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O significado da vitória histórica de “Parasita” no Oscar 2020

A história de Bong Joon-ho levou para casa quatro estatuetas e pode sinalizar o início de novos tempos.

Por Lucas Castilho
10 fev 2020, 20h14
Parasita
 (*/Divulgação)
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O Oscar 2020, que aconteceu no último domingo (9), em Los Angeles, foi histórico. Após anos e mais anos de vencedores insossos, para dizer o mínimo (“Green Book”, estou olhando para você), é refrescante e sintomático que “Parasita”, o primeiro longa sul-coreano a ser indicado na categoria Melhor Filme, seja o grande vencedor da noite, levando os prêmios de Melhor Filme, Filme Estrangeiro, Melhor Diretor, e Roteiro Original.

E isso é até irônico. A dramédia de Bong Joon-ho usa de humor, crítica social, e suspense para contar a história de uma família pobre que basicamente se “infiltra” na casa de uma família rica (e essa é uma explicação bem simplista, tá?!). Guardadas as devidas proporções, não foi isso o que “Parasita”, o primeiro longa de língua não inglesa a levar o troféu de Melhor Filme, fez na premiação que é a maior representante do status quo? Na vida real, no entanto, o final foi um tanto mais feliz (me refiro ao resultado do Oscar, não à luta de classes).

É claro, o feito histórico de “Parasita”, o dark horse desta temporada do Oscar, também é fruto de investimentos pesados do governo da Coréia do Sul desde os anos 1990 na indústria do entretenimento, que assim como os Estados Unidos privilegia produções nacionais e transformou o país em uma potência cultural – basta só ver a relevância do K-Pop e, bem, o sucesso do longa de Bong Joon-ho.

Mas mais do que isso, a vitória de “Parasita” é a coroação de uma boa história. E não dizem que as boas histórias são universais? De Seul a São Paulo, quase todo mundo consegue se identificar com o narrativa sobre desigualdades sociais apresentada no longa. E tudo foi feito com tanta segurança, sem aqueles tradicionais maniqueísmos novelescos.

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No filme de Bong, ninguém é totalmente mal ou completamente bonzinho. A família Park, por mais privilegiada que seja e alheia aos problemas do mundo, não é formada por pessoas terríveis que escondem segredos absurdos no porão (é, quer dizer…). Tampouco os integrantes do clã Kim são mostrados como grandes heróis em busca de mais igualdade em um sistema falido. Pelo contrário. Em “Parasita”, o verdadeiro e único vilão é um sistema no qual 22 homens em todo o mundo têm mais riquezas do que todas as mulheres no continente africano, um sistema que permite essas disparidades existirem – e isso é feito de uma forma tão elegante que não precisa ser tão óbvia quanto pontuo neste texto.

O Oscar 2020 será conhecido por ter sido uma noite imprevisível (com exceção das categorias de atuação) e também por premiar um filme que fala diretamente com o tempo no qual ele foi produzido. No fim do dia, o Oscar precisa mais de “Parasita” do que “Parasita” precisava do reconhecimento norte-americano. Produções culturais de sucesso são reflexos da sociedade e talvez finalmente a sociedade esteja disposta a voltar o seu olhar para outras histórias.

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