Entrevista com Frank Zierenberg, coordenador do IF Design Awards
Frank Zierenberg falou com a repórter de CASA CLAUDIA sobre a CeBIT, feira de comunicação e tecnologia, e sobre o design brasileiro
Durante minha visita à CeBIT 2012, que aconteceu em Hannover, aproveitei para bater um papo com o designer alemão Frank Zierenberg, coordenador do iF Design Awards e responsável pelo relacionamento com o Centro de Design, do Brasil.
Em linhas gerais, fale a respeito da CeBIT e da importância da participação dos premiados do IF Design Awards nesta feira.
Nós fazemos parte da CeBIT desde que ela começou a existir. Nós sempre expusemos na feira e muitos dos nossos clientes também expõe na CeBIT. Por isso é muito importante para eles que nós estejamos na feira. E, é claro, além disso, a feira também tem muitos visitantes, que também são interessantes para nós, como pessoas de negócios muito importantes e visitantes que são do interesse dos nossos membros.
O que você acha do destaque dado ao Brasil na CeBIT e, na sua opinião, qual é o papel que nosso país tem conquistado internacionalmente?
Eu acho que o papel internacional que o Brasil alcançou nos últimos anos é bastante impressionante. O mundo estava de olho no Brasil há mais de 20 anos e sempre houve a expectativa de que o Brasil poderia crescer e se desenvolver de forma bem sucedida. Mas, eu acho que até cinco anos atrás, isso nunca alcançou uma dinâmica forte. Mas agora o mercado brasileiro e as empresas brasileiras se tornaram fortes competidoras e estão ficando mais fortes a cada dia. Então eu acho que foi a decisão correta a CeBIT ter feito uma parceria com o Brasil, ter o Brasil como país parceiro. Existe um motivo pelo qual o Brasil é um dos BRICS e todo mundo estar com olhos voltados para o Brasil. É um país com uma história cultural rica e é um grande mercado, é claro, para muitas empresas multinacionais. O Brasil tem muito a oferecer ao mundo.
Você esteve algumas vezes no Brasil. Em suas últimas visitas, o que o impressionou mais no nosso design?
O design brasileiro, do meu ponto de vista pessoal, é muito baseado no trabalho manual e na improvisação. Aqui na Europa você tem um nível técnico e padrões muito altos – que vocês talvez ainda não tenham no Brasil em grande escala. Mas os brasileiros são mestres da improvisação e em tirar o máximo proveito, fazer o melhor com o que está disponível no mercado e em combinar artesanato com produção industrial. Por exemplo, empresas como a Lumini, que tem participado do IF Design Awards há um bom tempo, começaram com uma grande quantidade de produtos manuais e agora está migrando para meios de produção automatizados de suas luminárias. Eu acho que isso é um desenvolvimento muito interessante. Mais uma vez, o Brasil tem muito a oferecer ao mundo, muitos trabalhos manuais, manufaturas e técnicas interessantes que realmente podem trazer algo de novo para a comunidade do design.
Lembrando os vencedores brasileiros nas categorias que envolvem decoração e design, o que você tem a dizer sobre os trabalhos apresentados?
Você consegue ver que os brasileiros, alguns dos vencedores brasileiros, tem um alto nível de qualidade de manufatura, mas não manufatura automatizada, e sim trabalho manual. A minha recomendação pessoal para os designers brasileiros seria: não percam isso. Combinem isso com a automação. Por exemplo, na Europa, os italianos conseguiram resguardar suas tradições manuais por muito tempo, coisa que outros países perderam durante a industrialização. Eles ainda têm uma base forte em cerâmicas e marcenaria. E agora eles podem usar isso em um nível internacional, combinando essas técnicas com produção industrial. É surpreendente, por exemplo, que os irmãos Campana tenham seus produtos fabricados principalmente por empresas italianas – porque eles estão fazendo exatamente isso, combinando trabalho manual com automação.
Você gosta, em especial, de algum trabalho brasileiro apresentado?
Eu gosto de muitos deles pessoalmente. A IF sempre tem de se manter neutra e, por isso, nós convidamos um júri de experts internacionais em design para tomar as decisões – nós somos os organizadores. Ao nível pessoal, eu diria que as placas de cimento, da Renata Rubim, são muito interessantes porque combinam trabalho manual com produção em massa. É uma padrão muito interessante, que você pode combinar em vários formatos. De certa forma, é tradicional e moderno ao mesmo tempo. Eu acho isso muito interessante.
Por fim, o que você acha do Favo Verde, de Eduardo Franco Queiroz?
É um dos nossos vencedores Gold. E os vencedores da categoria Gold são os 100 melhores produtos que foram escolhidos entre os mais de 4 mil participantes. Nós tivemos 4264 participantes e 100 ganharam o Gold Award. E o Favo Verde é um deles. Ele simboliza o que eu disse: usa materiais naturais, é baseado em trabalho manual, mas tem produção em massa. É ecológico, utiliza um material que é comum no Brasil, mas que não é muito usado na prática e, se aplicado às nossas cidades, tornará o clima mais agradável e o ambiente mais bonito. Mas também tem aspectos funcionais, por exemplo, refrigerar um edifício, reduzir as emissões de CO2 dentro das cidades e isso é realmente é um bom design: combinar beleza com funcionalidade. E esse é um dos motivos pelos quais esse trabalho recebeu o Gold Awards.