Seis edifícios para entender a nova arquitetura do Chile
De norte a sul, o país tem ricos exemplos de bom projeto
O Chile está com tudo – pelo menos em termos de boa arquitetura. O país tem profissionais ousados, que releem o modernismo com suas construções expressivas de concreto e aço. Por outro lado, os profissionais adaptam os edifícios às necessidades atuais e criam espaços que parecem saídos de um sonho.
Nomes reconhecidos mundialmente despontam no país, que tem apenas 17 milhões de habitantes. Um deles é Alejandro Aravena, escolhido para dirigir a Bienal de Veneza em 2016 e ganhador do Pritzker nesse ano, famoso tanto por seus prédios de forma incomum quanto por seus projetos de habitação social que priorizam as necessidades dos moradores. Outro ícone é Smiljan Radić, chamado a projetar a Serpentine Gallery em 2014.
Conheça alguns dos projetos mais interessantes criados nos últimos anos de norte a sul do país andino.
1. Vinícola Vik, em Milahue. Não é bom competir com a Cordilheira da Costa, no sul do Chile, e as planícies que parecem não ter fim. Respeitoso, o arquiteto Smiljan Radić criou um edifício semienterrado para produzir vinho e receber os turistas que degustam a bebida.
Na chegada, os visitantes encontram um jardim de pedras instalado meio à água que resfria os barris. Uma cobertura de lona dupla cobre a linha de produção. E, na outra ponta do edifício, cortinas de vidro emolduram o vinhedo. Vale a pena degustar o vinho por ali, cercado pela enorme escala da paisagem.
2. Quinta Moroy, em Iquique. A variedade de cores e formatos nas fachadas já revela: esse projeto de habitação pública é incomum. A equipe do estúdio Elemental projetou casas construídas pela metade. Dessa forma, as cem famílias beneficiadas poderiam terminar de erguê-las com suas ideias e recursos. O projeto de 2004 cooperou para dar a Alejandro Aravena o Leão de Prata na Bienal de Veneza de 2008.
Os arquitetos criaram prédios que ocupam pouco espaço do solo e têm vazios entre si. A solução garantiu aos moradores a chance de viver em um terreno central na cidade, mesmo com o orçamento de apenas 7 500 dólares por casa. Como resultado, as famílias têm melhor acesso a empregos e aos serviços públicos.
3. Faculdade de Economia e Negócios Diego Portales, em Santiago. Essa escola é formada por três pesados edifícios de concreto, mas são os terraços, escadarias e aberturas que tornam o projeto especial. A sede da pós-graduação é um cubo com um pátio central. Janelinhas quadradas e grandes aberturas cortam o volume. A graduação ocupa um edifício lâmina, cujos corredores são protegidos apenas pela quebra-sóis da fachada. O prédio da base conecta os edifícios e abriga áreas de uso coletivo, como cafeteria, biblioteca e a cobertura jardim.
4. Museu do Deserto do Atacama, em Antofagasta. Esse edifício não se destaca no horizonte, pois seu principal objetivo é valorizar o Parque Cultural Huanchaca. Justo: aqui as ruínas de uma fundição de prata do século 19 contrastam com a enormidade do deserto e do Oceano Pacífico. O museu de concreto tem o formato de uma caixa, cortada por pátios e janelas de vidro. Cinco rampas levam ao terraço. De lá é possível observar as ruínas e vivenciar o encontro entre o mar e o Atacama. O projeto é dos arquitetos Ramón Coz, Marcos Polidura e Ignacio Volante.
5. Capela do Retiro, em Auco. Nas procissões, os fiéis carregam as estátuas dos santos em plataformas suspensas. Essa imagem inspirou o arquiteto Cristián Undurraga a criar uma igreja implantada em uma escavação no terreno, mas cuja estrutura não toca o fundo. As quatro empenas de concreto do edifício se encontram a centímetros do solo para formar as paredes e sustentar o teto.
Abaixo das paredes, lâminas de vidro deixam a luz entrar e protegem os visitantes das intempéries. O interior tem painéis criados com dormentes de trem reciclados – o crucifixo é seu único ponto de atração. A decoração sóbria contrasta com a amplidão do deserto e dos Andes no exterior.
6. Museu da Memória e Direitos Humanos, em Santiago. Os arquitetos criaram um prédio lâmina com 80 metros de comprimento, pilares resistentes a terremotos e vão livre de 57 metros. Abaixo do terreno, um espaço público convida as pessoas a se juntarem sem medo – algo impossível durante a era Pinochet. Do lado de dentro é possível enxergar o exterior, graças ao fechamento com paredes de vidro misturado a uma malha de cobre. O edifício tem autoria dos arquitetos Carlos Dias, Lucas Fehr e Mario Figueroa, que trabalharam do Brasil, e Roberto Ibieta, baseado no Chile.
A ditadura militar do Chile teve 30 mil vítimas – dentre as quais 3 mil morreram e 1200 desapareceram. Um monumento a tanta dor, esse edifício tem exposições dedicadas às pessoas que sofreram violência no país e ao estado dos direitos humanos no mundo.