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Conheça a casa e o ateliê do artista Tunga

A casa e o ateliê de Tunga refletem seu impressionante e intenso processo de criação e deixam claro: vida e obra, aqui, caminham juntas e totalmente interligadas.

Por I reportagem Simone Raitzik I fotos André Nazareth
3 out 2013, 12h19

O contato no e-mail, Joatunga, não é à toa. O trocadilho com Joatinga, região do Rio de Janeiro à sombra da pedra da Gávea e onde ficam o ateliê e a casa de Tunga, distantes poucos quilômetros, veio a calhar com a sensação que se tem ao adentrar seus domínios. A paisagem exuberante, típica da floresta da Tijuca, faz parte do contexto: a montanha está do lado, o verde é farto e o clima é de interior. “Já foi muito mais roça”, diz Tunga, que mora ali há cerca de 30 anos e foi vizinho de Rubens Gerchman e de José Zanine Caldas.

“Agora, asfaltaram a rua, que era de terra batida, cortaram árvores centenárias, e fico só pensando aonde isso vai parar.” Independentemente da revolução na vizinhança, a impressão que se tem é que Tunga conseguiu desenhar no lugar seu universo muito pessoal. E sabe disso. Sua casa, na verdade, se divide em três partes: a moradia em si, o anexo de hóspedes e o espaço psicoativo, como chama um pavilhão logo na entrada. É neste último que ficam espalhadas várias de suas obras – umas prontas, outras embrionárias – e onde reúne objetos que garimpa em viagens ou, simplesmente, entre as árvores do jardim, como as cabaças que caem dos galhos e se avolumam no piso de terra batida. Essas peças simples ou elaboradas, rústicas ou sofisticadas o inspiram e servem de referência, pois são impregnadas de histórias. 

“Sou um colecionador que vai juntando e conectando objetos, pedras, vidros, cristais. A partir daí, eles ganham uma forma única e vida própria. Passam a fazer sentido”, avisa, mostrando um cristal na forma de garrafa, com uma gota dentro, em cima da mesa de centro. “É uma espécie de elixir. Ou um olho de 360 graus que presenciou a Pangeia. Dá para imaginar?” Dá e há muito o que ver por ali. E Tunga abre as portas sem reservas de seu acervo, com uma generosidade de quem está acostumado a estabelecer parcerias. “Vários convivem com a construção dessas peças. O processo funciona como em uma orquestra, onde o conjunto é fundamental. Meu espaço está liberado para quem souber brincar”, revela. Brincar pode significar uma performance de tempos em tempos ou apenas uma leitura ou um papo entre amigos. “Meu trabalho não é apenas braçal. É também mental e inclui filmes, escrituras, textos, desenhos. Uso as linguagens mais diversas, por isso preciso de um universo tão amplo”, diz ele, explicando que seu tempo é dividido quase meio a meio entre o Rio e as viagens frequentes, seja para exposições, palestras, montagem de obras, seja para temporadas em Paris, onde morou por alguns anos na década de 1980.

Quem entra no ateliê, um galpão aberto dividido em vários níveis, projeto da arquiteta Nanda Eskes, logo sente a vibração de produção no ar. Há um frenesi de materiais por ali, de ímãs a cerâmicas, de pedras a resinas, de troncos a metais enferrujados. Peças entrando e saindo, sendo transportadas para exposições pelo mundo afora. São mais de 15 pessoas trabalhando continuamente, como uma grande sinfonia estética comandada pelo produtor chefe, Fernando Santana. “Muitas das obras que apresento refletem o resultado de vários anos de trabalho. E o mais impressionante é que de 80 a 90% do que faço não chega até o olhar do público. Fica por aqui, são experiências. O ateliê não para, mesmo quando estou viajando”, afirma Tunga. Por quê? “Vejo a arte como atividade produtiva. Fazer arte é o que me interessa. Como um músico, pratico oito horas por dia para me apresentar de tempos em tempos. O que aparece para o mundo é apenas a ponta de um enorme iceberg”, diz ele, que tem a agenda lotada até o final de 2014, com mostras em Oslo, Paris, Nova York, Berlim, Londres; um livro recém-lançado sobre sua obra, Narrativas Ficcionais de Tunga, adaptação da tese de doutorado de Marta Martins; além de ocupar uma nova galeria só sua (a segunda), inaugurada no ano passado em Inhotim, MG. “Minha formação é de arquiteto e sabia bem o que funcionaria ali: vidro, metal e madeira. E, desta vez, a ideia é variar de tempos em tempos o que está exposto. Um acervo mais dinâmico.” Vale lembrar que Inhotim deve muito de sua criação a Tunga. Foi ele que, em um encontro em sua casa, há muitos anos, convenceu o empresário mineiro Bernardo Paz a vender sua coleção de arte moderna e investir em um acervo mais contemporâneo. O passo seguinte foi incentivá-lo a montar, em uma fazenda próxima de Belo Horizonte, espaços maiores, sob medida para obras de caráter sinfônico, como instalações. Paz topou e se engajou. Nasceu assim o Instituto de Arte Contemporânea e Jardim Botânico Inhotim. “É um lugar único, com ação social efetiva e uma conjunção singular de arte com sociedade”, afirma. São muitas as histórias que envolvem o mundo e a incrível trajetória de Tunga. Para os interessados, o caminho é longo, mas extremamente rico. Comece por Inhotim, leia o livro, mergulhe em sua obra… e boa viagem.

 

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