenciadora digital, que ainda gera tanta curiosidade e encantamento. Aliás, às vezes, nem sana a dúvida de quem ainda não entendeu que se trata de um caminho profissional possível.

O fato é que, se assim podemos chamar, é porque a recifense capitaneou a revolução digital, especialmente relacionada ao mercado da moda, na última década. Há 13 anos, quando o Orkut ainda era um ponto de encontro virtual, ela criou um blog na calada da noite para trocar figurinhas com as amigas sobre celebridades.

O Garotas Estúpidas era um endereço acessado só pelos mais chegados e lugar seguro para comentários entre amigas. O próprio nome escolhido foi uma ironia para combinar com os assuntos despretensiosos que apareceriam por ali. Tudo completamente sem amarras e, talvez por isso, muito divertido. “Não tinha a intenção de ganhar dinheiro, ficar famosa”, conta.

Encontrava as notícias em sites de famosos, adaptava para sua linguagem e criava as imagens. Relembrou umas aulas que teve sobre edição de foto e se jogou nos programas específicos para ilustrar as postagens. Depois de pronto, mandava mensagem via SMS avisando as amigas e pedindo comentários. Os visitantes desconhecidos, que caíam por lá sem querer, foram chegando depois e bem aos poucos. Camila passou até a dedicar um tempo divulgando os links em comunidades virtuais.

Pouco mais de um ano criando e publicando frequentemente, percebeu que a estabilidade da audiência poderia significar alguma coisa. O primeiro investimento, módicos 450 reais, aconteceu por incentivo do pai, o empresário Marcelo Valença, que se animou quando ela contou que estava com um número bacana de leitores.

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“Em casa, ninguém me achava louca. Sempre fui incentivada a fazer o que tinha vontade, nunca desencorajada. A autoestima construída desde que eu era criança me deu liberdade para apostar nas minhas ideias”, relembra. Então, lá foi ela comprar o www personalizado, encomendar logotipo, usado até 2014, e identidade visual.

Camila Coutinho
Blusa, Luiva; calça, Emilio Pucci; brincos, H. Stern (Karine Basílio/CLAUDIA)

Mais ou menos na mesma época, chegou o convite para fazer o primeiro #publi, conteúdo patrocinado por outra empresa. A oferta em questão era para divulgar um curso de moda por um orçamento de pouco mais que dois dígitos. Camila seguiu o instinto: “Eu falaria sobre isso mesmo sem receber?”. Então topou.

“Não tinha cartilha para me espelhar. Agi muito intuitivamente. Pensava comigo: ‘Olha, isso está certo, isso não está’. Quando fui montar a minha primeira tabela de valores, recorri a um amigo, dono de uma agência de publicidade, que me deu uma ajuda”, conta.

Esses primeiros passos para profissionalizar o hobby acabaram construindo também o esquema de trabalho na internet. A maneira de apresentar resultados e quanto cobrar pelo espaço de divulgação, questões cotidianas em outros meios já existentes, como revistas e televisão, eram desafiadores para quem estava criando um veículo próprio.

Camila passou a assumir mil funções burocráticas. Teve que abrir empresa, emitir nota, fazer contabilidade. À época, já não estava mais no primeiro e único trabalho que teve antes do blog, um estágio em uma grife de moda praia de Recife, e se dedicava 100% ao projeto.

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Até que percebeu a quantidade de horas mergulhada nessas atividades e teve o clique de que era preciso terceirizar esse lado para focar no coração do negócio. Ao mesmo tempo, a linguagem, que costumava ser descontraída e escrachada, foi evoluindo.

No mix de temas, moda, comportamento e lifestyle ganharam espaço. As postagens estavam cada vez mais autorais e, quando ela aparecia em foto, o engajamento aumentava. Bingo!

Prazer, Camila!

“No começo, não existia a figura da blogueira. Jamais imaginei que eu seria pauta do meu site”, recorda Camila. Só que, naturalmente, o interesse por quem estava por trás do Garotas Estúpidas só crescia. Revistas, jornais e sites nacionais e estrangeiros se voltaram para a formadora de opinião que surgia ali.

Em 2010, o GE integrou o top 20 da lista dos blogs de moda mais influentes do mundo pelo Signature9, ranking importante do ramo. Era o único representante brasileiro selecionado, colocando o país no radar e comprovando, mais uma vez, a força da autenticidade em um mercado tão disputado.

Camila e outras contemporâneas, que começavam a tatear a criação de uma personalidade online, ocuparam o abismo que separava, muitas vezes, a leitora de quem escrevia. Mais do que apontar um lançamento ou indicar uma novidade, elas experimentavam. Além de marcarem presença em um evento, compartilhavam experiências e impressões.

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Camila Coutinho
Blusa, Akomb; brincos e anéis, H. Stern (Karine Basílio/CLAUDIA)

A sensação de ser representada por uma espécie de amiga virtual fisgou a atenção e o coração de quem as acompanhava. Era a mistura perfeita para reter a audiência e impulsioná-la como consumidora. E o movimento incomodou quando passou a abocanhar uma fatia da verba de investimentos dos anunciantes.

“Houve um momento em que se questionou se aquele era ou não um trabalho sério. Teve um movimento de resistência, mas não durou muito. Agora já ficou claro que não dá para virar as costas, que é mais interessante ser uma concorrência colaborativa”, defende.

A trajetória de Camila tem a ver com esse caminho. “Fui perceber com a escrita do livro que a minha história estava muito entrelaçada com o processo de transformação do mercado da moda”, diz.

Prova disso é que ela se estabeleceu como uma voz forte no mercado. A credibilidade proporcionou, em 2015, a menção na lista dos 30 Under 30, da revista Forbes, que reconhece os jovens mais influentes com menos de 30 anos.

Dois anos depois, em 2017, entrou para a lista BoF500, do site britânico Business of Fashion, que joga luz naqueles que estão fazendo a diferença no universo da moda.

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Com um nome forte no mercado, não é de estranhar que grandes marcas queiram se associar a Camila Coutinho. Em sua carta de parceiros, estão a joalheria H.Stern, as gigantes de beleza Nivea e TRESemmé e a calçadista Jorge Bischoff. Em 2018, licenciou uma linha de esmaltes pela LCN. Neste ano, ela assinou ainda uma coleção cápsula de roupas em parceria com a Hering. Já havia experimentado a sensação, anos atrás, com a Riachuelo.

Depois de tudo e tanto

A trilha profissional percorrida deu a ela confiança. Camila amadureceu na internet, esse lugar em que críticas e elogios podem chegar na mesma velocidade. Com transparência, compartilhou os detalhes de seu casamento com o empresário Diego Nunes, em 2012, e com a mesma sinceridade explicou aos fãs quando o relacionamento terminou, em 2018.

A naturalidade também deu o tom quando saiu de Recife e instalou–se em São Paulo, há dois anos. Os limites de público e privado são bem definidos, muito embora o dia a dia possa virar pauta de alguma maneira.

“Já tive FoMO (do inglês, fear of missing out ou o medo de estar perdendo algo), mas agora não mais. Nunca foi o meu perfil compartilhar online 100% da minha vida particular. Eu falo: ‘Estou vivendo o meu momento e não vou postar’ ”, explica.

Em agosto, o Instagram retirou a contagem dos likes, medida que foi muito discutida por quem cria conteúdo digital. Mas há tempos os números não preocupam Camila. “Não é mais sobre quantidade. Hoje, a medida são os valores e o posicionamento do influenciador. É sobre as características que você tem, o que representa e o que engaja.”

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Outro comportamento colocado em xeque é a ostentação associada ao cotidiano das influenciadoras digitais em contraste com as discussões recentes sobre consumo consciente e sustentabilidade. “Sei que posto itens caros, de marcas caras, mas tento apresentar de maneira que proponha ideias, não só coisas. Quero mostrar que estilo não está ligado a dinheiro. O bonito é a informação que chega às pessoas”, argumenta.

Não há mais espaço para o irreal, que por bastante tempo seguiu travestido de aspiracional – ainda mais porque os bastidores nem sempre são glamourosos. Prova disso rolou em sua passagem por Cannes, em 2017. Às vésperas de riscar o tapete vermelho de uma série da Netflix, sentiu-se estranha. “Foi a primeira vez que tive sintomas físicos de ansiedade num misto da minha cobrança com a cobrança externa”, relembra.

Camila Coutinho
Camisa, Louis Vuitton; brincos e anéis, H. Stern (Karine Basílio/CLAUDIA)

Ninguém suspeitou que ela passara por isso. Pelo contrário, foi elogiadíssima pela elegância e estampou a página inicial de vários sites de moda. “A gente se habitou à cultura da ‘lacração’. Eu tenho que lacrar, tenho que arrasar”, desabafa. “Hoje em dia as pessoas não se conectam mais com isso. Agora, é a época 2.0, em que as influenciadoras precisam se mostrar vulneráveis porque essa postura aproxima mais do que a tentativa de perfeição. Conversas assim são importantes para desconstruir o que nós mesmas construímos”, afirma Camila.

Há ainda mais desafios em ser uma voz ativa em um cenário em constante transformação, como o digital. O principal deles é manter-se relevante. Por isso, não se pode ter medo de tentar o novo – seja em forma, con- teúdo ou até comportamento. O terreno ajuda. Para ela, uma das belezas desse trabalho é poder manuseá-lo como massinha de modelar. É possível se renovar com rapidez e sem tanto receio do erro, porque ele é muito mais efêmero.

“Eu gosto de fazer coisas diferentes. Não fico feliz quando me vejo num lugar-comum. Nas minhas redes, acho legal o balanço de uma imagem linda, uma selfie e um outro tipo de conteúdo, sobre outro assunto. Dá medo de se expor, de falar bobagem. É claro que passa pela cabeça. Então eu mando para algumas pessoas assistirem antes, pergunto se está bom e arrisco. O legal é poder continuar se reinventando.”

Agarrada a esse espírito destemido é que ela planeja e encara os próximos passos. Com o frio na barriga que bate em momentos importantes, está treinando a apresentação que fará no TEDx, na Palo Alto College, no Texas, nos Estados Unidos, no dia 14 deste mês. Ao mesmo tempo, traça estratégias para fortalecer cada vez mais o site onde tudo começou.

Está no IGTV, do Instagram, falando de tendências do mundo digital. “Hoje, me considero uma comunicadora. Isso inclui ser influenciadora digital e não acho ruim ser chamada dessa maneira, mas também estou em outros lugares e essa é, afinal, a raiz do meu trabalho”, defende.

Pensa em testar novos formatos – além do livro e da internet. Televisão? Rádio? Quem sabe? A Camila Coutinho de hoje, assim como a jovem visionária de uma década atrás, está sempre pronta para tirar o máximo proveito da próxima oportunidade que aparecer.

Edição de moda Fabio Ishimoto (OD MGT) • Styling Andréia Matos • Beleza Mario Marques (Capa MGT) • Assistentes de fotografia Pedro Pradella e Ton Santana • Assistente de beleza Julia Boeno • Tratamento de imagens WM Fusion

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