Você já ouviu falar em Sanyu, o “Matisse chinês”?
Apesar de ter morrido na obscuridade, o pintor hoje é um dos nomes mais procurados no mercado de arte asiática
Não é difícil saber quem foi ou já ter ao menos escutado sobre Henri Matisse. Expoente do movimento fauvista, o francês fez fama e nome com seus quadros cheios de vida e cores, mas sempre norteados pelo gosto do pintor pela serenidade. De tão marcante, seu estilo acabou por se tornar referência no mundo da arte e artistas que utilizam formas e cores à sua moda acabam abarcados no guarda-chuva matissiano. É o caso de Sanyu, pintor considerado o “Matisse chinês”.
Nascido em 1901, em Nanchong, na província chinesa de Sichuan, Sanyu (cujo nome de batismo é Chang Yu) foi educado em casa, dedicando-se principalmente à caligrafia e também pintura, que lhe era ensinada pelo próprio pai, reconhecido entre os seus como um grande pintor de cavalos e leões. Percebendo o talento do garoto para a arte, sua família decidiu então deixá-lo viajar para a França, onde ele poderia dar continuidade aos seus estudos. Assim, em 1921, Sanyu desembarcou em Paris, onde conheceu outros artistas chineses que haviam se mudado para a capital francesa, entre eles Xu Beihong. Juntos, os dois mudaram-se para Berlim, onde viveram por algum tempo, até que Sanyu decidiu retornar para Paris e se matricular na Académie de la Grande Chaumière.
Com o incentivo do galerista Henri-Pierre Roché, que o representava, o chinês passou a experimentar com gravuras e pintura a óleo, produzindo um total de 111 pinturas e 600 desenhos. Seu estilo conservava a graça e simplicidade próprias da caligrafia chinesa, mas também incorporou técnicas do uso de cores típicas de Matisse, a quem ele muito admirava. Valorizando cores suaves e aquarelas, ele pintava principalmente nus, flores e animais. Mas o apoio de amigos e patronos não foi suficiente para que o talento do jovem rapaz tivesse o reconhecimento comercial de que precisava. As dificuldades financeiras passaram a influenciar o estilo de Sanyu, que, pouco a pouco, passou a fazer pinturas mais sombrias, centradas no sentimento da solidão. E, como muitos grandes nomes da arte, ele morreu na obscuridade, após um vazamento de gás em seu apartamento em Paris, em 1966.
Sucesso póstumo
Foi só após seu falecimento que Sanyu se tornou um fenômeno. A convite da Universidade Normal de Taiwan, ele havia enviado diversas pinturas para uma exposição na Ásia, que nunca chegou a acontecer. As obras, todavia, permaneceram sob a custódia do Museu Nacional de História de Taipei e depois foram descobertas por comerciantes de arte taiwaneses, responsáveis por alavancar a fama póstuma do pintor. Em 1992, uma de suas pinturas foi vendida pelo triplo do valor estimado em um leilão da Sotheby’s. Em Paris e na China, museus começaram a expor coleções de suas obras e, em 2005, o parisiense Guimet sediou uma ampla retrospectiva dos trabalhos de Sanyu.
Nesta semana, seu quadro Quatre Nus, de 1950, foi leiloado por mais de 33 milhões de dólares, o que, segundo a CNN, atesta seu status como um dos nomes mais procurados no mercado de arte asiática. Ano passado, em outubro, a obra Nu saiu por 25 milhões, também na Sotheby’s. Em novembro, Five Nudes foi arrebatado por 39 milhões de dólares, um recorde, desta vez na casa de leilões Christies. No período de 19 anos, o valor das obras de Sanyu aumento mais 1100%, segundo o banco de dados Artprice. Somente em 2019, ele movimentou 109 milhões de dólares no mercado de leilões, se tornando o 16º artista mais vendido do ano. “Um colecionador asiático comprando uma obra de Sanyu hoje é o equivalente de um ocidental comprando um Matisse”, diz o site.