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Pablo Reinoso: conheça o trabalho do artista e designer

Dono de uma linguagem própria, o artista e designer Pablo Reinoso experimenta materiais e cria obras que se impõem nos ambientes.

Por Reportagem Cecilia Arbolave
29 nov 2012, 18h19
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Ramificações de madeira surgem de um banco de praça, se entrelaçam e se expandem na galeria do museu. Depois de criar desenhos e figuras, voltam a se juntar como uma trepadeira, formando um novo assento. Os Bancos Spaghetti, como a instalação é conhecida, foram criados pelo artista Pablo Reinoso, que imagina a madeira com vida própria e liberdade para crescer. Metafórica e visualmente, os bancos se enraízam e se espalham na sala dos mais diversos modos.

As obras de Reinoso, nascido em Buenos Aires em 1955, caracterizam-se por guardar uma relação particular com o espaço. Ignorá-las é impossível. Impõem-se nos ambientes e obrigam o público a experimentar as instalações, e não apenas apreciá-las. “Essa relação é totalmente deliberada. É a vontade de tomar posse de um lugar”, afirma o designer. Outro atributo proeminente de seu trabalho é a escolha dos materiais, para ele mais importante do que a ênfase na cor. Reinoso lida com facilidade com clássicos como a madeira, o mármore, o bronze e o aço, mas não hesita na hora de adentrar novos elementos.

Essa queda por fazer de suas obras uma experimentação constante o levou a uma mudança radical nos anos 90: trocou a rigidez da madeira e da pedra pela leveza do ar. De 1995 a 2004, desenvolveu Breathing Sculptures (Esculturas Respirantes), série que apresentava montagens de tecido infláveis distribuídas em amplas salas. Os ventiladores que acompanhavam algumas das estruturas geravam um movimento semelhante ao da respiração de um ser humano. “A escolha do ar surgiu como uma reação para escapar fisicamente do peso dos materiais, e também para trabalhar sobre a ideia da interdependência da respiração com a vida.” Reinoso costuma adaptar suas obras aos lugares onde são expostas. “Quando faço uma instalação, me apoio na arquitetura que me rodeia. Ainda que usando os mesmos elementos, as esculturas variam”, explica. Foi o que aconteceu com a exposição Breathing Sculptures, que ele trouxe ao Brasil em 1996, exposta no Museu de Arte Moderna da Bahia, em Salvador. “Eu queria trabalhar com o sincretismo religioso presente no Nordeste do país, do candomblé com o catolicismo. Como eu vinha trabalhando com o ar, quando encontrei a Capela do Solar do Unhão, adaptei as instalações especificamente a essa proposta.”

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A formação do argentino ajuda a entender suas motivações criativas. Nos anos 70, Reinoso cursou parte da graduação em arquitetura na Universidade de Buenos Aires (UBA). “A aliança com minhas obras está presente em tudo o que penso e desenvolvo”, salienta. Por algum tempo, também estudou psicologia, disciplina que permeia várias das suas instalações, como a escultura respirante Le Cabinet du Dr. Lacan (O Gabinete do Dr. Lacan), de 1998. 

Quando o escultor decidiu, em 1979, cruzar o Atlântico e morar na França, a Argentina atravessava sua última ditadura. Dois anos antes, tinha largado o curso de arquitetura e realizado o serviço militar. “Estava realmente comprometido com minha função artística e, já na Europa, não pude terminar a faculdade.” Sem diploma, passou a digerir influências do que estivesse ao seu alcance. Além do escultor argentino Jorge Michel, Reinoso conta que entre suas grandes referências estão os artistas conceituais franceses Joseph Cosut e Jean Pierre Renaut.

Além da sua imersão na arte, ele também explorou o campo do design ao imprimir nos objetos novos significados e paradigmas. Reinventou móveis (por exemplo, a série Pocketable de cadeiras portáteis), criou peças de joalheria e perfumaria e desenvolveu luminárias originais. Precisamente por manter um pé na arte e outro no design, em 2000 foi chamado para comandar a direção artística da Parfums Givenchy, grife francesa do grupo LVMH. Um de seus projetos marcantes foi o perfume Very Irrésistible, lançado em 2003. A fragrância ficou famosa pela escolha da atriz Liv Tyler para representá-la, em homenagem à atriz Audrey Hepburn, musa inconfundível da marca.

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O artista deixou a Givenchy no final de 2006, e logo montou um estúdio próprio. “Chega uma hora que a grife fica pequena.” Hoje ele trabalha para empresas do mesmo porte, mas de âmbitos mais diversos. É consultor, por exemplo, da Ligue de Football Professionnel, para a qual desenhou troféus e construiu a identidade visual. Seu estúdio é decorado com numerosas esculturas – várias de sua autoria. “Não tenho alternativa, sou um grande consumidor de espaço. Gosto de trabalhar com coisas ao meu redor.” No mesmo quarteirão, escritório e ateliê somam 700 m2, que nem sempre são suficientes para abrigar as obras que produz.

Incentivado desde cedo pelos pais a apreciar arte, Reinoso decidiu ser escultor aos 13 anos. Descobriu a paixão numa exposição do francês Henri Laurens (1885-1954), no Museu Rodin, em Paris. Antes de tomar a decisão, já visitava museus e passava os fins de semana no ateliê do avô, trabalhando com marcenaria. No seu aniversário de 6 anos, a mãe, de origem francesa, presenteou-o com um bancada de carpinteiro, com a qual começou a fazer esculturas e móveis. “A partir dos 15 anos, os trabalhos são bons. Não teria problema em expô-los de novo”, relata com naturalidade.

O vínculo com a Buenos Aires natal ainda é forte. Ele volta com frequência para ver como suas obras são vistas sob a óptica da argentina. No fim das contas, há valores e concepções que só se encontram na terra natal. Para Reinoso, também é importante voltar à capital argentina para conferir se seu pensamento está aberto aos dois continentes, que são, para ele, duas referências. Os Bancos Spaghetti, espalhados por diversas galerias do mundo, parecem ter cumprido esse objetivo. “É a primeira vez que tenho um trabalho lido de modo tão claro e semelhante na América do Sul e na Europa.” 

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