“Os Outros”: Sim, estou viciada na série
Uns dirão: pesada demais. Outros falarão: é fantasiosa, não tem gente assim. Não tem? Olha em volta!
Viciada na série do GloboPlay, Os Outros. Uns dirão: pesada demais. Outros falarão: é fantasiosa, não tem gente assim. Não tem? Olha em volta! É tanta maluquice diária, gente explosiva com cara de santa; histéricas com capa de serenas. Medicadas pagando de zen. Por isso estou encantada com a mente ardilosa de todos os personagens. Ninguém é bonzinho. Há uma brecha para o mal entrar. Não entra na nossa vida? Por que não seria retratado na ficção?
Parecemos frágeis e dóceis e, de repente, explosão raivosa? Aliás esse “de repente” é onde o problema mora. Nada é súbito. Há um banho-maria que aquece nossas neuras e um dia, do “nada”, a temperatura sobe. A pandemia revelou nossas menores e maiores neuroses. O pano caiu. A fofa que habita em nós saiu pra um rolé e se perdeu. Pelo visto não vai achar mais o caminho de volta. E ainda damos conselhos, oferecemos ombro, confortamos nossos pares enquanto estamos estragadas.
Vai dizer que estás inteira? Eu sou um esqueleto balançante que vaga errante enquanto me acho super ok. E é nessa tomada de consciência ( ou seria tombada?) que admito uma Ruth-Raquel morando em mim. Nada ficou em pé. Nada faz muito sentido. Nada é de fato o que é. Preciso ser humilde e encarar que a loucura alheia também me pertence. No transporte público diário, olho, no vagão feminino, mulheres exaustas. Algumas maquiadas para tentar disfarçar a dor da alma. Mas meu radar de melancolias é preciso. Não passa nada. E vocês sabem que eu mesma sou um ser despedaçado.
Nunca escondi minhas cicatrizes e meu andar cambaleante diante do empobrecimento, do envelhecimento e das mazelas em viver em um Brasil desnivelado socialmente. O que me resta? Escrever para não enlouquecer e, no meio disso, assistir a essas séries que tratam do que é humano. Mesmo que pensemos que toda essa maluquice só aconteça com os outros.