Um tour pela casa do designer Marcel Wanders em Amsterdã
Criador de universos fantásticos, o designer à frente da Moooi é dono de um décor moderno, sofisticado e cheio de personalidade
Extravagante, sensível e um dos designers mais solicitados do planeta, Marcel Wanders arrasou na Semana de Design de Milão com sua marca, a Moooi, e depois nos concedeu uma entrevista exclusiva. Confira:
Marcel Wanders é um personagem digno do universo que você criou?
Espero que meu trabalho seja significativo e eu seja merecedor dele. Ao contrário, talvez, de outros designers, se desenho uma xícara de chá, não é no mercado de xícaras de chá que quero causar impacto, é no coração das pessoas. Eu também, como pessoa, faço parte do meu design. Então tento desenhar a mim próprio da melhor forma que posso.
O que levou em conta para decorar a sua casa?
Tudo foi tão cuidadosamente escolhido e posicionado que é mais do que um espaço. É uma entidade com caráter próprio. Expressa a minha personalidade.
Referências do passado são evidentes no seu trabalho. Como incorporá-las sem ser alegórico?
Para os modernistas, o passado era irrelevante para criar o futuro. Não concordo. Não quero um mundo onde as coisas que fazemos hoje sejam irrelevantes amanhã. Vivemos numa sociedade do “jogar fora”, e isso me parece um problema psicológico. Modestamente, tento reverenciar o passado para que assim meu trabalho faça parte de algo muito maior do que ser apenas moderno. Talvez assim resista ao tempo.
Você diria, então, que sua obra é pós-moderna?
É antimodernista com certeza, mas acho que há muito mais nela do que ser pós-moderna. De lá para cá, entendemos que somos seres humanos, que há amor e ódio em nossa alma e que as coisas que realmente importam não são racionais, são apenas humanas. Misteriosas, místicas e inexplicáveis. Existe tanto além do pós-modernismo que eu chamaria nossa época de Renascença Contemporânea do Humanismo. É nesse contexto que vejo minhas criações.
A funcionalidade tem peso na sua obra?
Foi extremamente supervalorizada pelos modernistas. Não que não seja importante. Mas pense nas coisas que realmente amamos. Nelas, a funcionalidade não é relevante. Saltos altos? Árvores de Natal? Aquele pequeno gato de cerâmica no parapeito da janela? As coisas que amamos não são nada funcionais. São como filhos. Nós simplesmente as amamos. E por que o aspirador de pó tem que ser muito funcional? Eu não dou a mínima para o aspirador de pó. Basicamente, eu nem quero ter um. Eu nem queria ter de limpar a casa! (risos) Então, objetos funcionais têm que ser realmente muito eficientes porque gostaríamos é que eles sumissem! Se o designer acha que fez um grande trabalho criando um produto funcional, vou dizer uma coisa: ele simplesmente satisfez o mais baixo padrão do design. Abaixo não há nada nem que valha a pena mencionar. Acima, sim, está a oportunidade de ser realmente importante para as pessoas.
Recentemente você declarou que vive muito bem apenas com uma mala de roupas. Você pensa em morar em outro lugar? Como será sua casa quando desacelerar?
Viajo muito e é ridículo ter uma casa tão grande como essa. Agora estou solteiro e desejo trocá-la por outra menor. No longo prazo… Puxa, você falou em eu me aposentar e isso é uma ideia muito estranha para mim. Só penso no que quero hoje. Mas acho que será lindo ter uma casa onde caibam a minha história, as minhas lembranças, mas não sou do tipo colecionador. Quero ter uma vida simples. Na verdade, penso mais na localização do que na morada em si. Sou um nômade. Um nômade que tem uma casa.
Então, nem pensar em uma “poltrona do papai”? (risos)
Sabe que isso é um problema para mim? As pessoas estão sempre querendo me colocar em poltronas, e eu não quero! Marcel Wanders não senta. Ele corre! Marcel Wanders corre.