Amanda Nunes: campeã do UFC fala sobre lutas no ringue e na vida
Um dos nomes brasileiros mais fortes do UFC atual, Amanda Nunes conversou com a gente sobre a carreira, o machismo no MMA e a decisão de assumir-se lésbica.
A baiana Amanda Nunes, também conhecida como Leoa, figura entre as mulheres mais poderosas do UFC atualmente. Detentora do cinturão do peso-galo desde julho de 2016, ela é a primeira atleta brasileira a liderar essa categoria. Para além dos feitos dentro do octógono, Amanda também é conhecida como a única lutadora assumidamente lésbica da atual elite do MMA.
Em julho desse ano, Amanda voltou a ser notícia depois de desistir do confronto contra Valentina Shevchenko, na luta que decidiria se ela permanece ou não com o cinturão. A desistência aconteceu por causa de uma grave sinusite e ela foi duramente criticada pelo presidente do UFC, o americano Dana White.
Por outro lado, a atitude de Amanda ascendeu o debate a respeito do chamado “novo UFC”, que está cada vez mais profissional. O assunto divide opiniões, pois de um lado há o público sedento por violência e de outro tem quem ache justo que os lutadores coloquem sua integridade física em primeiro lugar – afinal, eles são atletas, não gladiadores da Roma Antiga.
Polêmicas à parte, a luta entre Amanda e Valentina foi remarcada para o dia 9 de setembro. Enquanto se preparava para o grande confronto, a Leoa bateu um papo com a gente sobre a carreira, o reconhecimento, o machismo no esporte e a decisão de assumir sua homossexualidade sem medo.
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Combater o machismo ainda é uma luta para as atletas no UFC
Atualmente, Amanda Nunes é um nome amplamente reconhecido e respeitado pelos fãs do UFC, mas esse é um fenômeno recente. Para se ter uma ideia, em 2011, Dana White declarou que jamais colocaria mulheres no ringue do campeonato. Ele – e muitos outros caras – estão dando o braço a torcer desde 2013, mas o machismo ainda é grande nesse meio.
“Hoje eu encontro fãs que vêm me dizer que só vão ao show [que é como ela chama o UFC] para ver a minha luta. Acredito que muita coisa já mudou, mas ainda há muito para mudar”, diz ela. Amanda também acredita que hoje as mulheres estão mostrando mais técnica no octógono do que os homens. “É por isso que hoje as meninas estão ganhando cada vez mais espaço. Nas lutas femininas hoje você vê técnica, inteligência e agressividade e muitos fãs estão mudando o pensamento”.
Apesar disso, na hora de fechar contratos, as mulheres ainda estão em desvantagem. A Leoa não revela números, mas diz que as minas ainda ganham consideravelmente menos do que os caras. Ela também aponta que o UFC valoriza mais a imagem dos homens, mesmo quando as lutas femininas acabam sendo mais bem executadas do que as masculinas.
Segundo Amanda, o UFC elege internamente seus lutadores favoritos e nem sempre valoriza quem de fato tem o melhor desempenho. “Deviam parar com isso e realmente dar o marketing para quem está merecendo, para quem é campeão. Esse tipo de coisa não acontece só comigo, mas com outras meninas também”.
Sobre assumir-se lésbica, Amanda conta que foi algo natural
A atleta revela que jamais escondeu sua homossexualidade dos amigos e da família. “Nunca tive que sentar com as pessoas para falar sobre isso. Sempre esteve presente na minha vida e eu nunca menti para ninguém. Se alguém chega e pergunta, eu falo ‘essa é minha namorada’. E eu nunca pensei em estar com um homem ao meu lado”.
Com isso, ela seguiu agindo naturalmente, mesmo depois da fama. Amanda não teve o ímpeto de esconder da mídia que é lésbica e diz que sempre teve consciência sobre a importância da visibilidade que está dando à causa. “Eu sou lésbica e com a conquista do cinturão as pessoas iriam me olhar de outra forma. Você pode ser o que for e continuar seguindo os seus sonhos. Essa era a minha visão, entendeu? E se houvesse alguma coisa negativa, eu estava preparada para passar por cima”.
Amanda namora a americana Nina Ansaroff, que também é lutadora de MMA. Em julho de 2016, quando venceu o cinturão, as duas se beijaram durante a comemoração e isso teve grande repercução na mídia. “A minha intenção não foi ‘ai, eu vou beijar para todo mundo ver’. Foi por causa da alegria que eu estava sentindo naquele momento, e eu queria dividir com alguém especial. Ela esteve do meu lado em todos os momentos da minha carreira”.
A Leoa conta que já leu coisas desagradáveis sobre sua sexualidade na internet, mas diz que jamais foi atacada pessoalmente. Mesmo assim, revela que conhece lutadoras lésbicas que têm medo de se assumir, principalmente por conta do marketing. “Elas preferem se esconder ao invés de ser feliz”.
E quanto aos planos para o futuro?
Nossa conversa com a Amanda rolou enquanto ela se preparava para o UFC 215 – em que vai defender seu cinturão – e a atleta se mostrou totalmente focada na vitória. Aos 29 anos, ela diz que ainda quer seguir dando prioridade ao MMA por algum tempo, mas revela e vontade de dedicar-se ao futebol também. “Depois que eu me aposentar [das lutas], eu quero continuar fazendo algo e acho que o futebol vai ser meu próximo passo”.
Quanto à vida pessoal, a Leoa revela o desejo de ser mãe. “Quero começar uma família e ter um bebê, mas só mesmo o tempo vai me dar a direção”, finaliza.