O restauro inusitado de uma casa na Toscana
Até para dois arquitetos estrelados, como os italianos Doriana e Massimiliano Fuksas, reformar e decorar uma típica casa de campo toscana sem cair no óbvio foi um desafio
O casal Doriana e Massimiliano Fuksas, dono de uma trajetória profissional respeitada mundo afora, está acostumado a projetos grandiosos de linhas futuristas, a exemplo do Terminal 3 do Aeroporto Internacional de Shenzhen, na China, da loja Armani de Nova York, com sua incrível escadaria, e do pavilhão de aço e vidro que sedia o Salão do Móvel de Milão. Entretanto, um dos maiores desafios enfrentados pela dupla foi o restauro minucioso e apaixonado de uma antiga construção, na região do Chianti toscano, na Itália.
Como os arquitetos venceram o desafio do restauro
No topo de uma suave colina, no vaivém dos caminhos entre vinhas, bosques e oliveiras, aparece uma fachada alongada erguida com tijolos e pedras. A casa, transformada em morada de campo, parece ser capaz de contar uma história preservada através dos séculos. Ali, as construções originais eram destinadas ao uso militar e ao religioso, mas a partir de 1900 começaram a ter uma função rural. Sobre este conjunto arquitetônico, Doriana explica: “O núcleo mais antigo, medieval, remonta ao quatrocento e deve ter sido uma abadia, com estrutura em forma de torre. Já as outras partes, erguidas no início de 1800, tinham uma função agrícola”. A proposta do projeto foi unir o edifício principal a outra construção menor por meio de uma escadaria de terracota, que remonta àquelas das aldeias toscanas, em leve declive.
Concluída a reforma, os dois edifícios formaram uma pequena vila: o curral, que mantém o revestimento antigo de tijolos, e o terraço, com o pergolado de glicínias de onde a vista ora intercepta o campanário, ora se perde no horizonte. Todo o projeto de adaptação do casarão foi pensado com respeito e harmonia com o entorno. “A arquitetura é essencial em nosso trabalho e o amor que temos por peças de design é o mesmo que temos pelo trabalho artesanal. Na parte interna, optamos por abrir e tornar tudo mais amplo. E para a ambientação escolhemos móveis de origens diferentes”, diz Doriana. O living tornou-se um grande espaço, com a estrutura aparente feita de tijolos caiados que desenham o caminho pelos arcos. “Optamos por manter o tratamento das paredes com cal e, assim, preservar o efeito das texturas que sinalizam a passagem do tempo”, esclarece. Os novos tijolos do piso apresentam um tom ligeiramente mais claro que a cor tradicional a fim de trazer mais luminosidade ao lugar.
Portas antigas e artesanais, vindas do Marrocos, foram fixadas nas paredes como obras de arte. É na sala, onde o jantar se integra ao estar, que a criativa mistura de estilos se torna mais ousada. Peças de design consagrado pontuam os espaços ao lado da mobília trazida das muitas viagens do casal. “Às vezes, em nosso trabalho, surgem antes os objetos e depois o projeto.
Nesta casa, particularmente, nada foi especificado, tudo foi achado ou reutilizado”, diz Massimiliano. “As diversas procedências das peças não nos confundem. Formam um conjunto contínuo e rico em referências, em que cada elemento tem seu destaque. Tudo isso dá origem a ambientes que refletem o campo redescoberto e reinventado”, conclui o arquiteto.