Ah, o limite…
Fala-se muito que os pais precisam aprender a dar limites no entanto é ainda mais importante reconhecê-los
Ouvi esses dias de minha professora, a psicanalista Karin de Paula, uma observação instigante sobre os limites: “Fala-se muito que os pais precisam aprender a dar limites no entanto o importante é reconhecê-los”.
No fim de semana que passou, estive em um restaurante japonês, pequeno e silencioso com minha família. Curiosamente o ambiente estava diferentíssimo do que de costume. Corriam e gritavam por entre as mesas (8 no máximo) um grupo de 5 crianças.
Antes de continuar, devo dizer que não sou do time que acredita que crianças não pertencem a este ou aquele ambiente. Não mesmo. Em casa não temos babá nos fins de semana nem à noite desde sempre. E as crianças nos fazem companhia em nossas programações, assim como somos companhia frequente nas programações delas.
Também não acredito que ouvir um choro de bebê em um “lugar de adulto” (se é que isso existe) seja perturbador. Bebês choram. E é claro que na mesma medida, entendo que a expectativa de bom comportamento de uma criança, por mais educada que ela seja, é elástica. Crianças estão ainda aprendendo a se portar no mundo. E a sua espontaneidade é por muitas vezes linda de testemunhar.
Isto posto, de volta à cena do fim de semana. Para além da agonia do jantar e da impossibilidade de conversar em um volume decente, já que o grupo permaneceu entre nós longa e ruidosamente durante todo o período em que estivemos lá, duas coisas me deixaram impressionada:
1. O fato de que os pais daquelas crianças não reconheceram o limite que já estava ali naturalmente imposto. Não é preciso que ninguém diga aos adultos responsáveis que não se pode gritar, correr, provocar a equipe do lugar ou outras famílias em um ambiente delicado como aquele. Me pergunto qual é a dificuldade em comunicar. Porque é mais fácil esperar que o garçom repreenda a inconveniência dos seus antes que você o faça?
2. Me peguei pensando que não é certo expor os filhos dessa maneira. Há de ensinar que existe uma postura adequada para um restaurante silencioso, postura para uma churrascaria com karaokê, para uma festa infantil ou para uma missa de sétimo dia. O básico da boa educação permanece, óbvio, mas são jeitos diferentes de se comportar. E me parece que quem não aprende, sofre. No mínimo, passa vergonha.
Os limites estão no mundo, estamos submetidos a eles. Temos uma escolha a fazer, é para deixar a criança solta e fora do tom (por qualquer motivo misterioso que seja)? Esteja com ela quando o cliente da mesa ao lado a repreender, apareça.
Não tem nenhum motivo misterioso? Então pronto, tudo certo. Ensine como se faz e dê a seus filhos os recursos necessários para que eles façam (e assumam) também as suas próprias escolhas.