Uma homenagem ao mestre Hans Wegner, que completaria 100 anos
2014 é ano do centenário de nascimento do designer dinamarquês Hans J. Wegner, que trazia para cada criação a leveza das formas, os materiais naturais, a simplicidade estética e o acabamento primoroso.
O dinamarquês Hans J. Wegner (1914-2007) era um apaixonado pela madeira e tinha rara sensibilidade para compreendê-la em todos os seus aspectos. Ainda na adolescência, aprendeu os segredos da marcenaria com mestres artesãos no interior da Dinamarca. Foi assim que ganhou habilidade em técnicas tradicionais que aplicaria em sua longa e produtiva trajetória profissional como designer de mobiliário. Em meados da década de 1930, mudou-se para Copenhague, onde estudou arquitetura e artes. Considerado um dos nomes mais influentes da história do design, ao lado de Arne Jacobsen, de quem foi assistente, Hans Wegner está entre os responsáveis por elevar ao protagonismo o mobiliário moderno escandinavo no cenário mundial, a partir da segunda metade do século 20. “Seu legado está na verdadeira lição de contínua purificação da forma e da funcionalidade orgânica. As peças são atemporais por terem sido pensadas e feitas para humanos, independentemente de fronteiras”, analisa o designer Jader Almeida, que também admira “a abordagem verdadeira dos materiais, a forma despretensiosa e a escala humana da produção escandinava”. Quando inaugurou seu estúdio, em 1943, Hans Wegner, tido como rigoroso e perfeccionista, já exibia um profundo conhecimento em combinar antigas tradições de marcenaria com métodos tecnológicos inovadores. Desenvolvia em sua oficina quase todos os protótipos de peças, que equilibravam funcionalidade e conforto com silhuetas orgânicas e simples, em resposta às necessidades da vida moderna. Wegner encontrava inspiração também no desenho de cadeiras tradicionais das mais diversas culturas, buscando melhorar e refinar a qualidade artística e desvendar novas maneiras para a fabricação em massa. Dois modelos consagrados – Chinese (1945) e Wishbone (1949) – evocam formas de antigas cadeiras chinesas. “A Wishbone, do passado ao presente, é uma peça que viaja no tempo e permanece elegante”, diz Jader. Outro destaque é a Shell Chair (1963), cadeira escultural de madeira compensada curvada, que parece oferecer um largo sorriso. Apoiado sobre três pés, o móvel tem total estabilidade graças às habilidades de Wegner como marceneiro e arquiteto. “Ele tinha um conhecimento incomum sobre a madeira. Devido a sua infinita curiosidade em relação aos materiais e aos métodos de produção, o designer estava à frente do seu tempo, dando ao minimalismo uma suavidade natural e orgânica. Acredito que suas melhores peças são as de madeira, todas têm um lindo acabamento e ao mesmo tempo são muito confortáveis – móveis que você aprecia e nos quais quer ficar”, diz Anette Gade, proprietária da loja Scandinavia Designs, na capital paulista. Atualmente, três empresas fabricam os móveis de Wegner: Carl Hansen & Son, PP Mobler e Fritz Hansen. E, para celebrar o centenário de nascimento do dinamarquês, o Designmuseum Danmark, em Copenhague, abriga até o dia 2 de novembro a mostra Wegner – Just One Good Chair, que conta a história e a importância de seu legado por meio de mais de 150 peças originais, além de desenhos, fotografias e protótipos. A exposição também joga luz sobre o processo de trabalho e a criatividade incomum de Hans J. Wegner, que conseguiu reinterpretar um único objeto de centenas de maneiras: contam-se mais de 500 cadeiras desenhadas ao longo de sua vida.