Antonio Calloni rouba a cena como o César de Caminho das Índias
O ator fala sobre seu divertido personagem da trama das 9
Antonio Calloni está no ar na novela
“Caminho das Índias”
Foto: Rafael França
Antonio Calloni tem 47 anos, 31 de carreira, 17 prêmios, 23 anos de Globo e nenhum protagonista (na TV) no currículo. Mas isso não é um problema. “O gosto é a satisfação por um trabalho bem-feito”, disse. E quanto a isso o intérprete do César, de Caminho das Índias, pode ficar tranquilo. Mesmo em papéis secundários, ele rouba a cena – num encontro com leitores da MINHA NOVELA, César foi apontado como o personagem preferido da trama. Ao saber disso, o ator abriu um sorriso e exclamou: “Que bacana!” Sem um pingo de estrelismo.
Aliás, ele é de uma educação rara. Em sua casa, onde recebeu a equipe da revista, interrompeu a entrevista três vezes. “Querem café, água? Estou preocupado com vocês”, repetia. O fotógrafo aceitou a água; a repórter se contentou com o gostoso papo com o ator, escritor (de seis livros), marido de Ilse e pai de Pedro, 14. A conversa foi rápida. Ele tinha que gravar. “Sou nervoso com horário”, alegou, por não poder posar para mais fotos. E prometeu: “Me liga, marcamos outro dia”. Não precisou. Calloni saiu bem na foto.
César e Ilana (Ana Beatriz Nogueira) concordam com absolutamente tudo o que Zeca (Duda Nagle) faz. Até que ponto os pais têm culpa do comportamento desajustado dos filhos?
Acho que os pais têm uma grande responsabilidade. César, no caso, cultiva uma afetividade deformada em relação ao filho. Claro que todo pai quer defender o filho. Isso é natural, é instintivo e é uma prova de amor. Mas deve existir o bom senso. César não cresceu, parece mais irmão do Zeca do que pai. Também tem o outro lado que é o imponderável. Você pode criar seu filho muito bem e ele virar um marginal. Pode acontecer.
E em que momento entraria o poder público nesses casos?
O poder público tem até obrigação de atuar, por meio do incentivo à educação e à cultura, principalmente. E, numa maneira mais direta, no combate à violência urbana.
A trama de César influenciou o convívio com o seu filho?
Não, sempre criei o Pedro com carinho, companheirismo e fazendo uma coisa que César não faz: impor limites. Quando você diz não à criança, ela se sente segura. É uma referência para ela, que tem de aprender a lidar com as frustrações. No caso do meu filho, tem de aprender a ser homem. César cria o filho dele para ser macho, não para ser homem. E tenho sempre a humildade de saber que a gente não nasce sabendo ser pai, a gente vai aprendendo.
Satisfeito com o resultado até aqui?
Muito satisfeito (risos). Pedro vai muito bem na escola, felizmente. Tem a banda de música dele, feliz da vida…
Você acredita que um garoto como o Zeca tenha recuperação? Pode se tornar um adulto responsável?
Acredito. Sempre tenho fé que as coisas possam mudar para melhor. A não ser que seja um caso patológico, uma situação extrema… Aí, realmente, não há jeito.
Até agora houve alguma cena desconfortável para você?
Não. Como ator, se você compreende o universo do personagem, nada é desconfortável. E tudo que é humano não me é estranho. Tudo faz parte de nosso repertório emocional: raiva, alegria, agressividade são coisas comuns a todo mundo. É você que escolhe o que usará na sua vida
Não fosse o toque de humor, César e Ilana seriam muito antipáticos…
É verdade (risos). As pessoas sentem muita raiva do César, mas vêm falar isso com um sorriso no rosto.
E alguém já deu apoio ao César?
Com certeza, existem pessoas que o apoiam, sim, porque existe muita gente assim. Mas ainda não vieram falar comigo, felizmente.
Apesar do sucesso, você nunca é escalado para viver um papel protagonista. Isso o incomoda?
Em novela. Isso é importante falar porque a vida do ator é maior: há filme, teatro… De qualquer maneira, essa questão nunca foi fundamental, de ser ou não protagonista. Para mim, o que chama a atenção é o personagem e, o mais importante, a qualidade do trabalho como um todo.
E dá um gostinho muito especial roubar a cena?
O gosto é a satisfação por um trabalho bem-feito, então… Isso me dá tranquilidade, felicidade nesse sentido, porque você vê que o trabalho está sendo reconhecido. E isso é o que todo mundo quer.