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A pesada rotina de uma enfermeira brasileira em Dublin

Ianara Araujo Fernandes viu sua rotina em uma unidade de internação hospitalar se transformar durante a pandemia do novo coronavírus

Por Marina Marques Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 30 jun 2021, 10h01 - Publicado em 1 abr 2020, 18h00

Há cinco anos, Ianara Araujo Fernandes, 40, decidiu se mudar para a Irlanda em busca de crescimento profissional. Sua rotina como enfermeira, que costumava ser tranquila até então, virou de cabeça para baixo com a pandemia do novo coronavírus. “Tenho que usar a mesma máscara durante todo o plantão. Eu tenho medo.” Em entrevista a CLAUDIA, a brasileira relata como tem sido trabalhar na área da saúde e enfrentar a Covid-19 no país em que escolheu para viver.

“Me formei como enfermeira no Paraná em 2002. Eu morava e trabalhava em Curitiba antes de me mudar para Dublin, na Irlanda, onde já vivo há cinco anos. Vim para cá porque uma conhecida estava fazendo intercâmbio e me falou que era muito bom trabalhar como enfermeira. Resolvi tentar por um ano e aqui estou até hoje. No início não foi fácil, tive que mudar os planos e trabalhar em outras áreas até meu registro sair, o que levou três anos. Antes, trabalhava como care assistant, algo como uma cuidadora no Brasil, aqui não existem auxiliares e técnicos de enfermagem. Agora atuo como enfermeira em uma nursing home (casa de repouso) de plantão durante a noite, que é onde tem mais demanda. Minha rotina era bem tranquila até acontecer a pandemia. Tinha tempo para mim, para viajar, ficava mais tempo em casa com minha filha de quatro patas. Trabalhava, até então, três noites na semana, o local consiste em uma unidade de internação hospitalar, com 26 residentes de idade mínima de 75 anos, o mais velho tem 98.

A pesada rotina de uma enfermeira brasileira em Dublin
(Arquivo Pessoal/Reprodução)

Hoje com a Covid-19 estou trabalhando de cinco a sete noites na semana. O primeiro caso na Irlanda foi no dia 29 de fevereiro, e no dia 11 de março o governo decretou o fechamento de escolas e universidades, pedindo para quem pudesse que trabalhasse de casa. No dia 15 de março, com 169 casos confirmados, todos os bares foram fechados. Comecei a ficar preocupada pois, além de trabalhar na área da saúde, também estou com os casos de alto risco. Por volta do último dia 20 tivemos a notícia que nove residentes estavam em isolamento por suspeita da doença. Além disso, alguns funcionários começaram a apresentar sintomas, e se você tem sintomas não pode trabalhar até fazer o teste e ser liberado, o que está levando cerca de duas semanas. A partir daí minha vida mudou.

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Minhas noites são no trabalho e de dia durmo quando consigo. A rotina diária consiste em trocar de roupa, entrar em casa sem tocar em nada e correr para o banho, lavar o cabelo com sabonete e depois passar xampu todas as manhãs pós-plantão. A lavagem de mãos constante deixa a pele toda sensível e machucada, mesmo você passando hidratante. Vejo muitos reclamando que não tem EPI (equipamento de proteção individual) para trabalhar, eu também não tenho. Está em falta no mundo todo. Tem gente que ainda tem avental que cobre o corpo todo e o braço. Eu não. Tenho que usar a mesma máscara durante todo o plantão. Está assim pra todo mundo. Eu estou cansada, estressada, como todos.

Hoje é dia 1º de abril e desde o dia 19 de março eu tive apenas três folgas. Sobre meu residentes, tenho seis confirmados, oito sob suspeita e uma morte até agora. Se tenho medo de pegar? Claro que tenho! Choro quase todos os dias quando escuto o jornal sobre o aumento de casos e mortes. Choro até quando escuto ou vejo alguém querendo nos ajudar ou ajudar o próximo. Ainda não peguei, espero que não, mas 30% da equipe está afastada, por suspeita ou confirmação. Apenas um foi internado. Na Irlanda 25% dos casos confirmados são profissionais da saúde.

Ianara Araujo Fernandes - enfermeira em Dublin
(Arquivo pessoal/Reprodução)

O governo tem auxiliado muito a todos, até mandou um avião ir buscar EPI na China no domingo passado. Há também auxílio financeiro para todos que perderam emprego por conta da epidemia e também auxílio para quem está com Covid-19. A situação da Irlanda só não é um desastre devido às medidas de isolamento social desde do início de março, que estão fazendo com que o vírus se espalhe mais lentamente para que todos tenham a oportunidade de ter um leito no hospital, caso precise. Até o momento estamos conseguindo. Mas sigo preocupada pois o número está subindo e logo todos os serviços de saúde estarão lotados. Tenho amigos no Brasil, parentes e familiares. Me preocupo muito. Infelizmente, ao meu ver, o Brasil está indo para o mesmo caminho da Itália e Espanha. Sei que muitos acham que não é nada sério, mas é muito. Depois que começam os sintomas, o desenvolvimento do vírus é muito rápido, com altíssimo grau de contaminação. Não surge ou mata apenas os idosos. Pode ser em qualquer idade.”

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