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Bill Murray: “Não há regras para a comédia”

Excêntrico como seus personagens, o ator abriu mão de agentes e empresários e agora cuida sozinho da carreira

Por Texto: Elaine Guerini
Atualizado em 12 nov 2018, 11h39 - Publicado em 12 nov 2018, 11h36

Um encontro com Bill Murray é o suficiente para entender por que costumam chamá-lo de “o cara mais legal do planeta”. Com jeitão de homem comum, o americano conta histórias inusitadas, critica a manipulação dos agentes sobre os atores e diz as coisas mais engraçadas mantendo a expressão séria. É tão querido que ganha homenagens como a do artista Ginozko: em um vídeo no YouTube, o californiano desenha Bill sobre a imagem do presidente Abraham Lincoln na nota de 5 dólares. “Preferia que fosse na de 100”, afirma o ator, de 67 anos, com a ironia da maioria de seus personagens.

Já são 40 anos de carreira no cinema, quase sempre eternizando os tipos lunáticos ou cínicos, a exemplo do ator decadente que sofre de insônia em Tóquio, de Encontros e Desencontros (2003), com o qual ele concorreu a um Oscar, ou o repórter meteorológico de Feitiço do Tempo (1993), que é obrigado a reviver o mesmo dia à exaustão. Graças à forte presença em cena, Bill é fetiche de cineastas descolados, como Wes Anderson, que o dirigiu recentemente em Ilha dos Cachorros (2018), e Jim Jarmusch, com quem está gravando The Dead Don’t Die (“Os mortos não morrem”, em tradução livre), dividindo o set com Chloë Sevigny, Adam Driver e Selena Gomez. Prevista para estrear ano que vem, a produção rodada em Nova York é uma história de zumbis, com os detalhes mantidos em segredo. Bill só adianta que interpretará um policial na trama. “Digo ‘sim’ a cineastas como Jim e Wes mesmo sem ver o roteiro. Só leio quando não conheço o diretor. Isso se eu decido dar uma olhada,
já que a pilha só cresce”, conta ele, em entrevista concedida em Berlim.

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Não é exagero. Como ele dispensa os serviços de um agente (o profissional que normalmente faz a triagem dos convites), o diretor interessado em escalá-lo precisa deixar mensagem em uma secretária eletrônica 0800. Se ele gostar, ligará de volta pedindo que uma cópia do roteiro seja enviada à caixa postal que ele possui em agência do correio próxima à sua casa, em Rockland County, Nova York.

Tantos obstáculos explicam o fato de Bill acabar trabalhando mais nos filmes dos amigos, que podem ligar diretamente no seu celular. Ele só atende se sabe quem é. “Por que eu deveria confiar em um agente? Manipuladores, eles costumam nos empurrar os papéis que os beneficiam de alguma forma, sobretudo financeiramente.” Pode haver um tanto de ressentimento aí. Em 1996, um deles não o informou de que Wes Anderson, então desconhecido, queria chamá-lo para seu filme de estreia, Pura Adrenalina. “Só soube disso anos depois. Foi o próprio Wes que me contou, no set de Rushmore (1998), quando trabalhamos juntos pela primeira vez.” Ainda assim, a parceria só aconteceu porque Wes mandava toda semana ao agente de Bill o roteiro acompanhado de cópia de Pura Adrenalina. Tamanha insistência não pôde ser ignorada por muito tempo. “Sou a pessoa com a maior coleção desse filme”, afirma Bill.

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Por abominar a ideia de uma comitiva seguindo-o por todo lado, despediu não só o agente como o empresário, o assessor de imprensa e o secretário particular. “Percebi que não tinha por que pagar um bando de gente para ficar no meu pé dizendo o que devia ou não fazer?” Desde 1995, ele administra a carreira sozinho, tendo apenas um advogado para orientá-lo na hora de assinar contratos – algo raro na indústria do entretenimento, principalmente para um ator do seu calibre. “Faço quem quer me contratar se esforçar um pouco mais para me achar. Não por me considerar melhor que os outros, mas por dizer mais ‘não’ do que ‘sim’.”

Para convencer o ator a fazer um papel, é necessário mais do que um cachê polpudo. “É sempre lisonjeiro saber que alguém quer me pagar para ajudá-lo a contar uma história. Porém, quem fica desesperado para trabalhar faz qualquer filme com a desculpa do dinheiro. Será que tem de ser assim mesmo?”, questiona. Os diretores que demonstram “algum senso de humor, ainda que seus filmes não arranquem risadas”, têm mais chances, já que o ator não gosta de quem se leva muito a sério no cinema. “É preciso ter leveza nesse negócio. Aqueles que se acham muito importantes me dão sono.”

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E ainda dá para fazer graça com a onda do politicamente correto? “Não há regras para a comédia. Até os temas mais desconfortáveis podem levar o público a rir, desde que a piada seja realmente engraçada.” Recentemente, ficou impressionado com a recepção calorosa que o comediante Dave Chappelle teve no estado da Carolina do Sul, onde atacou Donald Trump em sua apresentação de stand-up. “Ainda que metade da plateia tenha votado em Trump, a casa veio abaixo com as piadas sobre o presidente.”

Contudo, em tempos de movimentos como o Me Too e o Time’s Up, decorrentes da enxurrada de acusações de assédio sexual na indústria do entretenimento, Bill acha que é melhor que a piada venha de uma mulher. “É mais difícil para o comediante, mesmo que o alvo seja o assediador, e não a vítima”, diz o ator, projetado como humorista no programa Saturday Night Live, do qual fez parte de 1977 a 1980.

“Rir é a coisa que mais gosto de fazer. Depois de jogar golfe, obviamente”, afirma Bill. E o beisebol, onde fica? “Assisto sempre às partidas com meus filhos.” Divorciado duas vezes, o ator tem seis, sendo que o mais velho está com 35 anos e o caçula com 16. Antes de encerrar a entrevista, conta como foi emocionante ver o seu time, o Chicago Cubs, conquistar um título da Série Mundial de Beisebol, em 2016 – façanha que não alcançava há 108 anos. “Meu avô viu, mas meu pai morreu sem presenciar essa vitória. Quando eu saí espalhando a notícia, inicialmente muitos riram de mim.” Certamente pensaram ser mais uma piada de Bill Murray.

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